04. Eu quero outra coisa.

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— Outro déjà vu... — ouvi ele resmungando para si mesmo enquanto estava parado esperando que eu abrisse a porta.

Dessa vez tive que concordar com ele, mesmo mentalmente. Mas não era um déjà vu comum, nós realmente já tínhamos vivido essa mesma cena, só em situações diferentes.

Ainda pelo olho mágico, vi Zabdiel dando meia volta e indo até o corredor com as mãos no bolso, depois voltando e ficando parado como antes, dando mais uma batida na porta que me fez pular de susto.

Eu estava cansada, o sono tomando conta do meu corpo, precisava de um banho e tinha visto de Zabdiel machucado horas atrás, mesmo depois de não ter o visto por um ano. Definitivamente, não era o melhor momento para conversar com ele, ou seja lá o que ele queria fazer. Mas algo fez com que eu involuntariamente destrancasse a porta, abrindo uma fresta dela, deixando que ele abrisse o restante.

Dei um passo para trás enquanto a porta se abria e só assim consegui ver Zabdiel com a cabeça abaixada, que se levantou no momento em que me viu também. Nossos olhares se cruzaram e não conseguimos desviar. Nosso silêncio nunca era constrangedor, e mesmo depois de um ano, ainda não era.

Alguns passos e ele estava no meu apartamento. Empurrou a porta com a mão, fechando-a sem dificuldade. Zabdiel me olhava como alguém que quisesse procurar e achar alguma mudança em mim, percorria o olhar desde o meu cabelo, descendo para meu rosto, e então para meu corpo.

Não me senti envergonhada, estava fazendo o mesmo com ele. Seu cabelo estava mais claro, o platinado estava tomando conta de todos os fios. Nunca pensei, mas gosto mais dele assim, a cor combinou. Acho que ele tinha perdido um pouco de peso, mas pode ser só impressão pelas roupas que estava usando. Ao contrário da primeira vez que apareceu ali, não estava usando nenhuma touca, mas o sorriso continuava igual.

— Você quer água? — perguntei. Ri logo em seguida por lembrar que eu já tinha dito essa mesma frase.

Após algum tempo quieto, apenas me olhando, ele respondeu.

— Eu quero outra coisa.

Quando senti o toque dos seus dedos em meu rosto, paralisei por alguns segundos. Minha respiração ficou acelerada, não conseguia mais controla-la. Fechar os olhos foi involuntário. Minhas mãos que antes estavam na lateral do meu corpo, subiram um pouco até chegar nos braços de Zabdiel. Deixei elas ali, apenas sentindo sua pele, acariciando-a de vez em quando.

Nossas respirações se misturavam, mesmo se eu quisesse não poderia explicar o que estava sentindo. Nem eu entendia. Sentia um frio no estomago, mas ao mesmo tempo era como se nunca tivéssemos ficado tanto tempo longe. Parecia certo.

Dei dois passos para trás, foi instintivo quando senti sua mão em meu pescoço, colocando meu cabelo de lado. Em contra partida, ele veio para frente, como se estivesse me encurralando. Eu e ele sabíamos que não precisava disso.

Seu olhar era penetrante e fazia com que eu automaticamente olhasse para sua boca entreaberta, a respiração pesada e inconstante. Bati minha perna no sofá e se Zabdiel não tivesse segurado minha mão, teria caído para trás.

Ri envergonhada e ele sorriu também, fazendo suas covinhas aparecerem. Mesmo não precisando, ele ainda estava segurando na minha mão. Olhei para baixo e reparei nisso, sentindo meu coração se acelerar ainda mais.

Sentia que tinha um imã na minha mão, me puxando cada vez mais e mais perto dele. Quando dei por mim, nossos corpos estavam virando quase um só. A intensidade podia ser sentida a longa distância, a saudade tomando conta de nós dois. Éramos bons sozinhos, mas juntos éramos melhores ainda. Tudo se encaixava, sentia como se fôssemos um quebra cabeça que só poderia ser completo se estivéssemos juntos.

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