39. Caixa misteriosa.

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Depois de dez dias indo ao mesmo hospital, mesmo andar, mesmo consultório todos os dias, senti como se tivesse voltado a trabalhar ali. Menos a parte do tempo, porque a consulta que Zabdiel tinha durava menos que quarenta minutos e meus plantões normalmente eram de doze horas.

Com Zabdiel ao meu lado, subíamos as escadas para o segundo andar, onde o consultório do doutor Keneddy se encontrava, já que os elevadores sempre estavam muito cheios. Cumprimentava diversas pessoas que estavam em horário de trabalho, desde enfermeiras à médicos e anestesistas. Foi então que, andando naqueles corredores, percebi que eu queria muito trabalhar ali. Meu estágio não foi um dos melhores, acredito que nenhum realmente seja, mas me tornou a profissional que sou hoje, com consciência médica e humana que tenho. Era eternamente grata por isso.

— Tá tudo bem? — ele perguntou, segurando firme minhas mãos para que eu parasse de andar — A sala é aqui, né?!

Olhei para frente e realmente, era ali. Balancei a cabeça concordando e ameacei bater na porta, mas Zabdiel se colocou à minha frente, me impedindo.

— Você não respondeu...

— Respondi sim, é aqui a sala.

— A outra pergunta... — rolou os olhos, fazendo graça.

— Estou sim, só um pouco pensativa a respeito do que quero fazer no futuro... — respondi, ficando ainda mais pensativa — Depois você vai comigo no setor administrativo?

Ele concordou, dando um beijo na minha bochecha e saindo da frente da porta para que eu pudesse bater nela. A partir daí, a consulta se sucedeu como todas dos outros dias. Zabdiel era examinado, respondia algumas perguntas e doutor Keneddy anotava tudo em um relatório.

— Bom, depois de acompanha-lo durante esses dez dias, fico muito feliz com a sua melhora significativa e de sua recuperação, Zabdiel. — ele disse, terminando de anotar alguma informação no receituário — Estou felizmente surpreso por isso, para falar a verdade.

Zabdiel me olhou e eu fiz o mesmo, parecia que tinha sido combinado, mas não foi. Eu via a felicidade e o alivio em seu rosto e o meu provavelmente estava igual, ou até mais emotivo.

— Vocês não vão precisar vir ao hospital todos os dias, mas ainda quero acompanhar sua recuperação em longa escala, ok? — concordamos — Vou cortar dois dos seus remédios, mas quero que você ainda tome as vitaminas pela manhã. Você perdeu muitos nutrientes enquanto estava desacordado e seu corpo vai levar um tempo para voltar a produzi-las naturalmente.

Pela primeira vez das dez consultas percebi Zabdiel realmente prestando atenção, sem estar de saco cheio de estar ali. Ele sabia que era necessário, mas odiava ir ao hospital. Diferente de hoje, que estava mais atento que eu as informações que nos eram passadas.

— Pode voltar a fazer atividades físicas, mas nada tão exaustivo, vá com calma. — o médico fazia riscos em tópicos do relatório que já tinha falado — Agora, uma última coisa, talvez a mais importante de todas... — ele deixou a prancheta em cima da mesa e cruzou as mãos em cima da mesma — Como eu disse, sua melhora foi expressiva, mas observei que uma coisa não mudou. — ele fez uma pausa e as mãos de Zabdiel nesse momento procuraram pelas minhas — Você ainda não se lembrou de mais ninguém?

Ah, esse assunto. Eu pensei diversas vezes em tocar nele em casa, durante os jantares ou no meio do filme, mas eu sabia que isso deixava Zabdiel extremamente desconfortável, então sempre desistia e esperava por um momento melhor. O problema é que esse momento melhor nunca chegou.

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