29. Naya.

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Depois de alguns minutos andando em linha reta, comecei a avistar algumas lojas e restaurantes, então deduzi que estava no centro da cidade. Comprei um sorvete para forrar o estômago e me perdi entre tantas lojas interessantes. Comprei o presente de Naya na última loja em que entrei, uma boneca de pano gigantesca. Foi engraçado voltar andando com ela para casa de Zabdiel.

Já haviam se passado duas horas desde que eu saí. Acabei esquecendo o celular lá, então mesmo se ele quisesse me ligar, eu não atenderia. A festa iria ser as três da tarde, então daria tempo de me arrumar com calma.

Na rua de Zabdiel, consegui enxerga-lo sentado na calçada, com uma bermuda jeans e camiseta branca. Simples, mas até assim ele conseguia se destacar. Estava com um boné também, para tapar seu rosto do sol. Quando ele me viu, veio ao meu encontro. Não soube se ele estava bravo ou aliviado por me ver, mas ele acabou rindo bastante vendo meu esforço para levar a boneca no braço, porque ela era quase maior do que eu.

— Você disse que ia comprar um presente, não um cadáver... — zombou, já que o embrulho estava tão medonho que realmente parecia um cadáver.

Ha, ha, ha. — fingi uma risada sem graça — Acho que ela vai gostar, não vai?!

— Vai, claro que vai. Naya é maluca por bonecas. Mas você sabe que não precisava, né?! Já comprei uma bicicleta para ela.

— Você disse bem, você comprou, não eu. — bati o pé como uma criança birrenta — Conversou com a sua mãe?

— Não tinha nada pra conversar, Mad. — respondeu prontamente, levando a boneca para dentro da casa. Eu esperei fora, porque senti que a conversa que teríamos tinha que ser longe de sua mãe.

Ele voltou segundos depois, me olhando sem entender o que eu queria.

— E então...? — dei a deixa, mas ele fez cara de desentedido novamente — O motivo da briga, Zabdiel! Não é por eu estar aqui, né?!

— Não, não é, corazón. — quem respondeu na verdade foi Noemi, pegando nós dois de surpresa — Meu filho é muito... — eles se entreolharam, sabendo o que ela estava se referindo — Teimoso, digamos assim. Ele acha que está fazendo o que é certo, em alguns momentos até acha que pode se virar sozinho, mas ninguém pode. Não totalmente. 

Se antes eu já não estava entendendo, agora piorou. Mesmo assim, Zabdiel parecia saber bem o que sua mãe quis dizer.

— Fico feliz, então. — respondi, abrindo um largo sorriso — Obrigada por me receber! Nem cheguei a te agradecer, Noemi.

— Não precisa agradecer, cariño. Fico feliz que Zabdiel tenha deixado o amor entrar em seu coração.

Senti os braços de Zabdiel em minha cintura, me puxando para um abraço. Entrelacei os meus em seu corpo também, sentindo um beijo estalado na minha cabeça.

Algumas horas depois, estávamos devidamente arrumados para a festa de aniversário de Naya, que seria em campo florido e enorme. Pelo menos foi o que Noemi explicou. A bicicleta que Zabdiel disse que era seu presente já estava com a sobrinha, porque ela insistiu que precisaria recepcionar seus convidados assim.

Chegando lá, meu estomago gelou por conhecer apenas duas pessoas na festa, sendo que chuto, no mínimo, duzentos convidados. Quando cheguei com Zabdiel, nossas mãos entrelaçadas pareciam ser um diamante que reluzia nos olhos dos convidados, já que todos prestavam atenção nesse detalhe.

— Eles provavelmente estão falando sobre como você está bonita. — ele falou baixo, virando a cabeça para mim.

Olhei de volta, sorrindo e sentindo que estava pronta para isso.

Fui conhecer Naya quase na metade da festa, porque de acordo com sua mãe, ela não parava de brincar nos brinquedos infláveis.

Ao ver Zabdiel, a pequena garotinha se pôs a correr em direção a ele, que percebendo isso, se levantou da cadeira e ajoelhou-se no chão, para ficar quase do mesmo tamanho que ela. Se ele não tivesse preparado, garanto que os dois iriam parar no chão por causa da força que Naya colocou ao abraçar o tio.

— Tio! Você veio! — ela disse, ofegante e se reconfortando naquele abraço.

— Claro que vim! Te falei que viria. Gostou do presente?

Ao ouvir essa palavra, seus olhinhos se acenderam e ela começou a falar do quanto amou a bicicleta, que adorou a cor rosa dela, mas que também gostou dos detalhes em preto. Enquanto eles conversaram, fiquei hipnotizada no assunto, mesmo sendo tão banal que ninguém mais prestava atenção. Naya, até então avulsa a mim, de repente chocou seus olhos contra os meus, os arregalando depois, saindo do colo do tio e parando na minha frente.

— Naya... — Zabdiel de virou de frentre para mim, tendo as costas da sobrinha a sua frente — Essa é a Madison, minha namorada.

Por alguns segundos cogitei a ideia de que ela ficaria enciumada, ou choraria por não me conhecer, mas Naya me surpreendeu. Crianças sempre são assim. Ela se jogou em mim do mesmo modo que fez com Zabdiel, mas como eu não estava preparada, quase que a cadeira em que eu estava sentada virou. Foi Zabdiel que ajudou e nos puxou de volta.

— Sabe aquela boneca enorme que você amou? — Noemi, sua avó, chamou a atenção da garotinha — Foi ela quem deu.

— Mesmo, tia? — respondeu me olhando, com um sorriso enorme no rosto, deixando seus olhos quase fechados.

— Mesmo, linda. Que bom que gostou. Foi um sufoco traze-la andando.

Senti seus bracinhos em volta do meu pescoço, me abraçando forte. Passamos mais um tempo conversando, ela pediu para que eu fizesse tranças em seu cabelo, mesmo sua mãe pedindo para que ela me deixasse em paz. Mas, na verdade, quem estava amando a situação era eu. Depois, ela se perdeu entre os brinquedos infláveis de novo.

Voltamos para a casa de Zabdiel já de noite. Noemi insistiu para que pegassemos o voo amanhã cedo, e mesmo eu sabendo que me atrasaria, não consegui dizer não. Tinha sido tão bem recepcionada, por ela e sua família, que eu pareceria ingrata se negasse.

— Mas amanhã bem cedo, Zabdiel! — falei, trocando de roupa no quarto. Ele estava deitado na cama, sem camisa, apenas com um short de dormir.

— Tudo bem, tudo bem! Já troquei a data e o horário. — ele virou a tela do celular para mim, mesmo eu não enxergando nada — Nosso voo ficou para amanhã às seis da manhã. Vamos chegar às nove.

Depois de escovar os dentes, fechar minha mala e a mala de Zabdiel também, deitei ao seu lado, me acomodando em seu peito, cruzando nossas pernas umas nas outras.

— Zabdiel? — chamei algum tempo depois — Está acordado?

— Mais ou menos... — ele se mexeu na cama, me puxando ainda mais para perto — Mais para menos, por que?

— Queria te agradecer pela viagem. Ficar longe me fez perceber de que minha carreira é sim muito importante, mas família é essencial para que fiquemos sãos, com a mente limpa e o coração ainda mais.

— Eu quem deveria te agradecer por ter vindo aqui. Não sei o que fiz pra te merecer, mas seja o que for, sou muito grato porque trouxe você para minha vida. — respondeu serenamente.

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