06. O porto riquenho voltou.

765 92 153
                                    

Duas semanas haviam se passado desde que Zabdiel apareceu em casa e que tivéssemos aquela conversa sobre não contarmos para ninguém sobre o que tinha acontecido. Eu tinha vontade de contar para Emma e Christopher toda vez que conversava com eles, mas mordia a língua sempre, não queria envolve-los de novo. Eu nem sabia o que eu e Zabdiel estávamos fazendo.

Não era simples daquele jeito. Ele apareceu no meu apartamento e no segundo seguinte já estava tudo certo, éramos os mesmos de antes.

Não, não éramos. Um ano é tempo, tempo demais. Ele está diferente, e eu também. Mas tenho que admitir que quando estamos juntos parece natural, sinto como se existisse uma força maior me puxando para ele.

Tinha colocado na minha cabeça de que Zabdiel era passado, mas agora ele definitivamente não era. Estava mais presente do que nunca, conversávamos o tempo todo. Ele voltou a me mandar vídeos e fotos do dia a dia da banda, em entrevistas e promos. Eu mandava foto no ápice do meu surto no plantão, quase na hora de ir embora. A banda estava no Chile essa semana.

— Mad? — Matthew me chama e por alguns segundos esqueci que estava em seu carro — Você não ouviu uma palavra do que eu te disse, né?!

— Desculpa, estava lembrando do sermão que recebemos hoje da Dra. Florence. — menti, afastando Zabdiel de minha mente.

Olhei para o lado e Matthew dirigia de um modo leve, uma mão no volante e a outra para fora da janela. Nova York têm feito um calor fora do normal ultimamente.

— Relaxa, não tinha como sabermos que a paciente era alérgica ao medicamento quando a própria preencheu o formulário negando que possuía alergia. — tentou me tranquilizar.

Ele trocou as mãos. A que estava no volante pousou na minha perna e a que estava na janela foi para o volante.

— Estamos lidando com vidas, não é?! — ele assentiu, como se já não soubesse disso — Temos vidas em nossas mãos, Matt. Por que escolhemos essa profissão mesmo?

— Minha mãe diz que é porque nosso coração inunda bondade, então temos que aprender a passar isso para as outras pessoas. Ajuda-las, essas coisas. — respondeu sorrindo, acho que porque se lembrou da mãe. Eu apenas concordei.

Seguimos o caminho assim, conversando sobre os casos do hospital. Trocando informações, eu diria. Matthew tinha seus pacientes que os médicos residentes nos designavam e eu os meus, normalmente não ficávamos juntos, apenas nos trombávamos algumas vezes nos corredores.

Quando ele estacionou na frente do meu prédio, fiz como todas as vezes. Me inclinei até ele, dando um beijo em sua bochecha. Dessa vez ele subiu a mão das minhas costas até minha nuca, emaranhando a mão no meu cabelo.

Se fosse há uma semana atrás eu já estaria em seu colo. Mas eu não conseguia, não agora.

— Matt? — chamei enquanto sentia ele beijando minha orelha. Depois, ele beijou minha bochecha, até chegar no canto da minha boca. Vi ele mordendo o lábio inferior e logo colando os seus nos meus. Quando íamos aprofundar o beijo, o chamei de novo. Ele murmurou alguma coisa, então continuei — Hoje não.

Ele parou no exato momento em que ouviu a palavra não. Eu não tinha mais medo dele como das outras vezes, sabia que agora sim ele me respeitava. Ainda estava com o rosto muito próximo ao dele, então dei um beijo em seu nariz que o fez fazer carranca.

— Está tudo bem? — perguntou, fazendo carinho sem malícia no meu rosto.

— Sim, está. É só que...

— O porto riquenho voltou. — zombou. Eu não aguentei e ri — Você tem algo contra os americanos, Martínez?

— Tenho contra a maioria deles. — empinei o nariz e senti ele apertando minha cintura — Contra você? Não.

AmnesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora