CAP XXVI - Mentira do bem.

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"Não posso te forçar a gostar de mim na mesma intensidade que eu gosto de você. "

Ficamos nos entreolhando por algum tempo. Eu tentava absorver o que ela tinha me dito. Como assim não gostava dela na mesma intensidade? Era ao contrário.

Pensei que isso estivesse claro desde semana passada, quando dormi na casa dela sete dias na semana. Desmarquei balada, deixei Christopher na mão e trocaria qualquer outra coisa pelos dias que tive com ela. Foram os melhores sete dias que eu tive com uma única pessoa.

— Madison, eu... — Dei um passo para frente e dessa vez ela não recuou — Você não pode dizer isso, linda.

Ela fechou os olhos e percebi seu corpo relaxar. A bebida estava indo embora e deixando a pessoa sã com quem eu queria conversar. Levei minha mão em seu rosto e ela o apoiou sob a minha mão. Fiz um carinho gentil em sua bochecha e observava cada detalhe de seu delicado rosto.

— Me leva para casa? — Pediu abrindo os olhos e tirando seu rosto da minha mão — Eu estou cansada.

— Levo — Respondi instantaneamente — E a Emma?

— Ela deve estar com Joel.

Assentiu e caminhamos até o estacionamento onde meu carro estava. Andávamos lado a lado, mas quando tentei entrelaçar nossas mãos, ela cruzou os braços na frente do corpo. Tentei conversar com ela, mas só recebi respostas monossílabas.

Já dentro do carro, liguei o aquecedor e ela agradeceu de um jeito formal. Aquilo estava me matando.

— Prefiro que você grite comigo ao invés de ficar em silêncio. — Falei sem tirar o olho da avenida principal.

— Não sei o que dizer — Respondeu baixinho — Já disse que está tudo bem.

— Mas isso é o contrário de estarmos bem — Retruquei — Você nem está falando comigo.

Ela ficou algum tempo em silêncio. Seus dedos foram até o rádio, o ligando e deixando na primeira estação. Eu ouvia a música, mas era como se não entendesse nada. Não sabia o que fazer para ela conversar comigo.

— Você realmente se considera solteiro? — Ela quebrou o silêncio — Tudo bem se a resposta for sim, Zabdiel. Eu tive meu momento de ciúmes e estava com raiva, por isso fui para a balada. Mas agora passou.

— Não, Madison. — Repeti o que já tinha dito tantas vezes naquela noite — Não me considero solteiro. Não me interesso por mais ninguém além de você.

Percebi ela se arrumando no banco do carro e virando o rosto para a janela.

— O que eu disse na entrevista não significou nada. Respondi tantas vezes que estava solteiro que foi automático. A parte da festa, eu... — Na verdade essa parte não tinha muita explicação — Foi uma brincadeira. Não houve festa nenhuma, e mesmo se tivesse eu não iria. Não sem você.

— Ah. — Foi tudo o que ela me respondeu — Tudo bem você ir se quiser.

— Essa é a questão. Eu não quero.

Parei em frente ao seu prédio e desliguei o carro. Pelo silêncio de Madison eu teria que voltar e dormir no meu quarto de hotel bagunçado. Nossos olhares se cruzaram e ela inclinou o corpo até mim. Por um milésimo de segundo pensei que iriamos nos beijar, mas senti um beijo na bochecha.

— Amanhã a gente conversa — Disse abrindo a porta — Se cuida e obrigada pela carona.

Não pude responder porque quando me dei conta do que aconteceu ela já estava longe. Bati as mãos no volante porque tudo o que eu não queria era que ela dormisse mais uma noite com raiva de mim. Pensei em várias coisas para tentar amenizar, mas nada ajudava. Liguei para Joel e ele não me atendeu. Nem tentei os outros três porque provavelmente estavam em alguma festa. Liguei o carro e voltei a dirigir.

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