CAP XLI - Confusão interna.

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ZABDIEL

— Aeroporto, por favor. — Digo assim que me sento no banco traseiro do táxi.

O taxista apenas concorda com a cabeça e diz mais alguma coisa que eu não presto atenção. Ele que me desculpe, mas a última coisa que eu quero saber é sobre o clima ou os pontos turísticos de Orlando.

Compro minha passagem para Porto Rico no caminho e nem ao menos vejo valor ou assento, só clico em próximo horário disponível e finalizo a compra pelo celular.

Conforme o tempo passa, começo a prestar atenção no caminho e reparo que está demorando mais do que quando viemos do aeroporto há cinco dias atrás. Depois entendo o motivo. É porque estou sozinho.

Não tenho os meninos para me atazanarem o tempo todo e é claro, não tenho a companhia de Madison.

Madison. O nome que antes só de ouvi-lo já me deixava com uma ansiedade absurda de vê-la, ou simplesmente saber se ela está bem. A diferença é que agora eu só consigo associar seu nome a uma mentira.

Dentro de mim uma mistura de decepção e raiva se dividem e eu não sei qual é a predominante, mas sei que queria muito não estar sentindo nenhuma das duas coisas. Não é novidade que desde que conheci Madison eu fiquei mais leve, vendo graça nas coisas simples. Acho que agora tudo isso foi embora.

Eu não sei o que vou dizer para minha mãe ao chegar em Porto Rico sem nem ao menos avisa-la. Não que fosse necessário, só nunca aconteceu. Só voltava para casa quando estava de férias ou quando tínhamos shows ou compromissos lá, o que não acontecia com tanta frequência.

— Chegamos, senhor. — O taxista me tira do transe e eu preciso de alguns segundos para me situar. Balanço a cabeça e agradeço, tirando dinheiro da carteira ao ouvir o valor final.

Andando pelo aeroporto me sinto muito estranho. Sinto como se todos pudessem ver o que tinha acontecido comigo, como se eu fosse transparente ou algo assim e estivesse transparecendo a confusão interna que estava dentro de mim. Me sinto estranho também por não carregar mala e nenhuma mochila, mas pegar meus pertences foi a última coisa que eu pensei. Tiro o celular do bolso e digito uma mensagem rápida para Chris pegar minha mala e leva-lá para Nova York no voo de volta.

Cheguei com mais antecedência do que pensei, então depois de retirar minha passagem procuro uma cadeira vaga perto do meu portão de embarque. Sei que vou ficar os próximos quarenta e cinco minutos pensando em tudo que aconteceu e que mesmo tentando impedir, a primeira pessoa que eu penso é nela.

Nela que foi dona dos meus sorrisos, confissões, meus beijos mais sinceros e apaixonados, meus abraços mais carinhosos e me tinha por completo. Nela que tinha o poder de transformar meu dia, fazer com que eu corra atrás de pessoas com quem a banda trabalhou para conseguir reservar a cobertura mais concorrida da cidade para um jantar especial.

Olho para frente a fim de tentar espalhar meus pensamentos, passo a mão no cabelo e reparo em uma sorveteria. Rio sem humor algum ao ver o banner na minha frente, é inacreditável que uma garota qualquer segurando uma casquinha com sorvete de morango me faça lembrar de Madison só porque é o sabor favorito dela.

Ao lado da maldita sorveteria — não que ela seja ruim, só não estou em um dia bom — uma loja de itens para casa e a primeira coisa que vejo é uma pilha de travesseiros brancos.

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