26. Só é errado se alguém nos pegar.

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Na maioria das vezes, ao dormir, me pegava pensando em como seria se eu e Zabdiel namorássemos. Isso acontecia até quando estávamos separados, mesmo sendo com menor frequência.

Me questionava porque com Matthew as coisas só pioraram de vez quando ele me pediu em namoro. Não que antes fosse um mar de rosas, mas não chegava perto do que foi depois. E então repetia a mesma pergunta, dia após dia.

Será que Zabdiel mudaria? Eu mudaria? Será que as coisas seriam diferentes?

O fato é que eu só consegui me auto responder essa pergunta agora, um ano e meio depois. Costumam dizer que relacionamentos nunca são iguais, seja pelo lado bom ou ruim. Isso é completamente verdade, até porque ninguém é igual a ninguém, e se antes eu e Matthew namorávamos, foi em uma época totalmente diferente da de agora.

Não vou comparar um relacionamento ao outro, até porque seria injusto e idiota demais, mas posso dizer com toda a certeza que existe em mim que eu estou muito feliz com Zabdiel.

Nós não nos vemos todos os dias, mas não acho que isso seja um problema, pelo menos não agora. Estamos presentes de outras maneiras, por mensagens e ligações o tempo inteiro. Zabdiel sempre está interessado em minha rotina diária no hospital e eu, mais do que ninguém, pergunto sobre os projetos e as musicas novas.

As coisas mudaram um pouco no hospital também. Agora estávamos fazendo rodízios. É parecido com os de tráfego. Por exemplo, trabalho um dia todo para o próximo não. Com o final da faculdade, não tinha aula alguns dias da semana, então era nesses que eu trabalhava. Com Matthew a mesma coisa.

Com o final da faculdade, as coisas começaram a se apertar no hospital também. Daqui dois meses não seríamos mais estudantes, logo não poderíamos continuar no hospital. Não como estagiários, pelo menos. E o boato é que a administração contrata apenas um estagiário. Não que Matthew precise desse emprego pelo dinheiro, mas sei que ele quer ficar ali. O tanto quanto eu também quero. De todo modo, ficaria feliz com qualquer decisão.

Por causa do rodízio, depois da faculdade eu estava totalmente livre. Sai da última aula e fui direto para o estúdio de gravação que os meninos estão desde o começo do mês. Passavam dias inteiros ali, chegam ao amanhecer e saem quando já está noite. Sei que têm sido exaustivo, mas é o que eles gostam de fazer. E o fato de estarem produzindo e cuidando de cada detalhe do próximo álbum faz com que eles tenham uma dose extra de empolgação.

Cheguei em frente à gravadora e lembrei da primeira e única — até então — vez que estive ali, logo no início que conheci Zabdiel e os meninos. Voltei a realidade, segurando a porta para que um senhor saísse, aproveitando para entrar também. Não sei se me reconheceram, acredito que não, mas ninguém questionou o motivo de estar ali.

Andando pelo corredor longo, com as paredes pretas, ouvi a voz de Christopher claramente alterada, quase gritando. Franzi a testa sem entender o motivo, já que vi ele assim pouquíssimas vezes.

Você precisa contar, Zabdiel! — ouvi Chris, mesmo sem vê-los.

Fiquei quieta, chegando cada vez mais perto do final do corredor, para enxergar-los de vez. Erick deveria estar gravando sua parte, mas tinha parado para prestar atenção no que estava acontecendo. Richard estava no meio entre Chris e Zabdiel, servindo de obstáculo.

Christopher, você não tem o direito de se meter!

É para o seu próprio bem! — retrucou.

Zabdiel passou as mãos no cabelo por estar nervoso, sem responder nada. Foi aí que ele virou para trás e me viu. Seus olhos, já arregalados, ficaram maiores ainda. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes antes de dizer alguma coisa. Seu rosto estava pálido, como se ele tivesse visto um fantasma. Christopher desviou o olhar do meu, virando de costas e apoiando as mãos na parede que vidro que separava a área de gravação de onde estávamos. Richard tinha se jogado no sofá, claramente exausto pela discussão. Erick foi o único que me cumprimentou imediatamente, acenando de lá para mim. Retribui, com um sorriso amarelo.

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