CAP IV - Anjo da guarda.

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Saí do hospital com os olhos marejados, nem eu entendia o que estava acontecendo comigo. Zabdiel estava bem e Noemi estava com ele. Além do mais, não conseguiria sustentar essa mentira por tanto tempo. E nem queria.

Atravessei a rua e avistei uma cafeteria na esquina. Eu precisava comer alguma coisa ou desmaiaria a qualquer momento.

Depois de fazer o meu pedido, sentei em uma das últimas mesas e afundei meu rosto em minhas mãos. Já tinha perdido dois dias de aula na faculdade e isso era a última coisa que passava na minha cabeça. Eu, que sempre coloquei minha faculdade em primeiro lugar, a coloquei de escanteio.

Balancei minha cabeça e voltei a realidade.

Olhei para frente e percebi que não sabia nem que horas eram. Peguei meu celular e o liguei novamente, desencadeando mais de dez chamadas perdidas de Emma. Resolvi ignorar e tentar me distrair.

Abri o twitter e a timeline estava cheia de comentários sobre o acidente de Zabdiel. Será que elas já sabiam que ele estava em coma? Ou sabiam somente sobre o acidente?

Passei os olhos por alguns tweets que demonstravam o quanto Zabdiel era amado e como as pessoas queriam que ele se recuperasse logo.

CNCO tinha anunciado uma nova turnê que estava por vir, mas não disseram quando. Só esperava que Zabdiel se recuperasse a tempo. Ele ficaria de coração partido se não pudesse.

Entre tantos tweets, um me chamou atenção. Li e reli o mesmo tantas vezes que até me perdi.

Nele dizia que seja lá quem fosse a garota que tinha ajudado Zabdiel, ela era um anjo da guarda. Um outro tweet respondendo o dela dizia que ele provavelmente não conhecia a garota que tinha o ajudado, mas que deveria ser muito grato a ela quando acordasse.

De repente, descobri que essa garota tinha um apelido no fandom: anjo da guarda. Eu era o anjo da guarda, mas ninguém sabia.

Só parei de pensar sobre isso quando ouvi meu nome sendo chamado. Meu pedido estava pronto.

Levantei da mesa e enquanto caminhava, olhei para o enorme edifício em que o hospital se encontrava. Parei no meio da cafeteria e entendi que não conseguiria ir embora, mesmo se quisesse. Meu pensamento ficaria preso a ele o tempo inteiro.

Peguei meu café e pedi outro para viagem. Agradeci a funcionária e pedi desculpas pelas diversas vezes em que chamou meu nome.

— Tudo bem — Ela sorriu simpática — Você é uma das melhores que já passou por aqui. Tirando os médicos e enfermeiros, é claro.

— Como? — Fiquei confusa.

— Você não chorou. Só está...

— Triste. — Completei.

— Vemos de tudo por aqui. Esse é um dos contras em trabalhar em uma cafeteira em frente ao hospital. — Explicou.

Concordei com a cabeça e desejei um bom trabalho, afinal ela precisaria.

Saí do estabelecimento carregando dois copos de café e rezando para que eu não derrubasse nenhum. Entrei novamente no hospital e fui direto para o elevador.

Alguns andares acima, caminhei até o quarto de Zabdiel. Respirei fundo quando cheguei e a porta do quarto estava fechada.

Bati uma vez e rodei a maçaneta. Por uma fresta, vi que o quarto tinha, pelo menos, seis pessoas.

— Oi... — Disse, enquanto fechava a porta novamente — Trouxe um café, Noemi. Acho que você está precisando.

Ela aceitou, sem dizer nenhuma palavra. Apenas pegou o copo da minha mão.

Só após isso percebi quem eram as pessoas que estavam ali. Além de Noemi, estavam Joel, Richard, Christopher e Erick. Mas eles não pareceram se importar muito comigo. Não de primeiro momento.

— Como foi que isso aconteceu? — Joel estava sentado na poltrona em que eu estava há algumas horas atrás — Era pra ele nos encontrar em Los Angeles hoje.

— Não consigo ver ele assim. — Richard disse, se virando de costas e me encarando. Ele parecia cansado.

— Ela sabe o que aconteceu. — Noemi disse tão baixo que quase não consegui ouvir — O médico me disse que foi a Madison que o trouxe pra cá. E esteve com ele desde então.

Madison. Esse era meu nome. Todos os olhares estavam voltados pra mim.

— Ele ba-bateu a cabeça. — Gaguejei — Um ciclista passou ao lado dele e quando ele tentou desviar, não viu um outro ciclista que vinha logo atrás do primeiro. Foi aí que ele... caiu. Ficou desacordado desde então. — Respondi sentindo o peso das minhas palavras sobre o acontecido.

Um silêncio se instalou e eu não sabia se continuava falando ou me calava. Resolvi deixar o silêncio predominar.

— Madison? — Noemi me chamou — Podemos conversar?

Eu não sabia o que responder. Se eu dissesse que não, ela e todos desconfiariam. Por outro, se eu concordasse não fazia ideia sobre o que ela queria conversar. Era um beco sem saída.

— Claro — respondi após alguns segundos em silêncio.

Noemi caminhou até a porta do quarto e a abriu, fazendo sinal para que eu fosse na frente. Percebi que os olhares dos meninos estavam todos sob mim. E eu odeio ser o centro das atenções.

Logo após sair do quarto, me virei e fiquei de frente para Noemi, que estava fechando a porta silenciosamente, como se Zabdiel fosse acordar com o barulho. Talvez ele fosse.

Cruzei os braços e deixei meu olhar no chão, não conseguiria a encarar. Ela, ao contrário de mim, estava com o olhar pausado em mim, observando tudo o que eu fazia — ou não fazia.

— Bom, Madison... —  começou e eu senti o tom de sua voz. A conversa não seria amigável — Eu não te conheço e os meninos também não. Eu não convivia com Zabdiel diariamente, mas eles sim. E eles não te conhecem. Não ouviram seu nome nenhuma vez saindo da boca do meu filho. É estranho, não é? — ela soltou uma risada disfarçada de desespero.

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