CAP XXV - Intensidade diferente.

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Eu não estava bêbado, mas ela parecia estar a julgar pelo copo com apenas um dedo de uma bebida rosa florescente. Ela estava tão avulsa a toda a situação que mal percebeu quando cheguei perto.

Para falar a verdade, eu também não sei como fui parar ali tão depressa. O problema era o meu olhar fixo a mão do garoto em sua cintura. Emma não estava com ela. Só de pensar nisso sinto meu estomago embrulhar por imaginar em outra pessoa a beijando.

Como a pista de dança estava lotada, fiquei colado a uma outra garota, um pouco mais velha e morena. Só reparei nisso porque em certo momento ela ficou de frente para mim, impedindo que eu olhasse para Madison, que estava de costas.

A tal garota entrelaçou os braços no meu pescoço e como a vida gosta de me ferrar, foi nesse momento que Madison se virou e me viu. O sorriso que estava em seu rosto desapareceu no momento em que me viu e antes que eu pudesse falar alguma coisa, ela foi mais rápida.

— Olha quem chegou! — A voz embargada e lenta acusava o tanto que ela já tinha bebido — O solteiro do ano!

— Madison, eu... — Tentei me explicar. Tirei os dois braços da garota do meu pescoço e tentei chegar mais próximo a ela.

— Você o que? — Ela estava mais agressiva que o normal — Quantas baladas existe em Nova York? — Ela direcionou a pergunta para o garoto que estava com ela, mas não deu tempo para ele responder. Talvez fosse melhor assim — Milhões! — Queria dizer que não existia mais que milhões, mas continuei ouvindo — E você vem a mesma balada que eu? Para que, Zabdiel? Jogar na minha cara com quantas meninas você fica quando eu não estou perto?

As palavras me atingiram em cheio. A música alta atrapalhava e eu fazia força para ouvir o que ela queria dizer, porque Madison insistia em manter uma distância absurda de mim. Chegou até a colocar seu amigo entre nós, mas ele logo ficou atrás dela quando me viu olhando para ele com cara de poucos amigos.

— Eu vim atrás de você, Madison... — Tentei dizer calmo — Joel também está aqui!

— O que? Você meteu o Joel nessa também?

Enquanto tentávamos conversar, o DJ anunciava que a noite era com o tema música latina e eles teriam um convidado especial. A pista de dança ficou ainda mais cheia e eu sentia algumas mãos passando por minha cintura o tempo todo. Infelizmente nenhuma era a de Madison.

— Eu não ia deixar você sozinha e bêbada em uma balada estando brava comigo! — Tentei dizer e ela não me escutou.

— O que foi? — Ela se virou e soltou um riso debochado. Eu estava a um pingo de perder a paciência. Lidar com pessoas bêbadas nunca foi meu forte — Joel deve estar com Emma agora. Eles se conhecem a uma semana e ele não disse que era solteiro. E adivinha? Ele também não marcou uma festa particular com a entrevistadora!

Anuel foi anunciado como o convidado especial. Ele entrou cantando uma das suas músicas mais famosas, Ella Quiere Beber.

Porra, não tinha outra música não?

A batida começou e no momento que vi Madison dançando com os olhos fechados meu corpo estremeceu e eu tive vontade de dançar junto a ela, mas sei que isso causaria uma irritação ainda maior na garota. Eu não sabia se ia embora ou esperava ela parar de beber para que pudéssemos conversar.

"Pero esta noche está revelada;

Por culpa de un bobo que le hizo daño..."

Madison cantou junto com a música e olhou automaticamente para mim, como se soubesse que eu ainda estava ali prestando atenção nela. Eu estava com as duas mãos no bolso da calça e percebi quando ela me fitou com os olhos vermelhos de tanto beber procurando alguém. Implorei para que fosse Emma, mas eu sabia que não seria. Aquele mesmo cara que estava dançando com ela quando cheguei envolveu seu braço na cintura de Madison e ela colocou suas mãos no pescoço dele, ficando mais próximos do que eu queria ver.

"Ella quiere beber, ella quiere bailar;

Su novio la dejó y lo quiere olvida..."

Ela cantava com os braços no garoto e olhando para mim, direcionando isso para a única pessoa que ela sabia que entenderia o que ela estava querendo dizer. Soltei um riso sem achar graça e continuei a olhando. Senti alguém me cutucando e olhei para trás. Era a mesma garota que tinha tentado ficar comigo no começo, apenas balancei a cabeça em negação e voltei a olhar para frente. Encontrei Madison com a testa colada na do garoto e isso foi o bastante para mim. Não aguentaria mais ver ela me provocar assim.

— Chega, Madison! — Me enfiei no meio dos dois e o olhar de reprovação dela foi instantâneo – Você vai o que? Beijar ele?

— Bom... — Ela respondeu provocativa. Olhei para trás e o garoto já tinha sumido. Além de tudo é covarde — Não vou, porque você acabou de o assustar com esse surto.

Antes que eu pudesse responder, ela começou a andar provavelmente não sabendo para onde ir. Eu fui atrás sem nem pensar. Atravessamos tanta, mas tanta gente que eu já estava cansado.

Madison foi direto para porta de saída da balada, parando na calçada e olhando para o céu escuro e sem estrelas de Nova York.

— A gente pode conversar agora? — Arrisquei dizer depois de deixa-la alguns minutos em silêncio.

— Não.

E saiu andando me deixando parado igual um idiota de novo. Acho que era hora de fazer ela me escutar, mesmo sem querer.

— Eu vou dizer mesmo você não querendo me ouvir. — Comecei e ela não fez menção de me olhar — Eu fui um idiota, tudo bem? Sobre aquele lance de estar solteiro. Foi automático. É claro que eu não me considero solteiro.

— Você se considerou solteiro na festa?

— Que festa? — Perguntei confuso.

— A festa que ela sugeriu. Se divertiu? — Ela me olhou nos olhos pela primeira vez na noite.

— Você sabe que eu não fui — Cheguei mais perto e ela deu dois passos para frente, determinando a distância — Para com isso.

— Você já parou com tudo, Zabdiel — Ela retrucou fazendo aspas com a mão.

Sabia o que ela queria dizer com o "tudo". Com o que tínhamos.

— Quem era aquele cara? — Foi inevitável não perguntar. Não sabia que era tão ciumento assim até ver a cena anterior.

— E eu lá vou saber? — Revirou os olhos — Acho que o nome dele é Tyler. Conheci ele hoje pouco antes de você chegar e dar seu show. — Bufou — E o da entrevistadora?

— Megan, eu acho. Não importa. Você sabe que não importa, não é? — Tentei toca-lá mas ela deu outro passo para trás. Me olhou de novo e seus olhos estavam marejados. Ela realmente tinha ficado chateada com o que eu disse. — Me desculpa, Mad.

— Tudo bem. — Ela deu os ombros e voltou a andar sem rumo.

Fiquei sem entender o que a resposta dela significava porque sabia que seria mais difícil do que isso.

— Tudo bem? — Caminhei atrás dela um pouco mais rápido e segurei em sua mão, forçando-a a me olhar — O que isso significa?

— Que está tudo bem, Zabdiel — Ela deitou a cabeça como uma criança de oito anos de idade —Não posso te forçar a gostar de mim na mesma intensidade que eu gosto de você.

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