Já se passava das onze da manhã quando finalmente consegui acertar de forma simétrica a franja de meu cabelo castanho que costumava ficar em frente ao meu rosto, já fazia alguns meses que havia cortado meu cabelo abaixo do queixo mais seu crescimento extremamente rápido me irritava e ele parecia só parar de crescer quando já estava encostando na costela então optei por começar a cortar sozinha apenas sua franja para diminuir minha aparência infantil, não cortava como Iasmin com tesoura sem ponta em uma régua torta, mais sim com uma tesoura de cabeleireiro e bastante concentração e de preferencia de frente para um espelho circular na sacada do apartamento enquanto observava as pessoas que passavam na rua.
Observar São Paulo me fazia me perguntar que pessoa eu seria se tivesse nascido aqui, em um estado onde todos estão sempre com pressa e que as pessoas se vestem como reais pessoas de negócio como se todos os dias estivéssemos preste a enfrentar uma oportunidade milionária. A verdade e que eu sentia falta de fortaleza em metade do meu dia, quando deseja ainda ser uma adolescente perdida entre as ruas largas e barulhentas de meu bairro saudoso e com cheiro de comida oleosa, a dificuldade de adaptação e as paranoias que sempre estiveram presentes em minha vida e que ganharam uma proporção maior com a mudança, as meninas, a responsabilidade e uma futura carreira que eu queria a todo custo conquistar, seria mentira dizer que eu não estava exigindo mais do que eu deveria em um emprego que eu realmente desejo que não dure minha vida inteira.
Mesmo longe ainda tenho fortaleza comigo pelas frases diárias de auto ajuda que meus pais me manda, os áudios que compartilham comigo no grupo como se ainda estive lá comendo açaí aos domingo na praça e andando de bicicleta pelas ruas conhecidas, minha mãe continua controlando minha alimentação de longe e fazendo perguntas diárias, meus irmãos continuam compartilhando memes de longe e as coisas não parecem mudar. Mas a verdade e que mudaram, eu não sou mais uma adolescente e talvez não deveria me sentir tão perdida quanto me sinto.
A verdade e que meu peito aperta sempre que lembro do meu lar, porque de lá também saíram coisas ruins.
-Ei, você. - A voz de Aylin desfaz o silencio e seu corpo esguio ocupa o lugar vazio ao meu lado na apertada sacada.
-No que está pensando? - Ela pergunta enquanto tenta arrumar em um coque mal feito seus cachos desfeitos e volumosos.
-Sentindo falta de casa. - Respondi colocando um pedaço de pizza inteiro na boca.
-Se você estivesse em casa sua mãe não te permitiria fazer isso. - Ela disse me fazendo rir e pegando também um pedaço da minha pizza favorita, frango com cheddar.
-Com certeza não, ela sabe que eu me engasgo fácil. - Dei de ombros rindo.
-Também acho que ela não gostaria de te ver sozinha em casa jogada em um sofá vendo uma serie antiga qualquer e comendo pizza. - Aylin diz apontando para a tv da sala onde deixei One tree hill pausado.
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Enlace | Concluída.
Teen FictionLivro concluído | Em revisão. Isabela definitivamente não é mais uma das suas amadas protagonistas de filmes clichê. Após o fim do ensino médio a garota se muda para uma nova cidade para tentar viver o sonho de morar com as melhores amigas virtuais...