CAPÍTULO 03: Uma carta do papai

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SOPHIA

     ─ A CULPA É MINHA FUI em direção da garota, e assumi o erro. Eu estava ciente de que não tinha 100% de culpa nisso. Foi um acidente, uma coisa que aconteceu sem querer, mas também não queria que a garota levasse toda a culpa.

─ Amber? ─ a professora olhou para ela com um semblante confuso.

Amber olhou para mim com desinteresse e a professora me encarou com curiosidade.

─ A gente se bateu na escada. ─ disse.

─ Foi por isso que a maquete quebrou? E não por causa do seu cachorro?

Eu franzi as sobrancelhas e encarei Amber. Ela não tinha mencionado nada sobre mim, mas eu mesma que tinha acabado de me dedurar. Aposto que agora ela me achava mais estúpida do que antes.

─ Foi por causa do meu cachorro. Quando cheguei na escola e me bati com a...

─ Sophia. ─ cortei sua fala, rápido.

─ ...e a maquete quebrou mais ainda.

Eu já estava esperando por uma bronca quando a professora na nossa frente que aparentava ter um quarenta anos com seus cabelos amarrados e pretos, abriu um sorriso simples.

─ Tudo bem, Amber. Você pode remarcar a apresentação para outro dia. Não se preocupe, pode ir sentar.

─ Obrigada.

Antes de sair, a garota me lançou um olhar com uma expressão significativa que eu não soube identificar se era desprezo, pena, raiva ou cansaço.

─ Você é a aluna transferida, não é?

Eu me virei para a professora, que agora tinha sua completa atenção em mim.

─ Sim, senhora. ─ respondi.

─ Ah não, por favor, sem formalidades. ─ sorriu. ─ Pode me chamar só de Eduarda. Ou até mesmo Duda, me faz ficar mais jovem. ─ ela soltou um risinho e eu sorri.

Fomos interrompidas pela sirene do colégio, que a propósito, me fez tomar um susto bem grande.

─ Seja bem vinda, Sophia. ─ disse por último.

─ Obrigada.

Virei-me e encarei a sala quase cheia de alunos, alguns ainda estavam entrando. Me apressei em pegar um lugar na segunda cadeira e não demorou muito para as aulas se iniciarem.

As duas primeiras foram de matemática - um ótimo jeito de começar - e os outros períodos foram um revezamento entre biologia, redação e gramática.

Com sorte, consegui sobreviver até a hora da saída. Até. Porque foi quando eu estava no estacionamento esperando a minha mãe que aquele tal do William apareceu.

─ Ei, Sophie! ─ correu para me alcançar.

Suspirei e me controlei para não revirar os olhos.

─ Você chegou quase no meio do ano. ─ apontou para o fichário que eu segurava. ─ Posso te emprestar as anotações passadas, se quiser.

─ Sério? ─ me surpreendi.

Ele balançou a cabeça, concordando. Ok. Talvez eu esteja tendo uma ideia totalmente errada sobre ele. Talvez até seja um cara legal.

─ Isso seria ótimo. ─ sorri. ─ Eu ficaria muito agradecida.

─ É? O quão agradecida você ficaria?

Com um movimento devagar, ele tirou uma mecha grande da minha franja e a afastou.

─ Como assim? Eu não...

─ Posso te ajudar a estudar também, se quiser.

Deus! Tenho que começar a aprender a confiar nos meus primeiros instintos.

─ Bom... obrigada mas acho que consigo sozinha. ─ foquei meu olhar atrás dele e conseguir ver o carro vermelho da minha mãe, estacionando a alguns metros de onde eu estava. ─ Tchau.

─ Tchau, Sophie.

Solto um grunhindo e desisto de concertar o meu nome, que ele falou outra vez, errado.

Corro até onde o automóvel está e encaro minha mãe, pela janela, falando ao telefone. Assim que me vê, destrava o carro e sorri animadamente, fazendo sinal para que eu entrasse no carro.

─ Eaí...! ─ ela desligou o celular. ─ Como foi seu primeiro dia? Fez algum amigo intelectual para falar de coisas intelectuais com você?

─ Fiz. ─ joguei minha mochila no banco de trás. ─ O nome dele é Freud, ele é muito intelectual e ele também é totalmente imaginário.

─ Ele deve ser adorável. ─ ela sorriu, ligando o carro e dando partida.

Estiquei meu braço até o rádio, clicando no botão e pulando de canal até encontrar uma música legal, do Elton John. "Don't Go Breaking my Heart" - era uma música antiga, mas um clássico. Eu adorava.

─ Sabe... eu adoro o sr. John mas ainda prefiro Don't Go Breaking my Heart dos Breaksteet Boys.

─ Você tem que parar com essa obsessão por Boybands. ─ solto uma gargalhada e aumento o volume da música.

─ Ei, don't break my heart. ─ ela disse, se referindo a música e ao sentido literal da tradução.

Nós rimos e nos empolgamos cantando, que eu nem percebi o quão rápido tínhamos chegado em casa. Isabel estacionou e desceu do carro apressada, correndo para dentro de casa e dizendo:

─ Vou preparar alguma coisa pra comer, estou faminta!

Eu ri e depois de fechar a porta do carro, fui em direção à portinha do correio, para pegar as correspondências que sempre chegavam e a mamãe ignorava.

Em meio às contas de luz, energias e outras, encontrei uma carta do meu pai. Eu não o via desde os meus onze anos. Ele diz que é porque vive viajando - oque também não é mentira, porque toda vez que ele envia uma carta, o endereço do remetente muda - contudo, sei que o real motivo é porque ele a mamãe não mantém uma relação saudável.

Observo o remetente e dessa vez me surpreendo. Ele está aqui em Nova York, em Chicago. Nunca, em toda a minha vida, ele esteve em um lugar tão perto de onde eu estava antes.

Guardo a carta no bolso da minha mochila e entro em casa com as outras correspondências - se dona Isabel descobrisse sobre a existência dessa tal eu estaria frita.

Talvez essa mudança que eu disse que estava com medo, esteja vindo para o bem. Talvez fosse o destino. Eu iria realizar o meu sonho e encontrar o meu pai depois de seis anos.

Tudo que eu precisava era arrumar um emprego para juntar um pouco de dinheiro e torcer para que ele não mudasse de localização tão cedo.

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