CAPÍTULO 09: Uma mãe dramática

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SOPHIA

     EU TINHA IDO À BIBLIOTECA nacional daqui de Minnesota, que é um quarteirão perto da minha casa e aluguei alguns livros diferentes já que em breve eu começaria dar aulas ao filho da professora Eduarda.

Assim que chego em casa, escuto um som alto vindo da cozinha. E um cheiro muito ruim também. Tocava "The Power Of Five" da banda favorita da senhorita Isabel: Spice Girls.

Ajuda, ajuda, Soph! minha mãe berrou assim que me viu entrando.

Ela estava descabelada, com um avental de cozinha por cima da roupa e balançava freneticamente um pedaço de papelão na frente do forno - onde saía uma enorme nuvem de fumaça cinza.

Meu Deus, o que você fez aqui?

Corri até a porta da frente e peguei o extintor de incêndio que até então eu achava completamente desnecessário - e que nunca iríamos usar. Pelo visto, estava errada.

Corri de volta até a cozinha onde minha mãe continuava abanando o papelão para tentar acho que espalhar a fumaça e diminuir o fogo. Ela começa a tossir e eu me apresso em ler o adesivo colado no extintor. Retiro o pino na alavanca e o puxo para fora, apontando o bico da mangueira em direção ao forno, onde uma enorme substância é enviada e logo, o fogo é cessado.

Joguei o negócio vermelho no chão e tossi algumas vezes. Encarei a cozinha ao redor e observei minha mãe:

O que você estava tentando fazer? ─ perguntei, atônita.

Eu só estava tentando cozinhar alguns brownies. ─ suspirou e retirou o avental sujo, amassando e jogando no chão.

Mãe..!

Que foi? ─ me olhou. ─ Eu gosto de brownies.

─ É, eu também, mas você quase colocou fogo na casa.

─ Quase. ─ forçou um sorriso.

Revirei os olhos e então comecei a ajudá-la a limpar aquela sujeita toda.

─ Eu só estava tentando ser uma boa mãe.

─ Mas você é uma boa mãe. ─ franzi as sobrancelhas, sem entender.

─ Você acha?

─ É claro. As vezes um pouco atrapalhada, como nós podemos ver. ─ ri, e apontei para a cozinha ao nosso redor. ─ Mas você é uma ótima mãe. E não precisa quase colocar fogo na casa para provar isso.

Ela riu e suspirou, sentando em uma cadeira. Sentei ao seu lado.

─ Claire, a minha colega do escritório, sabe? ─ eu concordei com a cabeça e ela continuou. ─ Ela falou que eu não sei fazer nada e nem cozinhar, e ficou me questionando de de como é a sua criação.

─ Para ser uma boa mãe não precisa saber cozinhar. ─ disse. ─ Graças a Deus algum gênio inventou o iFood.

─ Eu sei, é que... ─ e então ela começou a ficar com os olhos vermelhos. Eu odiava ver minha mãe chorando... aliás, quem é que gostava?

─ Ah mãe, não chora. ─ tentei consola-lá. ─ Está tocando Spice Girl. Você não pode chorar ouvindo Spice Girl, mãe! Não é assim que se mostra o poder feminino!

E então nós começamos a rir. Eu me aproximei e a abracei, mesmo estando ambas sujas e fedendo a fumaça.

─ Aliás, quem liga pra aquela chata da Claire? ─ retruquei. Que eu me lembre, essa colega de escritório da minha mãe era uma mulher rabugenta que não ficava contente com nada.

─ Tem razão. ─ mamãe sorriu. ─ Tenho pena do marido dela que acorda todo dia com aquela cara de mal amada. E dos filhos também.

─ É...

─ E dos vizinhos que provavelmente não devem receber nem um "bom dia". E das amigas dela que, pra falar a verdade, não acho que ela tenha alguma. E também da mãe dela que...

─ Tudo bem, não precisa exagerar. ─ a interrompi. Senhorita Isabel sempre acabava falando demais.

No final, acabei entendendo oque minha mãe estava sentindo. Ela me teve muito nova e saiu da casa dos pais logo em seguida. Não sei a história toda mas sei que ela não conversa com eles e que são brigados - eu também não os conheço. Tudo oque ela conquistou foi com seu próprio esforço e ainda sim, se questionava se precisava de aprovação.

─ Mãe... ─ a chamei. Mentir para a minha mãe em uma hora dessas não era muito legal mas eu não tinha muita opção. ─ Vai ter um trabalho social na escola...

─ Trabalho social? Hum, isso é muito legal.

─ É. Eu meio que tenho que participar para conseguir pontos extras e facilitar a minha carta de recomendação para a faculdade.

─ E porque está pedindo a minha permissão? Você sabe que pode fazer essas coisas. ─ me encarou e fez uma careta, ficando zarolha.

─ Eu sei, só estou te contando. ─ soltei um risinho, de nervosismo. ─ Vou ensinar algumas matérias depois da escola a um garoto agorafóbico.

─ Agorafóbico? ─ franziu as sobrancelhas e eu comecei a explicá-la sobre o transtorno e todos os outros detalhes.

Não precisava ocultar cada pequeno pedacinho da história, tudo oque eu precisava esconder era que ganharia dinheiro e que juntaria para encontrar o meu pai.

─ Isso é ótimo, só tenho uma regra. ─ ela disse.

─ Tudo bem, manda ver.

─ Não se apaixone por esse garoto.

─ O quê? ─ quase engasguei.

─ Eu estou brincando! ─ ela bateu palmas enquanto ria. ─ Nossa, você ficou vermelha.

─ Não fiquei não. ─ toquei nas minhas próprias bochechas. ─ Para com isso.

─ Qual é Soph, você nunca assistiu "Um amor para recordar"?

Respirei fundo e revirei os olhos, pegando uma vassoura e concentrando o meu foco no que estávamos fazendo antes.

─ Ou "10 coisas que eu odeio em você"?─ ela continuou. ─ Nossa, eu amo esses filmes. São clássicos.

─ São legais. ─ comentei.

Legais?! Eles não são só legais. ─ enfatizou a palavra. ─ São totalmente incríveis. E sabe, devíamos assistir de novo algum dia desses...

Revirei os olhos e assenti. Ela me obrigaria assistir de qualquer jeito mesmo. Na briga em questão de filmes clichês românticos, minha mãe sempre ganhava.

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