CAPÍTULO 12: Saudade no peito

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DANIEL

NA SALA DE ESTAR, MINHA mãe me encarava com expectativa, esperando eu responder à pergunta que ela tinha feito sobre Sophia e a tarde que tivemos.

─ Foi legal. ─ menti, desviando os olhos para a bancada da televisão e encarando um dos porta-retratos.

Era uma foto minha e do Todd quando tínhamos por volta de provavelmente uns treze anos. Estávamos na rua, andando de bicicleta. Lembro de que a gente adorava apostar corrida ou quem chegava primeiro na porta de casa.

Suspirei. Saudade - é tudo que eu posso dizer e sentir.

─ Me conte mais!

─ A gente estudou e só. ─ fiz uma careta. Estava prevendo uma dor de cabeça começando. ─ Não teve muita coisa, mãe.

─ Então tá bom. ─ deu de ombros, saindo e indo a algum cômodo diferente.  ─ Já vi que não está muito afim de conversa hoje.

Cruzei os braços e fechei os olhos, encostando a cabeça na almofada do sofá. Com as mãos, apertei com força o tecido do sofá, sentindo raiva.

Era mais que raiva.

Estava me sentindo sufocado. Como se estivesse vivendo no corpo de outra pessoa. Preso na vida de alguém - e eu não queria ser esse alguém.

─ Eaí, maninho... ─ escutei a voz de Melissa e então abri os olhos, observando-a entrar em casa e se sentar ao meu lado. ─ Estou curiosa, como foi hoje?

Resmunguei.

─ Me fala da garota. Ela é bonita? ─ continuou. ─ Vocês deram alguns amassos ou foi só uma relação professora e aluno? ─ riu da própria pergunta.

Eu levantei do sofá com dificuldade, e sai, ignorando totalmente a existência da minha irmã.

─ Ei, Daniel! Não me ignore. ─ ela gritou, ainda curiosa. ─ Tá surdo?!

─ Melissa, não abuse o seu irmão. ─ escutei minha mãe soltar um risinho logo atrás.

Fui em direção ao meu quarto. Entrando lá, sentei na cama, folguei a prótese e a tirei por completo - largando-a do lado. Encostei a cabeça no travesseiro, tirei os óculos e fechei os olhos com força.

Me sentia tão cansado.

Ainda mais depois de hoje, que eu tinha sido grosseiro de propósito com a garota justamente para ela decidir ir pra a casa e nunca mais voltar. Pelo visto, não funcionou e eu tinha uma leve impressão de que ela não desistiria fácil.

Minha situação era patética e parecia que só piorava.

Passei a vida toda tentando fazer a coisa certa, andando na linha, sendo uma pessoa certa. Mas o que eu ganho em troca?

Nada nunca da certo. É como se o universo estivesse conspirando contra mim.

Eu não aguento mais.

É como se além de ser invisível, eu estivesse me desconectando do mundo. Como num teatro, e eu estivesse sozinho na plateia, e todo o resto estivesse acontecendo no palco.

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