DANIEL
NA SALA DE ESTAR, MINHA mãe me encarava com expectativa, esperando eu responder à pergunta que ela tinha feito sobre Sophia e a tarde que tivemos.
─ Foi legal. ─ menti, desviando os olhos para a bancada da televisão e encarando um dos porta-retratos.
Era uma foto minha e do Todd quando tínhamos por volta de provavelmente uns treze anos. Estávamos na rua, andando de bicicleta. Lembro de que a gente adorava apostar corrida ou quem chegava primeiro na porta de casa.
Suspirei. Saudade - é tudo que eu posso dizer e sentir.
─ Me conte mais!
─ A gente estudou e só. ─ fiz uma careta. Estava prevendo uma dor de cabeça começando. ─ Não teve muita coisa, mãe.
─ Então tá bom. ─ deu de ombros, saindo e indo a algum cômodo diferente. ─ Já vi que não está muito afim de conversa hoje.
Cruzei os braços e fechei os olhos, encostando a cabeça na almofada do sofá. Com as mãos, apertei com força o tecido do sofá, sentindo raiva.
Era mais que raiva.
Estava me sentindo sufocado. Como se estivesse vivendo no corpo de outra pessoa. Preso na vida de alguém - e eu não queria ser esse alguém.
─ Eaí, maninho... ─ escutei a voz de Melissa e então abri os olhos, observando-a entrar em casa e se sentar ao meu lado. ─ Estou curiosa, como foi hoje?
Resmunguei.
─ Me fala da garota. Ela é bonita? ─ continuou. ─ Vocês deram alguns amassos ou foi só uma relação professora e aluno? ─ riu da própria pergunta.
Eu levantei do sofá com dificuldade, e sai, ignorando totalmente a existência da minha irmã.
─ Ei, Daniel! Não me ignore. ─ ela gritou, ainda curiosa. ─ Tá surdo?!
─ Melissa, não abuse o seu irmão. ─ escutei minha mãe soltar um risinho logo atrás.
Fui em direção ao meu quarto. Entrando lá, sentei na cama, folguei a prótese e a tirei por completo - largando-a do lado. Encostei a cabeça no travesseiro, tirei os óculos e fechei os olhos com força.
Me sentia tão cansado.
Ainda mais depois de hoje, que eu tinha sido grosseiro de propósito com a garota justamente para ela decidir ir pra a casa e nunca mais voltar. Pelo visto, não funcionou e eu tinha uma leve impressão de que ela não desistiria fácil.
Minha situação era patética e parecia que só piorava.
Passei a vida toda tentando fazer a coisa certa, andando na linha, sendo uma pessoa certa. Mas o que eu ganho em troca?
Nada nunca da certo. É como se o universo estivesse conspirando contra mim.
Eu não aguento mais.
É como se além de ser invisível, eu estivesse me desconectando do mundo. Como num teatro, e eu estivesse sozinho na plateia, e todo o resto estivesse acontecendo no palco.
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I See You
Teen FictionDaniel tem uma fobia que o impede de sair de casa e Sophia precisa de dinheiro para encontrar o pai que não vê a 6 anos. O destino dos dois se cruzam quando Soph começa a dar aulas particulares ao Dan, e juntos, desenvolvem uma amizade fiel e compa...