CAPÍTULO 04: Crise de ansiedade

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DANIEL

    AS AULAS DO CURSO NA universidade de Wisconsin vão começar em dezembro, oque significa que eu ainda tinha sete meses de preparo para superar todos os tópicos da minha lista do medo.

Que a propósito, a lista estava completa, eu só precisava de coragem para estudá-la e sair de casa:

1. Avalie a situação

➝  Psicólogos estão totalmente fora de questão. Menos conversa, mais movimentação.

2. Respire fundo ?

Isso realmente deveria estar em uma lista?

3. Anote os prós e contra

Prós: dar o fora de Minnesota,
conhecer pessoas legais,
fazer - talvez - amigos,
ter uma vida sociável,
ser eu mesmo

➝ Contra: crises de pânico,
encarar pessoas,
conversar com pessoas,
interagir com pessoas,
bullying

4. Converse com alguém

➝ As únicas pessoas que eu tenho para conversar são as mesmas que eu vejo todo dia: minha irmã mais velha totalmente invasiva e folgada, e a minha mãe, que já tem preocupações demais.

➝ As vezes eu falo comigo mesmo mas acho que isso não conta.

5. Mude a maneira de pensar ?

➝ Acho que esse deve ser o tópico mais difícil da lista. Mudar a minha maneira de pensar? Como eu faço isso?

7. Não evite oque te assusta ?

➝ É meio difícil no momento porque as vezes sinto que tenho medo de tudo que se encontra fora do meu quarto, da minha casa. Acho que tenho medo do mundo lá fora.

8. Tudo bem, admito. Eu definitivamente preciso de um psicólogo

Dobro o papel da lista do medo no meio e guardo na minha - primeira não - terceira gaveta da escrivaninha. Tinha menos chance de alguém encontrá-la ali quando fosse entrar para bisbilhotar do que na primeira, e sei que a Mia faz isso as vezes.

Levanto e observo no relógio de pulso que são oito e quinze. Outra manhã. Outro dia que acordo cedo.

Pego um óculos de sol antigo e coloco no rosto, que acaba ficando um pouco apertado na minha cabeça - acho que tenho ele desde os dez anos -, saio do meu quarto e vou até a cozinha. Pego um copo de água e bebo tudo de uma vez.

Se me lembro bem, essa é a hora em que os adolescentes da minha vizinhança estão na escola. A barra estava limpa para mim.

Respiro fundo e me aproximo da porta. Não vou pensar muito porque eu provavelmente amarelaria. Vou só arriscar. Fácil. Vou pensar em um lugar feliz e vou conseguir sair de casa. É só arriscar.

Eu não tenho medo.
Eu não tenho medo.
Eu não tenho medo.
Não tenho medo.

─ Arrisque. ─ murmuro para mim mesmo.

Seguro na maçaneta gelada e fecho os olhos. Se me lembro bem, na frente da minha casa tem um espaço com um banquinho daqueles que a gente encontra em parques. Posso ir até lá, pode ser meu ponto de foco. Respiro fundo e agora, sem controle, estou imaginando os meus vizinhos adolescentes tirando sarro da minha perna, como aconteceu a alguns meses atrás.

Tento respirar fundo mas parte da minha respiração parece estar sucumbida. Consigo sentir o peito subir e descer, em uma repetição não tanto - mas um pouco - frenética.

Olha lá, ele parece um aleijado... Guto - um garoto que morava com sua avó ao lado da minha casa - comentou, tentando abafar o riso com a mão na boca. Não sei se ele notou mas, não adiantou muito. Eu escutei do mesmo jeito.

Parece mais um saci-pererê. e seu amigo, Tyler, que levantou e começou a imitar.

Coitado... parem com isso. Aline, a namorada de um deles, disparou com pena. Eu não precisava da pena dela porque, no final, de um jeito ou de outro, ela sempre acabava rindo com eles.

Consigo sentir lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. Tento controlar a respiração mais uma vez, em vão. Sinto meu perto apertar e um ardor se instala sobre ele. Seguro as mãos na maçaneta com toda a minha força, elas estão soadas.

Consigo, finalmente, abrir os olhos e realizar onde eu realmente estava. Ainda dentro de casa, sã e salvo. Não posso sair, e foi loucura pensar que eu conseguiria.

Corro para a cozinha e abro uma das dispensas. Com a mão trêmula, procuro o remédio de ansiedade que eu costumava tomar a um tempo atrás. Ele é natural, então, não tem problema em tomar logo dois de vez.

Respira.

Sento no chão e abraço os meus joelhos. Seria tão mais fácil se o Todd estivesse aqui.

Depois de um tempo naquela posição, começo a me sentir mais calmo e então, subo de volta para o meu quarto, um pouco tonto. Deito na cama e fecho os olhos. Se eu pudesse, dormiria por mil anos. Ou simplesmente nem existiria. É meio mórbido desejar algo assim, mas, quando estou mal, nunca consigo evitar esse tipo de pensamento.

É por isso que estou tentando não pensar mais. Eu só quero que tudo pare de rodar.

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como vocês estão
se sentindo hoje?
estão bem?

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