CAPÍTULO 18: Sonho ou fato

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                                         DANIEL

     ERA MADRUGADA E TODOS da minha casa estavam dormindo. Eu não conseguia cair no sono. A frase que Sophia tinha deixando na minha porta hoje à tarde vagava pela minha cabeça.

"Lá fora está o mundo dos vivos. Não se esqueça de que você também faz parte dele"

Era engraçado porque, no início de tudo - da minha isolação -, eu me sentia livre quando não via ninguém e quando ninguém sabia meu nome. Porque aí eu poderia ser quem eu quisesse e ninguém me julgaria. Já que, honestamente, eu nunca tinha realmente me encaixado no mundo.

Mas depois, parece que foi virando uma espécie de prisão. Ou uma areia movediça, na qual você vai afundando e não percebe - só quando ela te atola até o pescoço, e você precisa de ar.

Não evite oque te assusta. ─ li atentamente o tópico sete, da minha lista do medo - que estava esquecida, até então.

Não evitar o que me assusta.

Não evitar o mundo lá fora. Porque afinal, eu também pertenço a ele. E se essa ideia ainda está na minha cabeça, é porque vale a pena arriscar, não?

Mais uma vez, dobro o papel e coloco em cima da minha cama. Saio do meu quarto e caminho até a sala da minha casa, hesitante. Abro o olho mágico da porta e dou de cara com a rua, pouco iluminada e vazia - porque claro, é madrugada. Olho direito para os dois lados e concluo que ninguém realmente está passando por ali aquela hora. Não penso muito, pego na maçaneta e abro a porta.

Rapidamente a brisa forte de lá de fora entra e eu me surpreendo com a ação instantânea que eu tinha acabado de fazer.

─ Um... ─ contei, respirando fundo e dando um passo para frente. ─ Dois...

Três.
Abri os olhos.
E eu estava fora de casa.
Eu estava fora de casa.

Não acredito. ─ murmuro para mim mesmo. Foi tão instantâneo, tão sem pensar, tão rápido. Parecia mágica, porque antes quando eu tentei sair, era como se existisse uma linha invisível que me impedia de atravessar. E do nada, agora, é como se ela tivesse desaparecido e a minha passagem estivesse liberada.

Voltei para trás, para dentro e então dei mais dois passos para a frente, e eu estava na varanda novamente. Estou conseguindo sair de casa. Normal. Igual às pessoas.

Como isso é possível?

Não, eu só posso estar sonhando. Não posso sair assim do nada. Normal. Eu não consigo fazer isso. O que está acontecendo?

Dou passos para trás e quando estou dentro de casa novamente, fecho a porta. Sinto o meu peito subir e descer, com a minha respiração não tão descontrolada como geralmente ficava.

Viro de costas e vou em direção ao meu quarto. Mas que merda acabou de acontecer? Eu saí de casa. Eu realmente tinha ficado fora de casa por uns aproximadamente seis segundos. Não, eu não posso ter saído de casa assim, do nada. O que estava acontecendo?

Com minhas mãos trêmulas, tento pegar a caixinha com meus comprimidos de crises e ansiedades e engulo um - que desce amargamente pela minha garganta - já que eu estou tão confuso que esqueço de pegar a água.

Sentei na cama, tirei a prótese, o liner e me deitei assustado. Cobri todo o meu corpo e rosto com o cobertor. Eu sentia todo o meu corpo agoniado. Ainda sentia a brisa fria lá de fora me abraçando. Precisava dormir, descansar e raciocinar oque tinha acabado de acontecer.

Talvez isso tudo esteja sendo só um sonho para me motivar a sair de verdade, quem sabe. Amanhã eu irei saber.

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