CAPÍTULO 19: Caras ordinários

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SOPHIA

     O BAILE DE MÁSCARAS SÓ iria acontecer daqui a duas semanas e a fila para a compra dos ingressos já estava enorme desde o início das aulas - quase dando curvas no corredor da escola.

Por sorte, não tinha muita gente na minha frente - acho que umas seis.

Enquanto aguardava em pé, eu terminava de ler as últimas páginas do livro "A Lógica Inexplicável da Minha Vida" do Benjamin Alire Sáenz.

─ Então parece que resolveu ir para o baile...

Respiro fundo e fecho o livro, levantando a cabeça e dando de cara com William. Apesar de ele ser muito inconveniente, já tinha me acostumado com suas aparições aleatórias.

─ É, acho que sim.

─ E não comigo. ─ deduziu.

─ Não com você. ─ confirmei.

─ Isso só pode significar uma coisa... ─ colocou as mãos no queixo, de forma pensativa. ─ Há um cara nessa história.

─ Há um cara. ─ confirmei mais uma vez, balançando a cabeça.

─ Um cara ordinário. ─ franziu as sobrancelhas.

─ O que posso dizer? ─ balancei o ombro para cima e para baixo, de forma irônica. ─ Gosto de ordinários.

Ele me olhou com uma expressão engraçada, e eu prendi o riso, continuando:

─ Desleixados também. Preguiçosos e carecas, com barrigas de cerveja e as calças caindo atrás, mostrando o cofrinho. ─ suspirei. ─ Nossa, isso me leva às nuvens.

Ele ficou um tempo calado me encarando, e quando eu iria voltar para o meu livro, ele sorriu, soltando uma gargalhada:

─ Ahh, você estava sendo sarcástica...!

Eu arqueei as sobrancelhas. Ele era bem mais lento do que eu imaginei.

─ Você é incrível, Sophia. ─ continuou rindo. ─ A propósito, a sua apresentação hoje no trabalho de história foi demais.

─ Bom, obrigada.

Lembrei do trabalho do professor Carlos mais cedo. Minutos antes da apresentação, Amber apressou todo mundo dizendo que precisávamos tirar a nota máxima e quase vomitou de ansiedade - sem exagero nenhum. Aquela garota precisava andar com um calmante.

─ Você conhece a Amber? ─ perguntei a William.

─ A gatinha do primeiro ano? ─ procurou ao nosso redor e eu revirei os olhos.

─ Não. Amber da nossa sala.

─ Ah. ─ fez uma careta e deu de ombros, sem interesse. ─ Sei quem é.

─ Por que você não convida ela para o baile?

William me olhou nos olhos e começou a rir. Eu fiquei o observando, sem entender. Ele riu tanto que depois, disse:

─ Ai minhas bochechas. ─ tocou nas mesmas. ─ Você é mais ilária do que eu imaginei.

─ Na verdade, eu estava falando sério.

─ O quê? ─ riu fraco. ─ Mas por que eu convidaria a Amber?

─ Sei lá. ─ tentei inventar algum motivo ou uma qualidade boa da garota, mas não consegui encontrar nenhum. ─ Ela deve ser legal...

─ Uhum. Tá bom. ─ riu novamente e então, a fila andou e era a minha vez.

Pedi a garota - que me olhava com um sorriso ensaiado - dois ingressos e ela me esticou, esperando o dinheiro. Entreguei, recebi o troco e no final, ela disse:

─ Não esqueça de ir arrumada de acordo com o tema. ─ me entregou um papelzinho, que falava sobre vestidos, máscaras e outras coisas relacionadas.

─ Obrigada.

Sai em direção à sala de aula e senti alguém atrás de mim. Era o William.

─ Você ainda está aqui? ─ o encarei, sem entender.

─ Tudo bem, você quer fazer ciúmes em mim com esse cara ordinário no baile. Eu aprecio isso. ─ colocou a mão no peito de uma forma engraçada.

Eu soltei um risinho e balancei a cabeça.

─ Mas falando sério, Sophia. ─ correu até ficar de frente para mim, e começou a andar de costas. ─ O que vai fazer mais tarde?

─ Estou ocupada.

─ Tem certeza? ─ insistiu.

─ Absoluta.

─ É que eu queria saber se... ─ antes de terminar, acabou se batendo com um grupinho de meninas.

Aproveitei aquele momento para correr e  entrar no meio da multidão do corredor, despistando e me escondendo dele.

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