SOPHIA
O BAILE DE MÁSCARAS SÓ iria acontecer daqui a duas semanas e a fila para a compra dos ingressos já estava enorme desde o início das aulas - quase dando curvas no corredor da escola.
Por sorte, não tinha muita gente na minha frente - acho que umas seis.
Enquanto aguardava em pé, eu terminava de ler as últimas páginas do livro "A Lógica Inexplicável da Minha Vida" do Benjamin Alire Sáenz.
─ Então parece que resolveu ir para o baile...
Respiro fundo e fecho o livro, levantando a cabeça e dando de cara com William. Apesar de ele ser muito inconveniente, já tinha me acostumado com suas aparições aleatórias.
─ É, acho que sim.
─ E não comigo. ─ deduziu.
─ Não com você. ─ confirmei.
─ Isso só pode significar uma coisa... ─ colocou as mãos no queixo, de forma pensativa. ─ Há um cara nessa história.
─ Há um cara. ─ confirmei mais uma vez, balançando a cabeça.
─ Um cara ordinário. ─ franziu as sobrancelhas.
─ O que posso dizer? ─ balancei o ombro para cima e para baixo, de forma irônica. ─ Gosto de ordinários.
Ele me olhou com uma expressão engraçada, e eu prendi o riso, continuando:
─ Desleixados também. Preguiçosos e carecas, com barrigas de cerveja e as calças caindo atrás, mostrando o cofrinho. ─ suspirei. ─ Nossa, isso me leva às nuvens.
Ele ficou um tempo calado me encarando, e quando eu iria voltar para o meu livro, ele sorriu, soltando uma gargalhada:
─ Ahh, você estava sendo sarcástica...!
Eu arqueei as sobrancelhas. Ele era bem mais lento do que eu imaginei.
─ Você é incrível, Sophia. ─ continuou rindo. ─ A propósito, a sua apresentação hoje no trabalho de história foi demais.
─ Bom, obrigada.
Lembrei do trabalho do professor Carlos mais cedo. Minutos antes da apresentação, Amber apressou todo mundo dizendo que precisávamos tirar a nota máxima e quase vomitou de ansiedade - sem exagero nenhum. Aquela garota precisava andar com um calmante.
─ Você conhece a Amber? ─ perguntei a William.
─ A gatinha do primeiro ano? ─ procurou ao nosso redor e eu revirei os olhos.
─ Não. Amber da nossa sala.
─ Ah. ─ fez uma careta e deu de ombros, sem interesse. ─ Sei quem é.
─ Por que você não convida ela para o baile?
William me olhou nos olhos e começou a rir. Eu fiquei o observando, sem entender. Ele riu tanto que depois, disse:
─ Ai minhas bochechas. ─ tocou nas mesmas. ─ Você é mais ilária do que eu imaginei.
─ Na verdade, eu estava falando sério.
─ O quê? ─ riu fraco. ─ Mas por que eu convidaria a Amber?
─ Sei lá. ─ tentei inventar algum motivo ou uma qualidade boa da garota, mas não consegui encontrar nenhum. ─ Ela deve ser legal...
─ Uhum. Tá bom. ─ riu novamente e então, a fila andou e era a minha vez.
Pedi a garota - que me olhava com um sorriso ensaiado - dois ingressos e ela me esticou, esperando o dinheiro. Entreguei, recebi o troco e no final, ela disse:
─ Não esqueça de ir arrumada de acordo com o tema. ─ me entregou um papelzinho, que falava sobre vestidos, máscaras e outras coisas relacionadas.
─ Obrigada.
Sai em direção à sala de aula e senti alguém atrás de mim. Era o William.
─ Você ainda está aqui? ─ o encarei, sem entender.
─ Tudo bem, você quer fazer ciúmes em mim com esse cara ordinário no baile. Eu aprecio isso. ─ colocou a mão no peito de uma forma engraçada.
Eu soltei um risinho e balancei a cabeça.
─ Mas falando sério, Sophia. ─ correu até ficar de frente para mim, e começou a andar de costas. ─ O que vai fazer mais tarde?
─ Estou ocupada.
─ Tem certeza? ─ insistiu.
─ Absoluta.
─ É que eu queria saber se... ─ antes de terminar, acabou se batendo com um grupinho de meninas.
Aproveitei aquele momento para correr e entrar no meio da multidão do corredor, despistando e me escondendo dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
I See You
JugendliteraturDaniel tem uma fobia que o impede de sair de casa e Sophia precisa de dinheiro para encontrar o pai que não vê a 6 anos. O destino dos dois se cruzam quando Soph começa a dar aulas particulares ao Dan, e juntos, desenvolvem uma amizade fiel e compa...