CAPÍTULO 24: O convite

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DANIEL

SE UM DIA EU ACORDASSE E estivesse totalmente bem, totalmente normal, o que eu mais gostaria de fazer? Essa era a pergunta que Sophia tinha me feito.

Deveria ser a pergunta mais fácil e a resposta deveria estar na ponta da minha língua, mas isso me pegou totalmente de surpresa.

Fiquei alguns minutos calado. Achei que em algum momento ela iria desistir de receber a resposta e mudar o assunto novamente mas ela foi totalmente paciente. Eu não deveria estar surpreso.

─ E-eu não sei... ─ gaguejei. ─ Provavelmente sairia por aí. Sem rumo. Sem medo.

Ela continuou em silêncio e eu agradeci mentalmente.

─ E correria. Merda, eu correria muito.

─ Sabe que você ainda pode fazer isso tudo, não é?

Eu senti meu estômago embrulhar. É claro que eu sabia. Eu consegui sair de casa e consegui tocar piano, depois de muito tempo.

─ É que... não é tão simples. ─ engoli seco. ─ Cada dia é como uma roda gigante. Nunca sei quando eu vou estar me sentindo bem. Nunca sei quando vou estar disposto a arriscar. Sou fraco, Sophia.

E não era mentira. Tinha dias em que eu me sentia capaz de fazer tudo - como no dia em que eu consegui sair de casa e tocar no piano. Mas também, tinham outros dias que eu me sentia o garoto mais incapaz do mundo.

Suspirei.
Sou muito complicado.

─ Não sei como você pode dizer isso. ─ ela balançou a cabeça.

─ Isso o quê?

─ Que você é fraco. ─ levantou a cabeça e me olhou. ─ Se você sabe que é fraco, por quê não conserta isso?

─ Por que eu te disse, não é tão simples assim.

─ Na verdade é. ─ discordou. ─ Olha Daniel, coisas ruins sempre vão acontecer. É uma coisa que não dá pra evitar. A única coisa que importa é de que forma nós vamos lidar com isso.

Balancei a cabeça, suspirando.

─ Você só tem uma vida. Não pode desperdiça-la.

Essa frase era meio clichê, mas não deixava de ser verdade. E para mim, ouvir a verdade doía.

─ Já entendi.

─ Ok... e também, me desculpa por te pressionar ás vezes. Eu sei que posso ser bem insistente.

─ E irritante também. ─ murmurei mas acho que ela escutou, porque começou a rir.

─ Um pouquinho. ─ sorriu. ─ Mas você também é bem teimoso.

─ É... ─ admito.

Antes que a gente continuasse os estudos - que por sinal estavam bem atrasados - ela resolveu continuar a conversa:

─ Eu sei que vai parecer meio loucura mas... a-minha-mãe-quer-te-conhecer. ─ disse a última parte tão rápido que eu quase não entendi.

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