CAPÍTULO 46: De volta para casa

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Ahh casa, deixe-me ir para casa
Casa é qualquer lugar que eu esteja com você
|Home - Edward Shape and The magnetic zeros

DANIEL

     Eu estava morrendo de vergonha. Queria que um buraco preto se abrisse no chão e me engolisse.

A mãe de Sophia tinha vindo nos buscar e desde que tinha chegado, ficava me observando pelo canto dos olhos com um semblante que eu nunca tinha visto antes.

─ Desculpa por fazer você ter vindo até aqui ─ escutei Sophia dizer e então sua mãe virou para lhe dar atenção.

Não estava brava, oque me surpreendeu.

─ Relaxa. Os pais são feitos para tirarem os filhos e amigos da cadeia mesmo. ─ disse e nós três rimos. Isso fez com que eu relaxasse mais em relação a ela. ─ Mas assunto sério agora. Oque vocês queriam fazendo em Wisconsin?

Eu e Sophia nos encaramos e decidi ser o primeiro a falar:

─ Eu tinha que ver como era a Universidade de Wisconsin e chamei a Sophia para ir comigo. ─ engoli seco ─ É tudo minha culpa, nada dela.

Dona Isabel colocou as mãos na cintura e me observou com o primeiro olhar que me assustava.

─ Não, não é. ─ Sophia interviu e eu a olhei sem entender. Eu estava tentando proteger a sua pele! ─ Na verdade o nosso destino era Chicago.

─ Chicago?

─ É, Chicago. ─ observei ela engolir seco.

─ Por que Chicago? Queriam assistir alguma peça ou...

─ Queríamos encontrar o meu pai.

Coloquei minhas mãos para trás e tentei desviar os olhos entre o assunto de mãe e filha. O buraco negro no chão já pode aparecer agora.

─ O seu pai....

─ É. Ele mesmo. E encontramos. ─ Sophia falava decidida ─ Julius.

─ Filha....

─ Mas tá tudo bem. ─ continuou ─ Ele meio que me renegou mas pelo menos eu descobri toda a verdade.

─ Sophia, filha... você tem que entender que... ─ sua mãe tentou conversar delicadamente mas ela a interrompeu de novo.

─ Não, eu sempre entendo. ─ suspirou ─ Não quero entender dessa vez.

─ Mas temos que conversar sobre isso.

─ Não, também não quero conversar. ─ andou em direção ao carro e eu a acompanhei, sem saber muito bem oque fazer ─ Tá tudo bem, mãe. Só não quero falar sobre isso.

─ Tudo bem.

Eu sentei no banco de trás e Sophia no da frente com a mãe, que disse que daria um jeito no carro alugado e que nós não teríamos problemas.

Eu liguei meu celular e encarei todas as notificações recebidas pelos três dias em que ele ficou desligado. Tinham mais mensagens do que eu esperava. A maioria da minha mãe e umas três da minha irmã.

Mandei então uma mensagem para Melissa, avisando que estava sã e salvo, s que já estava chegando em casa.

Observei Sophia com a cabeça encostada no vidro. Ela não estava dormindo mas acho que se pudesse, queria. No que será que ela pensava? Todas as vezes em que conversávamos eu tive vontade de ler a sua mente e tentar descobrir, ou entender oque se passava dentro dela.

Comecei a pensar em todo o nosso caminho até aqui.

Do início, de quando ela chegou na minha casa animada e teve que lidar com um Daniel completamente desconfiado e cheio de barreiras que a tratava meio mal. Logo depois, ela iria se aproximando devagar - alguns dias nem tanto, porque não se aguentava e forçava um pouco a barra. Mas sempre respeitando o meu tempo.

Lembro de quando eu comecei a gostar de quando ela ia me dar aulas e também lembro de quando nós brigamos. E como foi difícil não tê-la quase todo dia na minha casa.

Foi mais difícil ainda imaginar e aceitar que eu sentia algo a mais por ela. Principalmente porque eu era tão inseguro e ela sempre decidida e segura de si. Na minha cabeça, nós éramos tão diferentes que nunca daria certo. Hoje, eu sei que somos completamente diferentes mas ao mesmo tempo, definitivamente iguais - oque cria um equilíbrio agridoce.

Sophia era uma das melhores coisas que tinha acontecido na minha vida.

─ Chegamos na sua casa, Daniel.

Me dispersei dos meus pensamentos e voltei pada a realidade, em frente à minha casa e a praça que antes eu tanto temia.

Eu desci do carro e agradeci. Sophia veio atrás de mim.

─ Então, está em casa...

─ É... ─ forcei uma tosse ─ Bom, obrigado.

Ela inclinou a cabeça sem entender e foi aí que eu soube que teria que dizer mais coisas do que essa palavra.

─ É que, eu nunca tinha encontrado ninguém que me achasse bom o bastante... ─ tentei deixar o nervosismo de lado ─ ...até que encontrei você. E você me fez acreditar nisso também. Que eu sou bom o bastante.

Sophia se aproximou e me abraçou. Eu contornei seu corpo com carinho e desejei ficar naquele abraço para sempre.

─ Obrigado. ─ repeti ─ Eu com certeza não seria a pessoa que sou agora sem você.

─ Eu também não. ─ disse e nos desgrudamos. Ela tinha os olhos cheios de lágrimas.

─ Como nos despedirmos? ─ perguntei. Depois daqui, sei que cada um tomará um rumo diferente. As aulas da escola acabaram e agora só sobrava as inscrições para a faculdade. Eu iria para Wisconsin e Sophia... eu só conseguia imagina-lá viajando de lugar em lugar. Sendo ela mesma e conquistando milhões de pessoas por aí.

─ Não vamos nos despedir.

Ela se aproximou e me deu um selinho rápido, voltando para o carro.

─ Ei! ─ a chamei por uma última vez.

─ O quê?

Ela estava virada para mim. Linda como sempre. Seus cabelos encaracolados dançavam com o vento e sua franja estava bagunçada como sempre. Seus olhos castanhos agora carregavam um brilho diferente e suas bochechas permaneciam grandes e rosadas. Linda. Muito linda.

─ Só queria olhar pra você. ─ dei de ombros, vendo seu sorriso crescer ─ Obrigado por ser uma das minhas lembranças favoritas.

─ Viva, Daniel. ─ entrou dentro do carro ─ Viva.

Eu sorri e esperei o carro sair. Observei o bairro ao redor, sempre mediamente movimentado. Algumas crianças brincando, uns vizinhos varrendo a calçada... tudo como deve ser.

─ Vou viver. ─ e vou pensar nela enquanto estiver tocando piano.

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