CAPÍTULO 07: A professora Eduarda

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                                         SOPHIA

Ontem, passei a tarde toda depois do colégio deitada na minha cama, com o telefone nas mãos, um sorriso esperançoso no rosto e um frio na barriga.

Eu havia ligado para o número do folheto e para a minha surpresa, quem atendeu foi a professora de matemática, Eduarda - que no primeiro dia de aula tinha livrado eu e a Amber de uma bronca por causa da maquete destruída.

Assim que ela atendeu o telefone, reconheceu a minha voz - oque era um pouquinho estranho mas eu relevei. Não contive a surpresa e além de dizer que estava interessada na proposta do folheto, perguntei o motivo de ela estar precisando de um professor - já que ela mesma era uma professora maravilhosa.

É para o meu filho. escutei ela dizer. Não posso explicar agora mas, por favor, se ainda estiver interessada, amanhã depois da aula eu explico.

Tudo bem, não tem problema.

Ah, você não sabe o quanto me alegrou agora. pude sentir ela sorrir do outro lado da linha. Estou esperando alguém ligar a muito tempo.

Bom, eu sou ótima em humanas e realmente estou precisando de um pouco de dinheiro. soltei um risinho, nervosa e sem saber oque dizer.

Isso é ótimo, então... escutei um barulho do outro lado e ela se apressou. Amanhã nós conversamos?

Sim, claro. Até mais, professora Eduarda.

Só Duda está ótimo. Até mais, Sophia. e então desligou.

E eu quase não dormi de tanta ansiedade no peito.

Hoje era o dia de eu me encontrar com ela e parecia que a ansiedade ainda não tinha passado porque acordei duas horas antes do horário normal.

Fiquei deitada na cama e então me toquei que se eu fosse dar aulas particulares a alguém, minha mãe teria que saber. Eu precisava de uma mentira. E uma bem convincente. Não posso contar que o motivo real disso é para juntar dinheiro e viajar para encontrar o meu pai - nem pensar.

─ Bom dia, Cinderela. ─ depois de eu ter me arrumado, tomado café e voltado pra ficar provavelmente mais uns vinte minutos deitada na cama, minha mãe acordou.

─ Bom dia. ─ a observei. Isabel estava com cabelos bagunçados e usava um pijama velho. ─ Acordei cedo hoje e já estou pronta, então, só falta você se arrumar e me levar.

─ Ah, que preguiça. Você é muito rápida. ─ bocejou se espreguiçando. ─ Eu não te criei assim.

Não demorou muito para que minha mãe se arrumasse com seu clássico estilo nada convencional - calça jeans, camiseta folgada de estampa estranha verde e azul, um óculos de sol redondo estilo John Lennon, uma bandana rosa no cabelo e meias coloridas.

Cheguei no colégio cedo, com as mãos suando de ansiedade. Subi as escadas correndo e entrei na sala de aula. Por conhecidência, eu teria aula de matemática hoje - com a professora Eduarda - nos dois últimos horário.

Eu não sei se conseguirei esperar até os últimos horários...

Os dois primeiros foram de álgebra e química, que quando percebi, estava quase babando enquanto dormia em cima dos livros. O sinal tocou e antes de sair, o professor me lançou um olhar que provavelmente dizia "não quero ninguém dormindo na minha aula".

Eu saí para o intervalo e sentei em uma das mesas do refeitório. Estava sem fome, então, abri um livro que eu tinha alugado semana passada e li algumas páginas.

Logo depois, as aulas voltaram e finalmente tinha chegado o horário de matemática. A professora Eduarda estava normal como sempre e quando me viu, soltou um sorriso simples. Eu retribui.

Ela liberou os alunos trinta minutos antes, e me chamou depois que eles saíram.

─ Sophia, você não sabe o quanto eu fiquei feliz quando ligou.

Nós conversamos sobre como eu encontrei o folheto e ela também me perguntou se eu estava preparada para dar aulas de história, geografia, filosofia e biologia. Perguntou se os meus responsáveis estavam de acordo - eu acabei mentindo, claro. E explicou o valor do pagamento, que eu achei ótimo e que com certeza não demoraria para juntar o suficiente e ir atrás o meu pai.

─ Mas o mais importante que eu quero que você saiba... ─ ela continuou, explicando cuidadosamente. ─ É que o meu filho tem um transtorno chamado agorafobia.

─ Ele... ─ fui interrompida.

─ Ele é normal, como você e todos os outros adolescentes, graças a Deus. ─ disse. ─ O problema é que ele não consegue sair de casa.

─ Ele fica em casa o tempo todo?

─ Sim. Ele literalmente não sai de jeito nenhum.

─ Uau. ─ murmurei.

─ Daniel sofreu um acidente de carro em dezembro voltando de uma viagem com o melhor amigo. Ele ficou no hospital por dois meses e o Todd, amigo dele, faleceu na hora. Foi difícil, ele perdeu uma perna e o melhor amigo.

Acho que ela sentiu que estava falando tudo de uma vez - realmente, estava - e parou, esperando eu digerir toda a informação.

─ Nossa. Sinto muito.

Ela deu um sorriso se cumplicidade e continuou:

─ Quando ele voltou para a escola, alguns alunos começaram a zombar e fazer bullying. Foi quando ele parou de vir e teve o diagnóstico.

─ Deve ter sido bem triste. ─ comentei.

Não consigo imaginar um motivo para as pessoas fazerem essas coisas. É muita maldade e falta de empatia.

─ E foi. Ele teve muitos ataques de pânico. De vez em quando ainda tem pesadelos. ─ explicou. ─ Acho que até vai ser bom para ele ter alguém da mesma idade como você, sabe...

─ Sei sim. ─ sorri, esperançosa. ─ Ainda não conheci ninguém também e talvez a gente vire amigos, quem sabe.

─ Seria ótimo! ─ consegui ver o brilho nos olhos da professora Eduarda. Ela amava seu filho e ver ele do jeito que estava, a magoava.

Eu aceitei o emprego e ela acertou o pagamento. Me explicou sobre as provas que ele fazia na internet pelo site do colégio e me passou as informações do endereço. Eu iria dar aulas para o seu filho nos dias de terça e quinta, começando na semana que vem.

Por fim, ela me agradeceu e eu pude ir, com uma felicidade no peito, porque em breve encontraria o meu pai e talvez até conseguisse ajudar esse garoto a sair de casa.

#
eu prometo
que falta bem
pouco para eles
se conhecerem
<3

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