SOPHIA
Ontem, passei a tarde toda depois do colégio deitada na minha cama, com o telefone nas mãos, um sorriso esperançoso no rosto e um frio na barriga.
Eu havia ligado para o número do folheto e para a minha surpresa, quem atendeu foi a professora de matemática, Eduarda - que no primeiro dia de aula tinha livrado eu e a Amber de uma bronca por causa da maquete destruída.
Assim que ela atendeu o telefone, reconheceu a minha voz - oque era um pouquinho estranho mas eu relevei. Não contive a surpresa e além de dizer que estava interessada na proposta do folheto, perguntei o motivo de ela estar precisando de um professor - já que ela mesma era uma professora maravilhosa.
─ É para o meu filho. ─ escutei ela dizer. ─ Não posso explicar agora mas, por favor, se ainda estiver interessada, amanhã depois da aula eu explico.
─ Tudo bem, não tem problema.
─ Ah, você não sabe o quanto me alegrou agora. ─ pude sentir ela sorrir do outro lado da linha. ─ Estou esperando alguém ligar a muito tempo.
─ Bom, eu sou ótima em humanas e realmente estou precisando de um pouco de dinheiro. ─ soltei um risinho, nervosa e sem saber oque dizer.
─ Isso é ótimo, então... ─ escutei um barulho do outro lado e ela se apressou. ─ Amanhã nós conversamos?
─ Sim, claro. Até mais, professora Eduarda.
─ Só Duda está ótimo. Até mais, Sophia. ─ e então desligou.
E eu quase não dormi de tanta ansiedade no peito.
Hoje era o dia de eu me encontrar com ela e parecia que a ansiedade ainda não tinha passado porque acordei duas horas antes do horário normal.
Fiquei deitada na cama e então me toquei que se eu fosse dar aulas particulares a alguém, minha mãe teria que saber. Eu precisava de uma mentira. E uma bem convincente. Não posso contar que o motivo real disso é para juntar dinheiro e viajar para encontrar o meu pai - nem pensar.
─ Bom dia, Cinderela. ─ depois de eu ter me arrumado, tomado café e voltado pra ficar provavelmente mais uns vinte minutos deitada na cama, minha mãe acordou.
─ Bom dia. ─ a observei. Isabel estava com cabelos bagunçados e usava um pijama velho. ─ Acordei cedo hoje e já estou pronta, então, só falta você se arrumar e me levar.
─ Ah, que preguiça. Você é muito rápida. ─ bocejou se espreguiçando. ─ Eu não te criei assim.
Não demorou muito para que minha mãe se arrumasse com seu clássico estilo nada convencional - calça jeans, camiseta folgada de estampa estranha verde e azul, um óculos de sol redondo estilo John Lennon, uma bandana rosa no cabelo e meias coloridas.
Cheguei no colégio cedo, com as mãos suando de ansiedade. Subi as escadas correndo e entrei na sala de aula. Por conhecidência, eu teria aula de matemática hoje - com a professora Eduarda - nos dois últimos horário.
Eu não sei se conseguirei esperar até os últimos horários...
Os dois primeiros foram de álgebra e química, que quando percebi, estava quase babando enquanto dormia em cima dos livros. O sinal tocou e antes de sair, o professor me lançou um olhar que provavelmente dizia "não quero ninguém dormindo na minha aula".
Eu saí para o intervalo e sentei em uma das mesas do refeitório. Estava sem fome, então, abri um livro que eu tinha alugado semana passada e li algumas páginas.
Logo depois, as aulas voltaram e finalmente tinha chegado o horário de matemática. A professora Eduarda estava normal como sempre e quando me viu, soltou um sorriso simples. Eu retribui.
Ela liberou os alunos trinta minutos antes, e me chamou depois que eles saíram.
─ Sophia, você não sabe o quanto eu fiquei feliz quando ligou.
Nós conversamos sobre como eu encontrei o folheto e ela também me perguntou se eu estava preparada para dar aulas de história, geografia, filosofia e biologia. Perguntou se os meus responsáveis estavam de acordo - eu acabei mentindo, claro. E explicou o valor do pagamento, que eu achei ótimo e que com certeza não demoraria para juntar o suficiente e ir atrás o meu pai.
─ Mas o mais importante que eu quero que você saiba... ─ ela continuou, explicando cuidadosamente. ─ É que o meu filho tem um transtorno chamado agorafobia.
─ Ele... ─ fui interrompida.
─ Ele é normal, como você e todos os outros adolescentes, graças a Deus. ─ disse. ─ O problema é que ele não consegue sair de casa.
─ Ele fica em casa o tempo todo?
─ Sim. Ele literalmente não sai de jeito nenhum.
─ Uau. ─ murmurei.
─ Daniel sofreu um acidente de carro em dezembro voltando de uma viagem com o melhor amigo. Ele ficou no hospital por dois meses e o Todd, amigo dele, faleceu na hora. Foi difícil, ele perdeu uma perna e o melhor amigo.
Acho que ela sentiu que estava falando tudo de uma vez - realmente, estava - e parou, esperando eu digerir toda a informação.
─ Nossa. Sinto muito.
Ela deu um sorriso se cumplicidade e continuou:
─ Quando ele voltou para a escola, alguns alunos começaram a zombar e fazer bullying. Foi quando ele parou de vir e teve o diagnóstico.
─ Deve ter sido bem triste. ─ comentei.
Não consigo imaginar um motivo para as pessoas fazerem essas coisas. É muita maldade e falta de empatia.
─ E foi. Ele teve muitos ataques de pânico. De vez em quando ainda tem pesadelos. ─ explicou. ─ Acho que até vai ser bom para ele ter alguém da mesma idade como você, sabe...
─ Sei sim. ─ sorri, esperançosa. ─ Ainda não conheci ninguém também e talvez a gente vire amigos, quem sabe.
─ Seria ótimo! ─ consegui ver o brilho nos olhos da professora Eduarda. Ela amava seu filho e ver ele do jeito que estava, a magoava.
Eu aceitei o emprego e ela acertou o pagamento. Me explicou sobre as provas que ele fazia na internet pelo site do colégio e me passou as informações do endereço. Eu iria dar aulas para o seu filho nos dias de terça e quinta, começando na semana que vem.
Por fim, ela me agradeceu e eu pude ir, com uma felicidade no peito, porque em breve encontraria o meu pai e talvez até conseguisse ajudar esse garoto a sair de casa.
#
eu prometo
que falta bem
pouco para eles
se conhecerem
<3
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I See You
Teen FictionDaniel tem uma fobia que o impede de sair de casa e Sophia precisa de dinheiro para encontrar o pai que não vê a 6 anos. O destino dos dois se cruzam quando Soph começa a dar aulas particulares ao Dan, e juntos, desenvolvem uma amizade fiel e compa...