Quando você cair como uma estátua
Eu vou estar lá para te pegar
Colocar você em pé
|Gone, Gone, Gone - Philip PhillipDANIEL
A gasolina acabou e agora eu e Sophia estamos saindo do carro, que está no meio da pista, para tentar empurra-lo para dentro da mata.
─ Não precisa fazer isso se doer, eu consigo sozinha. ─ a garota do meu lado disse e eu revirei os olhos.
─ Você não vai empurrar esse carro sozinha, Sophia.
E então começamos, contra a vontade dela de eu participar. Mesmo com a minha prótese doendo toda vez que eu fazia força, Sophia era uma garota e - não sendo machista mas ela não tinha muita força - por isso, não podia deixar ela sozinha.
Depois de um tempo empurrando, conseguimos pegar impulso e começamos a correr. Era engraçado mas também um pouco doloroso para a minha perna.
─ Falta pouco, cavalheiro. ─ escutei Sophia dizer e começar a rir.
Eu sorri e comecei a sentir os pingos de suor da minha juba escorrer. Finalmente conseguimos, com dificuldade levar o carro até a beirada da estrada, dentro da mata não muito grande.
─ Uh. ─ suspirei, passando a barra da minha camiseta na testa, enxugando o excesso do suor. ─ E agora?
─ E agora a gente vai ter que passar a noite aqui e de manhã procurar reforço. ─ suspirou cansada, abrindo a porta do carro e entrando.
Eu a segui e depois de sentar no banco, comecei a rir. As risadas saiam involuntariamente e eu conseguia ver Sophia me encarando sem entender. Parei quando as minhas bochechas começaram a doer.
─ Por quê está rindo?
─ Porque estou me sentindo num filme.
E realmente, estava. Viajando com a garota que eu gosto para realizar o sonho dela, parando em vários locais e apreciando lugares e paisagens diferentes. Sem contar com a cena clichê em que o carro fica sem gasolina.
─ Você fez isso de propósito, não foi?
Sophia me olhou ainda sem entender e começou a rir.
─ O quê?
─ Deixa pra lá...
E então, começamos a rir novamente.
Depois de um bom tempo, ficamos sérios e nos calamos dentro do carro.
Olhei para o meu telefone e pensei em deixar uma mensagem para a minha mãe, mas acho que ela ou a Melissa já devem ter encontrado a carta que eu deixei avisando que iria viajar e pedindo umas vinte vezes desculpas.
─ Então... ─ olhei para Sophia. ─ Uma vez você me disse que queria ser escritora, mas que também queria viajar pelo mundo inteiro.
─ É verdade. ─ ela sorriu. ─ Não sabia que você lembrava.
Dei de ombros.
─ Eu lembro de muitas coisas.
Sophia sorriu e quando foi tentar ligar o rádio do carro em vão, esbarrou na gaveta do carro que acabou se abrindo e revelando cinco garrafas pequenas de bebida alcoólica.
─ O que é isso? ─ riu sem entender.
Eu peguei uma das garrafas e encarei o líquido transparente.
─ Não é de muito tempo isso daqui. ─ observei a validade, ainda válida.
Encarei Sophia com um sorriso maroto no rosto e ela me encarou com semblante engraçado e duvidoso.
─ Eu sempre quis saber como é ficar bêbado. ─ revelei, abrindo a garrafa e a levando até meus lábios.
─ Daniel, não... você não sabe de onde isso veio.
─ Veio daqui dessa gaveta. ─ respondi e ela revirou os olhos, soltando uma risadinha logo depois.
─ Você entendeu...
─ Qual é, não vai fazer mal algum a gente beber.
Peguei outra garrafa e estiquei em sua direção.
─ Eu vou dirigir! ─ recusou.
─ O carro está sem gasolina.
Sophia me encarou hesitante e antes de pegar a garrafa, disse:
─ Só um pouquinho...
Eu ri e comecei a beber aquele líquido amargo. Tinha um gosto diferente de tudo que eu já tinha experimentado mas no final acabei gostando. Quando percebi, já tinha bebido duas garrafas inteiras e metade de outra, enquanto Sophia continuava com a mesma.
Eu e ela conversamos sobre algo que eu não consigo lembrar, e ríamos bastante. Acho que era a primeira vez dela com o contato do álcool - a minha pode se dizer que depois de tanto tempo, também era.
Quando me dei conta, estava encarando seus olhos castanhos brilhantes. Engoli seco e passei a língua pelos meus lábios, que por sinal estavam amargos e desidratados.
Sophia continuava falando sobre alguma coisa que eu não entendia e então, me aproximei dela, observando seus lábios perfeitinhos. Passei a mão pelo seu cabelo e a abracei. Escutei ela rindo e perguntando o que eu estava fazendo. Eu também não sabia. Depois, segurei seu rosto e o puxei na minha direção, para um beijo.
─ Eu gosto de você. ─ disse, meio grogue. ─ Gosto muito de você.
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I See You
Teen FictionDaniel tem uma fobia que o impede de sair de casa e Sophia precisa de dinheiro para encontrar o pai que não vê a 6 anos. O destino dos dois se cruzam quando Soph começa a dar aulas particulares ao Dan, e juntos, desenvolvem uma amizade fiel e compa...