CAPÍTULO 31: Jantar das mães

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SOPHIA

    SE PASSARAM QUATRO DIAS depois da briga entre eu e o Daniel. E já que faltei no dia de ontem, nós só iríamos nos ver no jantar da casa dele, hoje, para as nossas mães se conhecerem.

Eu estava hesitante porém curiosa para saber como ele estava. Se ainda estava chateado - porque eu não estava - ou triste, ou até mesmo se sentindo culpado.

─ Pronta? ─ minha mãe aparece na porta do meu quarto. ─ Estou super ansiosa para conhecer seu amigo agarofobico.

─ É agorafóbico. ─ respondi, soltando um risinho nervoso e pronunciando a palavra do modo correto.

─ Sim, tanto faz. ─ sorriu animada e me chamou para a saída.

Entrei no carro e como não podia faltar um som, ela ligou seu CD e colocou a musica "Rebel Girl" da banda feminina Bikini Kill para repetir. Eu estava agoniada, além de não aguentar mais aquele refrão, eu também estava nervosa para encontrar Daniel.

Paramos na frente da casa dele e eu e minha mãe descemos.

─ Lembre-se de três coisas quando entrar aí... ─ minha mãe me olhou. ─ Eu te amo, nós cozinhamos e não pedimos i-food, e você está de saia. Fique de joelhos fechados.

Eu olhei para minha própria saia e soltei uma risadinha, balançando a cabeça e concordando.

Ela bateu na porta e logo, foi aberta pela professora Eduarda.

─ Olá! ─ nos cumprimentou gentilmente e então eu pude deduzir que Daniel não tinha comentado nada sobre o nosso desentendimento. Ainda bem. ─ Sejam bem vindas, podem entrar.

Eu e minha mãe entramos e no mesmo momento, observei a sala de estar e não encontrei Daniel.

─ É um prazer conhecê-la, finalmente. ─ senhorita Isabel disse e abraçou a mãe do Daniel. ─ Achei incrível esse projeto soci...

─ Projeto de aulas em casa. ─ eu fui rápida e a interrompi antes que mencionasse algo relacionado a mentira que eu a contei. ─ Eu contei para ela que... bom, com minha ajuda, o Daniel faz provas em casa...

Engoli seco enquanto Eduarda me observava e sorria, balançando a cabeça e parecendo entender oque eu queria dizer.

─ É ótimo, mesmo. ─ comentou, nos indicando até a mesa. ─ Sentem-se. Vou chamar o Daniel, ele já deveria ter decido.

Assim que ela saiu em direção ao quarto do Daniel, eu chamei minha mãe e sussurrei:

─ Mãe, não fale nada sobre a escola e essas coisas. ─ menti. ─ Eles ficam chateados.

─ Ah, tudo bem. ─ piscou pra mim e eu senti pena de estar mentindo pra ela. ─ Sem problemas, parceira.

Logo, Daniel aparece. Ele está usando a camiseta azul que usou no primeiro dia que nos conhecemos - destacava seus olhos - e um casaco por cima.

─ Isabel, esse é o meu filho, Daniel.

─ Oi.

Automaticamente a minha mãe se vira e sussurra um: "ele é bonitinho" - na minha direção.

─ Ficamos imensamente felizes que a Sophia ligou e aceitou... ─ eu interrompi a professora Eduarda, com medo de que ela revelasse que me pagava.

─ Dar aulas particulares ao Daniel. ─ sorri nervosa. ─ Que aliás, acho que esqueci o meu caderno aqui. Vamos lá ver?

Daniel olha para a minha cara sem entender e permanece sentado na mesa. Sou obrigada a segurar na sua mão e puxa-lo disfarçadamente, em direção ao seu quarto.

─ O que você está fazendo? Me larga.

Solto a sua mão quando estamos escondidos no corredor.

─ Eu preciso da sua ajuda essa noite. ─ quase imploro.

─ Eu não estou nem aí, não vou te ajudar. ─ disparou e eu arregalei os olhos.

─ Você ainda está de mal comigo?

─ O que você acha? ─ arqueou as sobrancelhas irônico e cruzou os braços.

Suspirei.

─ Eu não sei ler a sua mente, Daniel.

Ele me encarou e balançou a cabeça. Merda. Eu e a minha mentira estávamos fritinhas.

─ Olha, eu disse a minha mãe que isso é um projeto social da escola em que eu me ofereço para dar aulas a um aluno e assim, ganho pontos extras. ─ revelei a verdade, de olhos fechados.

─ Deveria procurar um emprego público se gosta de ajudar as pessoas. ─ resmungou e eu senti a mágoa pela sua voz.

─ Daniel, me desculpa mas eu só menti porque se eu dissesse que estava juntando dinheiro para encontrar o meu pai, ela me proibiria. ─ suspirei e decidi continuar. ─ Sei que você não confia no seu pai e eu sinto muito por isso, porque qualquer um se surpreenderia vendo o quão especial você é. Mas não é justo você achar que o meu pai é igual ao seu. Isso só eu posso dizer. E nunca vou poder ter certeza se eu não conhecê-lo.

Parei e engoli seco. Tinha falado demais. Eu estava agoniada, muito nervosa. Tinha que dar tudo certo.

─ Por favor. Me ajuda.

Observei ele revirar os olhos e balançar a cabeça, positivamente. Suspiro de alívio e então ele sai de volta para a sala, e eu o sigo. Espero que as duas mães não tenham comentado nada durante os três minutos que saímos.

─ Acharam o caderno? ─ minha mãe perguntou.

─ Não.
─ Sim.

Eu e Daniel trocamos olhares cúmplices e então, ele decidiu falar:

─ A gente achou o caderno. Só que não era o dela. ─ fingiu coçar a garganta.

Suspirei e mordi os lábios, agradecendo mentalmente.

E então, a minha mãe e a mãe do Daniel começaram a conversar sobre como nós dois éramos fofos e gorduchos quando crianças. Coisas de mães. E eu fiquei menos despreocupada, porque qualquer assunto que comprometesse a minha mentira começasse a rolar, Daniel estaria ali para me ajudar.

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