Daniel tem uma fobia que o impede de sair de casa e Sophia precisa de dinheiro para encontrar o pai que não vê a 6 anos.
O destino dos dois se cruzam quando Soph começa a dar aulas particulares ao Dan, e juntos, desenvolvem uma amizade fiel e compa...
DEPOIS DA BRIGA NADA DE crianças que eu e a Sophia tivemos no outro dia, eu me senti tão mal, mas tão mal, que nem comi à noite. Ou na manhã seguinte. Quase poderia dizer que estava de jejum.
Ver a Sophia com raiva foi muito estranho. Um pouco engraçado porque ela se atrapalhava nas palavras, mas nada legal. E eu espero que hoje ela esteja bem e não tenha ficado chateada como no dia em que brigamos. Porque eu estava bem mal. A culpa estava me devorando pedaço por pedaço.
Foi por isso que comecei a ler o livro que ela me emprestou - para tentar me distrair. O pequeno príncipe. E era bem perceptível que apesar da narrativa infantil, o livro era bem complexo.
Logo na dedicatória, me senti motivado a ler até o final quando vi um trecho, "Para Leon Werth, no tempo em que era menino". O autor se referia ao melhor amigo, que apesar de ser um adulto, no início da vida foi uma criança. E ele dizia que todos nós fomos assim, mas apesar disso, apenas alguns se lembram.
Não sei porque, me identifiquei.
E então, logo no primeiro capítulo, o narrador conta sobre um livro que ele leu quando era criança que falava sobre uma cobra que comeu um elefante inteiro, e para digerir, dormiu durante seis meses.
Fissurado com isso, ele desenhou o fato acima com lápis de cor e perguntou aos adultos oque eles viam:
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Claro, eles disseram que viam um chapéu - eu também diria o mesmo.
Mas não era isso que o desenho realmente significava. E então, ele desenhou novamente, mais exemplificado e detalhado:
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E nem assim os adultos conseguiram identificar como uma cobra comendo um elefante - ou melhor, um elefante na barriga de uma cobra.
E então, cada vez mais eu fiquei interessado em ler o livro. E como era bem fininho, passei toda a madrugada trancado no quarto, devorando suas folhas.
Parecia que a cada página que eu lia, alguma coisa dentro de mim se transformava. O modo de como o autor descrevia as coisas e me fazia questionar e até mesmo me identificar era assustador.
E uma das coisas mais importantes que eu aprendi ao lê-lo era que, mesmo que alguém esteja vendo o mesmo que você, ninguém nunca estará vendo o mesmo que você - se é que isso faz algum sentindo.
A leitura dele é bem difícil. Tenho certeza de que alguém já deve ter pensado que o autor estava maluco ao escrever algumas coisas. Imagino também outras pessoas rindo e não entendendo o sentido de algumas cenas e falas. Sinto pena delas, por não compreenderem tantas hipérboles e metáforas incríveis.
De qualquer maneira, lendo aquele livro eu pude de alguma maneira entender a Sophia. O jeito dela e como ela era tão gentil e bondosa. Ela só via as coisas com o coração.
O essencial é invisível aos olhos.
E então eu me senti o garoto mais egoísta do mundo.
Sophia é uma garota que se mudou a pouco tempo. Nova na cidade. Que ainda não tinha feito nenhum amigo. E que também não tinha o pai presente como eu. Sua situação não era muito diferente da minha. E eu era a única pessoa com quem ela conversava - e na maioria das vezes ainda a tratava mal.
Mas por que ela não se sentia sozinha como eu?
Não tinha uma explicação muito difícil para isso. Sophia olhava as coisas com o coração.
Eis o que o livro diz: "Caso esteja se sentindo muito só, caso seu coração ainda seja puro, caso seus olhos ainda conservem o deslumbramento de uma criança, você descobrirá que as estrelas lhe sorriem e que você poderá ouvi-las como se fossem 500 milhões de sinos"
Sophia era diferente. E eu estava perdendo tempo e tratando-a como lixo. Estava perdendo a oportunidade de ter uma grande amiga.
"Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas. Mas, eu fiz dela um amigo, agora ela é única no mundo."
# alguém aqui já leu "o pequeno príncipe"?
achei interessante falar um pouquinho sobre ele e espero que tenham gostado do capítulo <3