CAPÍTULO 34: Enxergar alguém

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                                         DANIEL

(alguns minutos antes...)

ERA NOITE E EU ESTAVA DEITADO na minha cama, com os fones de ouvidos, repetindo e repetindo o track de I See You - a musica que Sophia tinha colocado em um CD para mim.

De repente, a porta é aberta revelando uma Melissa agitada. Ela para assim que me vê e pergunta com uma sobrancelha arqueada:

─ Tá fazendo oque aí com essa cara de bobão?

Eu reviro os olhos e sou obrigado a pausar a musica que fiquei escutando ontem e hoje o dia todo, e que consequentemente não sai mais da minha cabeça.

─ Nada.

─ Tem haver com a Sophia, não é? ─ deu um sorriso sugestivo.

─ Porque tudo você acha que tem haver com ela? ─ retruquei, contendo meu sorriso. ─ Ela é só uma amiga.

─ Uhum, sei. ─ encostou a porta e cruzou os braços. ─ Uma amiga que te faz ficar sorrindo feito um bobão...? Qual é, seja homem!

─ Eu sou.

─ Só um menino não admite estar apaixonado.

─ Não estou apaixonado...

─ Tem certeza?

Não. E pra falar a verdade, eu tinha sérias dúvidas. Mas por outro lado, também tinha grandes ideias.

─ Você tá com o carro da mamãe?

─ Estou. ─ minha irmã sorriu. ─ No que está pensando?

Eu sorri de volta e não demorou para Melissa começar a me ajudar. Ela tinha feito um curso de costura e então, com alguns tecidos e papéis de cartolina colorida ela consegui facilmente fazer uma máscara. Eu tomei um banho rápido e vesti uma roupa elegante que encontrei no guarda-roupa.

Peguei o CD especial da Sophia e entrei no carro, com a Melissa no volante. Talvez eu estivesse totalmente maluco.

Minha irmã seguiu até a escola e eu tentava controlar a minha respiração até lá. Pra falar a verdade, eu tentava pensar em qualquer outra coisa a não ser a que eu iria fazer, para não perder a cabeça.

Porque não era só pela Sophia. Era por mim também. E pelo Todd. Por nós.

O estacionamento estava cheio. Isso me dava arrepios. Oque me consolava era que todos também estavam de máscaras e assim ninguém me reconheceria. Quando entramos, Melissa pegou o CD da minha mão e foi em direção ao DJ que controlava as musicas na caixa de som e então, eu me apressei em encontrar a garota que eu gostava, no meio daquela multidão mascarada.

Quando a nossa música começou a tocar, eu comecei a me desesperar, porque eu não a encontrava de jeito nenhum.

E então - como o destino - ela apareceu, sendo guiada pela música. Pela nossa música. E ela me viu.

─ Daniel, o que você está fazendo aqui? ─ andou até a minha direção. Seus olhos traziam significados que eu ainda não estava pronto para descobrir. ─ O quê... Por que essa musica tá tocando...?

No fundo, eu sabia que ela estava confusa e se perguntando se eu tinha haver com isso ou não. Fico orgulhoso em poder dizer que sim.

─ Quer dançar? ─ estiquei a mão, quando notei as pessoas ao meu redor formando pares para dançar a música lenta.

Sophia sorriu e suas bochechas grandes e rosadas iluminaram seus olhos. Se aproximou e eu tentei não tremer, enquanto posicionava minhas mãos em sua cintura.

─ Você que planejou tudo? Como você... Como conseguiu sair? ─ ela tinha varias perguntas, oque não era novidade, mas parecia surpresa - e esse era o meu objetivo principal. ─ Achei que estava chateado comigo.

Dei de ombros. Eu estava. Mas esse sentimento já tinha passado e então, ela não precisava saber.

─ Daniel. ─ ela parou de dançar. ─ Fala alguma coisa. Sério. Eu estou preocupada.

Respirei fundo. Já que ela queria que eu falasse, eu iria falar.

─ Não sei como começar... ─ sussurrei. ─ Você sabe que eu não falo muito sobre as coisas e realmente não confio nas pessoas. Mas confio em você. E... eu estava feliz trancado naquela casa, me matando aos poucos. ─ uma vez, ouvi alguém dizer que, ficar preso em casa é o modo mais triste e solitário de suicídio. ─ Mas aí então você me encorajou e pediu pra eu tentar. Daquele seu jeito irritante, quase me obrigou. ─ soltei uma risada fraca. ─ E pela primeira vez na vida parecia que alguém se importava.

Ela chegou e trouxe consigo surpresas, gargalhadas, olhares e sentimentos novos. Me mostrou algo que sempre estava ali na minha frente e eu não percebia. Me fez perder o medo e querer ir além do que eu arriscava.

─ Eu gosto de conversar com você e geralmente não gosto de falar com ninguém. ─ sorri. ─ E quero mais que tudo, fazer isso dar certo.

─ Então vamos fazer dar certo. ─ Sophia disse, sorrindo e se aproximando, colocando as mãos em volta do meu pescoço novamente.

─ Posso beijar você? ─ sussurrei, encarando seus grandes olhos castanhos brilhantes.

─ Não devia perguntar. ─ respondeu. E então eu a beijei.

Sophia me viu. Sophia me enxergou. Desde o primeiro momento. Ela sempre me enxergou. E eu acho que isso é tudo que alguém poderia querer. Ser visto. Ser notado.

Porque eu tinha sido invisível por quase toda a minha vida e então, de alguma forma, eu fui visto. E a mudança aconteceu. E foi algo tão sútil, que eu nem notei de imediato.

─ E então... ─ desgrudei nossos lábios e a encarei nos olhos, um pouco com vergonha. ─ O que vai fazer amanhã?

─ Está me convidando para sair? ─ ela arqueou as sobrancelhas surpresa.

─ Está dizendo sim?

─ Primeiro você. ─ sorriu.

─ Está sendo cordialmente convidada a ir na minha casa. ─ respondi, como se ela nunca tivesse estado lá. ─ E não é para estudar.

─ Bom, sendo assim... aceito o convite.

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