§ Olhares §

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As refeições no palácio de Asgard sempre seguiam um padrão, sempre no mesmo horário, com as mesmas pessoas à mesa em seus lugares de costume.  

Na ponta da mesa sentava Odin, com toda a sua imponência, em pé atrás dele um guarda segurava a gungnir, para que o rei não se afastasse dela; à direita de Odin ficava Frigga, sempre zelosa com todos, não dirigia muitos olhares ao esposo durante as refeições; ao lado dela sentava Sif que por insistência de Thor passou a ocupar um lugar na mesa assim como seus amigos; ao lado de Sif sentava Volstagg, devorava o que podia em um tempo relativamente curto; do lado dele Hogun que ria das atitudes do amigo e comia pouco; já à esquerda de Odin sentava Thor, que parecia competir com Volstagg para ver quem acabava primeiro; ao lado de Thor agora tinha um lugar vazio, era ocupado por Loki, ninguém se atreveu a sentar em seu lugar e Thor já sentia falta da implicância do irmão com os modos à mesa; ao lado senta Fandral, o colírio aos olhos das mulheres de Asgard, perdia em popularidade apenas para Thor.

E assim com a mesa completa as refeições seguiam, ninguém levantava antes de Odin, por respeito ao rei, isso nunca foi uma regra, mas todos cumpriam sem questionar.

Hellga conferiu pela última vez a bandeja que seria destinada à masmorra, estava com receio de mandar Sigyn sozinha, definitivamente lá não era um lugar para moças, ainda mais bonita como ela é iria chamar a atenção, não somente dos guardas, mas também dos prisioneiros. Nas masmorras estavam presos os condenados pelos mais diversos crimes, desde os mais bárbaros e cruéis assassinatos até as brigas de taberna por motivos fúteis.

Sigyn estava nervosa, uma coisa era ver Loki de longe numa festa no vilarejo, outra coisa bem diferente era ir até a masmorra. Todos em Asgard sabiam da condenação do príncipe e também sabiam que ele não estava muito contente com isso - e quem ficaria? - Histórias circulavam pelas vilas da cidade dourada, ela mesma ouvira que Loki estava descontrolado e que matou centenas de humanos em Midgard por diversão, outros diziam que ele ainda está assim e destruiu tudo que conseguiu na masmorra, boatos de que ele tentou matar um guarda porque a cela não consegue deter o poder dele.

Besteira na opinião dela. Ele é sim um feiticeiro muito poderoso e famoso por trapacear, mentir, pregar peças, mas tentar matar um guarda? Estando preso? Era uma história fantasiosa demais. Até mesmo para ela.

Sigyn sempre foi observadora, nunca gostou de simplesmente concordar com a opinião da maioria, ela sempre teve suas próprias opiniões sobre tudo e todos, sempre questionou decisões e não seria diferente agora. Sempre fora julgada por ser diferente, desde pequena não fazia somente o mesmo que as meninas da mesma idade que ela, diversas vezes o avô pegou Sigyn observando os treinos do exército, ela via os movimentos de luta e reproduzia sozinha, sonhava em ser mais que uma vendedora de pães e queria dar uma vida melhor para o avô. Ouvira histórias sobre as guerras que Asgard lutou, pedia para que o avô repetisse sempre antes de dormir e embaixo do travesseiro sempre estava a espada de madeira que ela guardava com tanto carinho, como uma forma de manter o sonho vivo.

O caminho até as masmorras era longo, ela deveria ser rápida, se ele é como dizem ela estaria atrasada e o que ela menos queria era ter uma indisposição com Loki logo no primeiro dia. Ao longo do trajeto ela via os guardas parados, alguns sérios e outros a olhavam com curiosidade, até cochichavam coisas entre si, mas ela não fez questão de ouvir.

Estava tão concentrada no mapa que Hellga lhe dera que quando olhou para o caminho percebeu as coisas mudarem, o alegre palácio de ouro maciço passava gradativamente para um lado escuro e sombrio, ali só haviam tochas nas paredes de pedra, sem janelas ou contato com o ar livre, se sentia quase claustrofóbica, mas tinha que continuar. Respirou fundo, desceu os poucos degraus que davam acesso a um portão de ferro, onde dois guardas parados do lado de fora sequer olharam para ela.

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