Quando somos privados de algo por um longo tempo, ainda que necessitamos dela em algum momento, terminamos por nos acostumar a viver sem ela. E nossa! Eu já passei tanto tempo sem ela, que se tornou algo insignificante. Eu não pensava sobre isso até o momento que meu pai, se aposentou e se mudou para essa minúscula e quente cidade. E tem aos poucos se aproximado de mim.A minha vida toda eu clamei por um pouco de atenção, um pouco de afeto e até de uma repreensão sua. Mas eu não conseguia nada dele, somente sua indiferença. Ele estava ocupado trabalhando, então quem me acariciava quando estava triste, contava histórias para eu dormir e me consolava quando eu caia era minha babá que era muito bem paga para isso. Mamãe também estava lá, mas se colocava tão distante quanto o marido.
O frescor em meio a minha vida infernal foi meu tio Mika. O homem não tinha que ter preocupação alguma comigo, não no nível que se submeteu a ficar comigo depois do que aconteceu. Mas ele tomou a responsabilidade de criar um garoto mal humorado e fechado para si. E o agradeço imensamente por isso, pois graças a ele hoje eu sou um pessoa melhor e que a maioria das pessoas consegue conviver.
- Seus pensamentos estão longe hoje garoto!
- Um pouco, não nego.
- Posso saber por onde andam?
- Nada que seja importante. - ele toma um gole de seu chá recém feito por mim. As bolachas recheadas, suas preferidas amontoadas em um pequeno montículo em um prato escuro diante de si. - Como foi no médico hoje?
- O mesmo de sempre.
- Seja mais claro tio, por favor!
- O tratamento está em andamento. É só isso que precisa saber! - diz simplesmente.
- Tio...
- Não use esse tom de compaixão comigo garoto.
- Só estou preocupado cacete!
- Não devia ficar. Descobri o câncer no início, em um exame de rotina. Então segundo o doutor Horácio, eu seguindo o tratamento a risca, tudo ficará bem no final. Satisfeito?
- Você me tira do sério sabia?
- Sabia! Não gosto que me tratem assim. Tenho câncer, não estou morto!
- É impossível conversar com você. - resmungo roubando uma bolacha de seu prato.
- Como foi lá? Se divertiram?
- Foi bom.
- O que mais?
- Bom. - escuto - o bufar baixinho. O silêncio caindo entre nós. - Não sei se era imaginação minha ou algo do tipo mas posso jurar que vieram a minha mente algumas lembranças.
- O que te faz pensar isso?
- Nessas lembranças, Gustavo e eu éramos realmente felizes.
- Te asseguro que não é algo de sua cabeça garoto. Você e seu pai costumavam pescar quando era pequeno.
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RENDIDO A ELE - COMPLETO
RomancePrimeira capa by: Patrizia Evans Segunda capa by: Kathy A Spin - Off de Campos de Esperança Sinopse temporária André Lins, chega a Campos de Esperança para ocupar o lugar do tio doente. Para ele seria somente por um tempo. Não estava a procura de am...