Como um cobertor em um dia frio, assim foi o alívio sobre mim quando vi André bem ao lado de fora do meu carro. Eu já não ouvia mais meu pai que falava em disparada. Minha atenção única e exclusivamente estava focada no homem alto, loiro e muito suado observando - me atentamente. Os olhos azuis claros, atentos em meu rosto. Eu podia ouvir Manu grunhir de dor e as vezes gritar.
Como um desvairado sendo assaltado por um golpe de adrenalina, salto do banco do motorista, agarro André por suas roupas de corrida úmidas, não me importando nem um pouco com esse detalhe e o jogo no meu lugar. Dou a volta me sentando ao lado de Manu. Ela arfa e está totalmente úmida pelo suor. Aperto sua mão tentando lhe passar algum conforto. Ainda atordoado, ele suspira enquanto olha entre mim e minha amiga.
- É você mesmo! - grito e sussurro simultaneamente. - Me leva para o hospital!
- O que?
- Está surdo! Preciso ir para o hospital. - o silêncio se segue dentro do carro por mínimos segundos, massageio minhas têmporas, tentando me acalmar e me portar como gente. - Me desculpa, estou nervoso.
- E eu com dor!
- Só nos leve até o hospital. Depois se quiser, pode ir embora. - ele nada diz. Só pressiona o pé no acelerador nos levando para longe dali.
Durante todo o caminho meu pai, através do som do carro, dizia palavras calmantes para Manu. Perguntava sobre os intervalos das contrações e os níveis de dor que vinha a sentir.
André se manteve quieto, os olhos as vezes se voltavam para nós no banco de trás. Eu tentava com todas as minhas forças, acalmar de alguma forma a minha amiga. Sua mão estava gelada contra a minha, as vezes ela se perdia em pensamentos para logo rugir para a vida, quando outra contração lhe acertava em cheio.
Quinze minutos depois estacionamos em frente ao hospital. Papai havia ligado para a recepção e então um grupo de enfermeiros já nos esperava na entrada. Um tanto perdido os acompanho, deixando meu motorista particular por uma noite para estacionar na vaga correta.
Enquanto minha amiga é levada, sou forçado a ficar na recepção e fazer sua ficha. Lentamente retiro os documentos dela de sua bolsa, entrego para Denise, a substituta de tia Suzy essa noite. Depois de pronta, sou encaminhado até uma cadeira, me sento ali esperando por notícias. Não demora muito e meu pai juntamente com toda a minha família surgem através das portas duplas de madeira maciça do lugar.
Em um piscar de olhos sou esmagado em um abraço de urso pelos braços de minha mãe. Meu forte, meu lugar seguro. Papai beija minha testa dizendo que vai procurar o obstetra de plantão. Tia Lu e Lili vão até a lanchonete para pegar um café para nós. Fê está estranhamente quieto em um canto afastado de nós. André surge com as mãos nos bolsos, postura ereta e olhar firme. Aperta meu ombro, permanecendo ali. Como se fosse meu apoio.
Enquanto esperamos por notícias, solto e prendo meus cabelos, acho que com isso eu tenho algo para fazer com as mãos. Mamãe sussurra uma vez ou outra que tudo ficará bem. E eu acredito nisso. Ou pelo menos quero acreditar. Me lembrar de nossas conversas muitas vezes animadas ou reflexivas ao extremo me tem com falta de ar, perdido e meio cego para tudo. Repassando nossas poucas mas preciosas lembranças, eu sinto que nos conhecemos há anos e não pouco menos de um mês apenas.
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RENDIDO A ELE - COMPLETO
RomancePrimeira capa by: Patrizia Evans Segunda capa by: Kathy A Spin - Off de Campos de Esperança Sinopse temporária André Lins, chega a Campos de Esperança para ocupar o lugar do tio doente. Para ele seria somente por um tempo. Não estava a procura de am...