• QUARENTA E UM • ANDRÉ

4.1K 436 99
                                    

Inspirando e expirando lentamente, meus pés se chocam contra o concreto em uma corrida de velocidade média

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Inspirando e expirando lentamente, meus pés se chocam contra o concreto em uma corrida de velocidade média. Meu corpo está quente e suado e me sinto bem. Pelo menos bem melhor se comparado ao momento que despertei hoje. As lembranças do passado que me sobrecarregam em forma de pesadelos estão marcadas em mim como uma tatuagem.

Fazia tempo que não tinha um pesadelo desses. Quase três meses dormindo tranquilamente, me fizeram pensar que estava tudo bem. Mas acredito que nunca estará tudo bem. Resta a mim lidar com a realidade de que minha própria mãe desistiu da vida por causa de um homem que não a amou como deveria. Que me deixou sozinho para quase ficar a deriva, se não fosse por meu tio. Que fui marcado a tal ponto que me fechei totalmente para a vida. Uma mulher que colocou em risco a vida do próprio filho por duas vezes. Pisco algumas vezes quando uma única lágrima desliza por minha bochecha, olho ao redor e constato que ainda estou sozinho, muitos ainda dormem nesse horário. Amor e ódio combatem continuamente dentro de mim. É tão cansativo as vezes.

Paro no banco de madeira polida do parque que fica no centro da pequena cidade. Lugar esse que já me acostumei a estar com meu namorado e sua bebê. Os momentos que passamos aqui são tão bonitos, a uma maneira inexplicável. A sensação de completude é real quando estamos somente estando lado a lado, ombros se tocando e dedos entrelaçados. Fecho meus olhos, deixando minha cabeça cair contra ele. De repente minha pele se arrepia mesmo estando úmida e quente pelo suor fruto da corrida. Me coloco de pé vasculhando ao redor em busca de alguém. Estou sendo observado. O som de algo se quebrando me tem olhando para a direita em um beco que fica entre a padaria da cidade e a farmácia.

Dele sai um homem que me observa atentamente. Ele usa uma calça jeans clara desbotada, sapatos no mesmo estado e blusa de frio. Os cabelos são raspados rente ao couro cabeludo, os olhos em fendas quando me fita de cima a baixo. Neles há algo sombrio, o que me faz arrumar minha postura. Nunca fui de brigar, sempre procuro resolver tudo com um diálogo aberto mas se esse homem diante de mim, partir para a agressão, não vou me conter. Atrás dele mais dois homens se juntam a ele, que está a quase cinco metros de onde estou. Engulo em seco, o que alimenta o humor deles que gargalham parecendo debochar de mim. Pego meu celular em meu bolso pronto para chamar a polícia e é quando eles recuam, com os rostos mostrando frustração.

- André?

- Graças a Deus! - guardo meu celular com as mãos trêmulas, logo me apoiando em meus joelhos também instáveis. Tentando respirar o mais calmamente possível. O som da porta de um carro soa afiado no silêncio que se seguiu.

- Você está bem? Parece pálido. - uma mão se enrola em meu ombro.

- Só um minuto! - ergo um dedo no ar, olhos fechados firmemente. Quando estou calmo e meu coração não parece que vai deixar minha caixa torácica, me ergo ficando um pouco mais alto que ele. - Vinícius.

- Quer se sentar? Ou posso te dar uma carona?

- Não, estou bem. - minha voz sai rouca. Volto minha atenção para o beco, seus olhos seguem na mesma direção. - Viu aqueles homens?

RENDIDO A ELE - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora