• QUARENTA • PEDRO

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Eu vou enfartar

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Eu vou enfartar.

Essa é a única certeza que tenho enquanto vejo a estrada passar como um borrão. Tanto minhas pernas quanto minhas mãos estão trêmulas devido a ansiedade percorrendo meu corpo. No momento que recebi a ligação me informando de que recebi a custódia temporária de Dudu, eu não podia mais falar normalmente ou andar como um ser humano comum, estava nervoso demais para tal ato. A realização de que meu filho finalmente estaria em casa, sob meu teto e em meus braços me bateu com força total. Por isso liguei para meu pai ir né buscar em meu trabalho e pedi que me levasse para a cidade vizinha onde meu filho estaria me esperando.

Recebo um aperto firme em meu ombro, olho para o lado e encontro o rápido olhar de meu pai antes que volte sua atenção para a estrada. O homem que ajudou a me criar como se tivesse seu sangue, que me apoiou em tantas das minhas escolhas, nunca me julgando. Me lembro do momento que decidi contar para Vagner sobre minha orientação sexual. Todos em minha casa já sabiam, menos aquele que me deu a vida. E o medo de ser rejeitado por ele era surreal. Não tendo um relacionamento tão próximo dele, por morar em outra cidade ele ainda era meu pai. No entanto enquanto estávamos esperando na sala de casa, Henrique me disse uma das muitas palavras que nunca vou esquecer: Eu te amo filho, não importa a opinião de Vagner. Você continuará sendo meu filho. Ele que lide com as consequências de suas palavras depois. Naquele dia descobri o poder do amor que ultrapassa qualquer laço sanguíneo.

Meu celular toca em meu bolso. Busco por ele pensando ser André. Nos despedimos hoje pela manhã com um beijo quase obsceno em frente de minha casa. Ambos queriam estar mais um pouco na cama, curtindo a companhia um do outro mas nossos trabalhos nos chamavam. Assim que vejo o nome piscar na tela, sinto como se tudo perdesse o foco e somente minha respiração ruidosa pudesse ser ouvida há quilômetros de distância. Aperto o aparelho com força em minhas mãos, as lágrimas inundando meus olhos, mas puxo o ar com força para impedi - las de cair. O sentimento de saudade é quase sufocante.

- Não vai atender filho?

- Eu...- pisco uma única vez, uma lágrima quente e dolorida escorre por minha bochecha.

- Devia atender. - diz lentamente.

Com um movimento automatico, atendo. Eu não digo nada, muito menos ele. Só o que pode ser ouvido são nossas respirações, mas há tanto a ser dito.

- Estou feliz que conseguiu mano.

Sua voz. Uma das coisas que mais senti falta meses quase oito meses de distância. Nela havia tanta vida, alegria e suavidade. Mesmo que seus atos fossem um tanto bruscos, no abraçar, no brincar ou até uma simples carícia. Felippe era a mistura perfeita de minha mãe e nosso pai. Assim como ele tinha toda a alegria dela, também carregava a característica de guardar alguns sentimentos para si mesmo. Foi o que fez quando decidiu ir embora quando Manu se foi. Não o vi sofrer seu luto. E nem ele esteve aqui por mim, mesmo tendo nossa família ao redor precisava dele comigo.

RENDIDO A ELE - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora