• VINTE E NOVE • PEDRO

4.3K 471 86
                                    



- Tio Pedrinho!

Eu não sei quem correu primeiro, se eu ou o pequeno menino de cabelos castanhos longos e um enorme sorriso em seu redondo rosto. Em um piscar de olhos, eu o tinha em meus braços. Foi difícil conter as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos. Enquanto eu beijava todo o seu rosto, aspirando seu cheiro que agora era uma mistura do shampoo que é usado no Lar de Luz e álcool, fiz o possível para não mexer em seu braço. Ainda não estava engessado somente imobilizado mas de acordo com que meu avô falou no caminho para cá, isso seria feito amanhã após a consulta com o ortopedista.

- Me assustou sabia? - ele nega ainda sorrindo, se move um pouco e geme de dor. - Cuidado com o braço tudo bem?

- Sim, tio Pedrinho! - com seu braço bom, envolve meu pescoço enfiando o rosto nele.

- Agora me conta o que aconteceu para se machucar assim? - automaticamente ele se retrai, mesmo estando corpo a corpo comigo, o distanciamento emocional que se instalou entre nós é sufocante. Pigarreio para tentar outro assunto. - Como andam seus desenhos?

- Eu fiz um monte, quer ver? - os olhinhos brilham, afastando a desconfiança de lado. Com o coração aos saltos, decido não tocar no assunto. Teria de conversar com Raquel e Isabela de qualquer forma.

- Ainda sou seu modelo favorito?

- O único! - o abraço apertado. Olho ao redor da sala abarrotada de brinquedos mas vazia de qualquer criança.

Me sento no sofá mais próximo, Dudu pega suas canetas coloridas e seu caderno já usado pela metade e fico mais feliz ainda que ele esteja realmente usando aquilo que lhe dei.

Seu minúsculo dedo aponta para o desenho de uma casa, um céu que ostentava diversas cores e três pessoas. O primeiro que parecia um adulto com cabelos pretos até os ombros tinha a mão envolta da do menino que certamente era ele. E havia uma pequena bola rosada.

- E essa quem é?

- É Ella! Ela é pequena não é? Como minha irmã?

Fecho meus olhos firmemente, uma dor de cabeça ameaçando me destroçar com tudo depois que sair desse hospital. Olho ao redor notando as mesas coloridas próprias para crianças espalhadas por todo o cômodo, os ursos de pelúcia, as bonecas, as massas de modelar, os quadros pendurados nas paredes, eram artes de crianças que já estiveram aqui, as almofadas beges, as grandes janelas de vidro que davam para um  pátio onde alguns bancos brancos estavam.  Sinto um leve toque, Dudu me observa atentamente. E por um momento não vejo um menino de sete anos de idade que tem toda a inocência do mundo mas sim uma alma amorosa, pronta para abraçar todo aquele que de permitir.

Em seus olhos vejo a saudade que ele não mostra para ninguém. Ele sente falta da irmã, meu Deus.

- Hum...- engulo algumas vezes. - Sim, ela é um bebê muito fofo. Sabia que ela gosta de puxar meus cabelos?

- Sério? - concordo silenciosamente. Me lembrando de quando falei de Ella para ele quando tomávamos sorvete dias atrás.

- Muito sério!

- Seus cabelos são bonitos. Escuros como a noite. - acaricio sua bochecha e me deixo ser guiado por seus desenhos. Ele explica pacientemente o que cada um significa. É linda a maneira que ele se dispõe a falar de sua arte acabo me lembrando de minha mãe.

- Podemos conversar? Ele está bem vê? - Raquel diz a partir da porta rosa choque. Beijo os cabelos soltos de Dudu, mais uma vez ele me abraça.

- Eu vou estar na sala ao lado tudo bem? - a tristeza em seu rosto quase me derruba.

RENDIDO A ELE - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora