INCÓGNITA • pjm✕jjk

• CORRA • 33

Jungkook POV

A extensa mesa de jantar nunca esteve tão cheia quanto hoje, minha participação nos jantares como membro da família já não era presente e saber que muitas pessoas ocupavam todo o local me causava calafrios. Em vista disso, dei meia volta às escadarias e segui até o meu antigo quarto, onde descansei sem nada no estômago. Meus nervos afloravam antes do esperado, sentia fortes espasmos enquanto dormia. Mesmo que estivesse sob efeito do subconsciente, eu conseguia perceber os impulsos que o lobo projetava em meu interior. Em silêncio, temia pelo pior.

Todo descontrole, cargas de adrenalina e até mesmo os movimentos involuntários eram frutos da falta que Jimin fazia. Querendo ou não, o ômega se tornou algo semelhante a um calmante e supressor para mim. A minha tranquilidade podia se manter intacta sem a intervenção de drogas, mas a solução só mostrava eficácia na presença do outro. Torci para que o evento fosse breve, os participantes não me aborrecessem e que os conflitos fossem mais pacifistas esse ano. Recusei todo tipo de supressor ou medicamento semelhante, afim de que pudesse desempenhar o meu melhor resultado. No entanto, sofria as consequências do caos que o lobo trazia, instintos rebeldes me aborreciam tremendamente e mesmo com muito esforço, não conseguia reprimi-lo como gostaria.

Rangia os dentes em um sono que deveria ser pleno e quieto. Em minha têmpora, uma larga gota de suor escorria e meu corpo estremecia quando os picos de adrenalina me atingiam. Rosnava quando lembrava dos que estavam presentes em meu habitat natural e choramingava de saudade ao me recordar do rosto de Jimin. Os comandos perdiam o controle feito um anestésico, lentamente e sem que pudesse interferir, meu interior lupino parecia tomar conta. Despertei como quem acaba de subir à tona do mar, o rosto úmido e uma intensa falta de ar contraindo o peito. Puxei o relógio velho em minha escrivaninha, mentalmente marquei as horas e levantei o mais rápido que pude. Um banho frio me trouxe para a realidade outra vez, o cheiro intenso que exalava da minha derme, nada mais era, que estresse em sua forma genuína. A noite foi intensa, com direito a pesadelos e sequências de espasmos pela cama, mas minha tarefa principal precisava ser cumprida. Por isso juntei os resquícios de sanidade que ainda me restava e me preparei para enfrentar mais um dia de luta, literalmente.

A matilha já se preparava para ir até a floresta de resistência. O evento seria coberto pelas emissoras de todo o reino, aconteceriam entrevistas e tudo o que envolvia a tão insuportável imprensa. Contra a minha vontade coloquei um traje desenhado pela costureira da capital e guardei em minha mala um outro mais adequado para suportar três dias na mata. Peguei o que era necessário e apaguei as luzes do quarto, direcionando finalmente rumo à floresta.

"— Um pouco atrasado, talvez Minjung vá me dar uma bela bronca." - Murmurava enquanto ajeitava as vestes.

A floresta de resistência não era tão longe, num raio de cinco quilômetros, já era visível a movimentação do local e das barreiras de contenção. A imprensa lotava o lugar com seus equipamentos tecnológicos e suas decorações extravagantes. Uma multidão de plebeus do Fogo rodeava atrás das emissoras e no semblante de cada um era possível ver uma euforia enérgica. Todos estavam animados com o evento, não seria apenas mais um dia comum em suas vidas pacatas, pois em breve teriam a oportunidade de  preencherem seus estoques de comida e finalmente gozarem de um tempo livre de trabalho.

Avistei os irmãos da Colônia do Carvão saudando a todos, se preparando para adentrar na floresta, enquanto caminhavam por uma extensa tapeçaria vermelha. Segui o mesmo trajeto que os demais, andei tranquilamente e fingi não notar a presença dos holofotes. Porém, assim que notaram a minha presença, os gritos histéricos e agudos invadiram meus tímpanos.

— Jeon Jungkook! - Um repórter clamava por minha atenção. - O que tem a dizer à sua população neste evento tão importante?

— Darei o meu melhor, estarei com os olhos na luta e a população do Fogo no coração. - Respirei fundo, acenei ao meu povo e me despedi em seguida.