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Está tudo como planejado.
Não paira vento, não há céu que eu sinta e chove longínqua e indistintamente. A relva lavada pela água das nuvens encharca onde as pessoas passam. A chuva cai retilínea como as minhas lágrimas à procura de um socorro pelo sofrimento. Os sapatos sociais bem surrados calçavam os camponeses, os mesmos usados apenas em ocasiões importantes. Marchavam com o caixão empachado de flores e coroas. O aroma de óleo recém queimado que exalava pela lamparina dos familiares trazia as dores mais profundas. A miséria emanava tudo o que as pessoas que mais o amavam podiam sentir naquele momento. Lamentava noite e dia a ausência de sua companhia.
"— Hin, por que se foi tão logo?"
Há tanto que teria de aprender com você. Este é o auge da minha vida, vou me tornar rei e não será possível que seja o meu conselheiro real. A sua fartura seria maior, a tua família poderia finalmente viver conosco em uma área nobre. Eu planejei este momento por anos ao seu lado e os meus sonhos tomaram forma e se projetaram pelo o que me ensinou e me disse. Toda da minha sabedoria você foi autor, sem exceção ou modéstia. Mas agora não poderei mostrar-lhe que conseguimos, nós vencemos Hin. Eu finalmente me tornei rei, minha nova alcateia ganha forma e planejo fundar uma nova colônia. Sua presença seria essencial e sem dúvidas primordial em minha coroação. Seria você quem colocaria aquela circunferência de ouro puro em minha cabeça e anunciaria meu novo cargo. Diria em voz alta: "— Rei Jeon Jungkook!"
"— Por que se foi tão logo?"
O meu choro era pesado, pesava mais que uma nuvem carregada, porque levava a tristeza que também escorria pela grama. Nessas horas de silêncio e de tristeza, eu posso ouvir ao longe, cheio de mágoa e de dor, o sino da capela que toca tão alto e solitário, o som mortuário que anuncia a sua ida aos céus ou talvez a algum lugar que o resguarde. O eco em meu peito vazio diz que a saudade será minha companheira por um longo tempo.
Sou único capaz de entender minha tristeza, a minha dor e a minha verdade. A mesma que se esconde para agradar ninguém. A dificuldade de se caminhar após uma queda avassaladora é inexplicável, porque mesmo depois de cair, tive que resistir e sangrar por dentro, outra vez em silêncio.
— Estou aqui, tudo ficará bem! - A voz miúda e quebradiça de Jimin aqueceu minimamente o meu peito dilacerado.
É injusto vê-lo assim, mas dói tanto saber que Hin não está mais aqui, que me torno incapaz. Eles tiveram seu laço durante alguns meses e o beta foi responsável por vários dos sorrisos brilhantes de Jimin. E mesmo que não seja certo equiparar dor, o que eu sentia era algo devastador.
Ele desempenhou um excelente trabalho como pai, como o meu segundo pai.
— E não se esqueçam irmãos, que aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do onipotente descansará. - O reverendo rezou alguma prece aos familiares e por fim deixou o local.
Mais flores foram postas sobre sua sepultara.
— Quer dizer alguma coisa, querido? - Secava minhas bochechas com o lenço macio de Jimin. E não mais que um aceno negativo fui capaz de responder.
Um corpo presente para um coração ausente. Ensinaste uma fragilidade que não queria ter aprendido.
— Volte para casa, já é quase o jantar, está frio e você precisa cuidar do nosso filho. - Pedi com um fio de voz. - Vá. - Insisti outra vez, mas agora prestes a chorar por sentir suas mãos prenderem em mim.
— Tudo bem. - Ele selou minha têmpora e com sua mão direita alisou suavemente meu rosto, e então deixou o cemitério junto aos familiares.
Por quase horas permaneci ali, você em teu sono profundo e eu em minha quase lucidez. O orvalho congelado passou a preencher as rosas vermelhas estiradas sobre sua sepultura de mármore. Naquele momento lentamente a árdua realidade banhava a minha mente.
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INCÓGNITA • pjm✕jjk
FanfictionNão é uma leitura para qualquer um. Park Jimin, o ômega da Colônia das Névoas que minutos antes de uma reunião que poderia decidir o futuro do seu casamento, é surpreendido por algo bizarro dentro da floresta. Lute pelo amor. Jeon Jungkook, o alf...