Capítulo 39

185 25 5
                                    

Já esperara demais!

Um vento frio que cortava o ar ainda trazia o cheiro da noite, de longe um vulto de uma jovem parecia também perdida na solidão da escola vazia. Ela parecia...

- Millie?!

A menina se voltou para ver quem chamava por ela, apesar de ser inútil tal gesto, pois já sabia quem era... Reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

- Finn...- o nó no estomago da menina pareceu apertar mais do que ela podia suportar.

 Não esperava vê-lo, apesar de estudarem juntos, na mesma escola, na mesma sala, era como se de alguma forma tola, esperasse que, simplesmente, não fosse vê-lo.

 - Caiu da cama?- Ela tentou ser natural, mas qualquer coisa que dissesse ou fizesse a parecia extremamente forçada

O rapaz, há passadas largas, já havia alcançado a garota e agora estava diante dela

- Pelo jeito parece que não fui o único.

- É, pelo jeito não foi...

Foram caminhando lado a lado, como tantas vezes fizeram antes, mas agora parecia haver um abismo entre eles, ou talvez não. Talvez eles estivessem tão próximos como sempre estiveram, mas tivessem medo de perceber isso.

Sim, era mais cômodo pensar que, agora, estavam distantes demais.

- Você sabia que vai ter um eclipse da lua essa noite?

Wolfhard perguntou, tentando quebrar o desagradável silencio que se instalou sobre eles.

- É, eu soube.

- Imagino que deva ir... Com o... o seu... seu namorado- a voz do garoto saiu hesitante

- Meu namorado?- Brown parecia intrigada, por um momento se esquecera da mentira que contara para o amigo horas atrás.

                                                                              ***


O sol tornou pálida a noite que ainda se fazia presente sobre o céu.

Millie acordou. Parecia ter acordado na mesma posição em que dormira, abraçada ao porta-retratos, onde agora, havia marcas de lágrimas que rolaram sobre ele, silenciosas como a noite.

A menina caminha até a janela.

O dia ainda parecia indeciso se devia ou não expulsar a noite, o ar frio entrava pela janela aberta e tratava de tirar de seu rosto vestígios de sono.

- Dizem que não há nada como uma dia após o outro...

A menina sorriu para a pálida luz que despontava no horizonte, beijou a imagem do rapaz que do porta-retratos sorria para ela e o guardou dentro de uma gaveta do criado-mudo. Ela colocou o uniforme, apesar de saber que ainda era cedo demais para ir para a aula, apanhou seu material e andou em direção a porta de seu quarto. Abriu a porta, já se preparava para sair quando lançou um último olhar para a gaveta onde havia colocado a fotografia.

- Te amo o bastante para não precisar de uma fotografia, talvez eu te traga tanto dentro de mim que até posso sobreviver sem você. Mas viver... Bem, viver talvez nunca!

A menina fechou a porta, deixando o quarto vazio, mas levando em seu coração "fotografias eternas" que não precisam ser carregadas, e sobre as quais é impossível chorar.

                                                                                           ***


Finn passava pelo pátio do colégio, que estava vazio, havia chegado cedo demais. Acordara cedo demais, ou melhor, não conseguira dormir. Pensara em ficar um pouco mais na cama, mas não podia mais suportar a ideia de ficar parado... esperando.

- É o Lieberher, lembra?- a voz do rapaz perdeu toda a hesitação, ao mesmo tempo em que lançou um olhar desconfiado para a garota diante de si.

- Claro... que não... não esqueci- a voz da menina saiu tão fraca que ele mal pode ouvi-la- Acho que sim... Ainda não sei se vou.

- Não sabe?- Finn olhou para a menina incrédulo, alguma coisa parecia estar errada, no entanto, achou melhor não falar nada- Pensei que nada no mundo te fizesse ficar longe das estrelas

- Quando você percebe o quanto as estrelas estão longe... Bem, então você entende que não adianta o que faça, nunca estará perto delas...

minha estrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora