Capítulo 17

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O cacheado olhava desanimado para o céu.

Estava chovendo.

Sua cabeça dava voltas, seu coração parecia partido em tantas partes que ele sequer as reconhecia.

Estava chovendo.

As lágrimas que ele não derramava pareciam estar presentes na chuva que caia. Ele abriu a janela, respirou as lágrimas que vinham na chuva, as lágrimas que eram suas.

Estava chovendo.

Sempre amara Iris, desde  sempre esperara por ela, desde sempre a tivera em seu coração, mas agora tinha medo. E se tivesse amado uma ilusão?

Estava chovendo.

E se todo o amor que ele sentisse fosse uma miragem, fosse uma farsa, fosse em vão? Então o que ele amaria?

Estava chovendo.

"Millie"

Millie estava sempre ao seu lado, era linda, de uma beleza tão pura e rara. 

Mas Iris... Iris foi a única pessoa que ele já amou na vida, como poderia amar alguém que não fosse ela? 

Como poderia saber que é amor, se esse foi um sentimento que ele só conheceu ao lado de sua Iris?

O interfone tocou, arrancando-o de seus pensamentos.

-Pronto- Finn disse atendendo o interfone, estava no automático, sequer reparava no que fazia.

- Desce que eu estou te esperando.- a voz de Iris soou fria.

- Não imaginei que te veria tão cedo.- falou assim que desceu e encontrou com a garota na portaria.

Estavam no hall de entrada do prédio, não havia ninguém lá, apenas os dois, e o imenso vazio que se estendia entre eles. Finn reparou então nas malas que ela trazia.

- Vejo que pretende viajar.- ele falou com uma voz baixa

- Não tem nada que me prenda aqui.- a voz dela era fria, como sempre, não demonstrava nenhum sentimento, nada.

- Nada?

- Não.

- Para onde você vai?

- Ainda não sei, acho que só quero sentir o vento no meu rosto e saber que eu sou livre. Livre para escolher o destino que eu quiser, livre para ser quem eu sou.

- Você não pode ser livre aqui?

- Acredita em vidas passadas, Finn?- a voz de Iris perdeu a costumeira frieza, quase parecia sincera.

- Você sabe que não, não acredito em nada. E até onde eu sei, você também não.

- Acho que estou passando a acreditar. Às vezes me pergunto porquê sou assim, porquê preciso me sentir livre, porquê tenho tanta necessidade de me saber senhora do meu destino.

- E achou a resposta em alguma outra vida?

- Não sei, mas algo me diz que em alguma outra vida eu deva ter tido um destino muito triste, sendo obrigada a viver uma vida que não queria.

- Por isso agora você decidiu que não vai querer vida alguma além de correr atrás de sonhos, que você amontoa na estante como troféus?

- Eu não sei.... Não sei porque falei isso com você, sabia que não entenderia. Só vim aqui para te dizer adeus.

- Quanto tempo você vai ficar fora?

- Não sei- ela olhou para a porta de saída da portaria e voltou seus olhos para os intensos olhos castanhos a sua frente - Eu te amo, Finn. Amo, porque você é o meu porto seguro. Te amo, porque eu sei que, por mais longe que eu vá, por mais que eu demore, você estará sempre aqui. Te amo, porque você me perdoa, aceita as minhas fraquezas, te amo. Mas eu confesso que não sei amar...- os olhos de Iris estavam repletos de lágrimas, mas ela não chorava, sua voz, estava embargada de emoção, mas não falhava - Não da forma como você quer, como você merece. Eu só sei te amar a distância. Eu te amo por poder partir e sempre poder voltar para você.

- Não sei se posso esperar por você dessa vez.

- Não espere - pela primeira vez o cacheado ouviu a voz de Iris não fria, mas sim um suspiro sincero.

- Você vai voltar?

-Não sei.

-Eu te amo - naquele momento sabia que essa seria a última vez que ele diria essa frase para ela. Aquela era sua despedida.

-Adeus Finn.

minha estrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora