Nina
1 mês depois...
Olhando pela janela do meu apartamento eu podia ver toda cidade. Estava nublado e com cara de que ia chover, mas isso já não era mais nenhuma novidade para mim. Depois de dois anos a gente se acostuma, apesar de ainda ser estranho ver aqueles prédios grandes ao redor e saber que lá embaixo havia muito barulho e trânsito.
Com a xícara de chá de camomila com maracujá na mão, reflito sobre como tive que me deixar cair no fundo do poço para respirar fundo e depois voltar escalando cada "tijolinho". Entretanto, não podia ficar no caminho que estava e precisava parar de ouvir toda a coleção de sofrência que existia e meus pensamentos que me faziam vítima. Chega! Respiro fundo e começo a me preparar para aula de yoga que começará daqui a meia hora.
Derramo o restinho do chá na pia, lavo minha xícara e vou em direção ao meu quarto para colocar uma roupa adequada, o privilégio de não ter vizinhos e ter as janelas escurecidas pelo insulfilme, era poder sair do banho e andar de toalha ou pelada livremente em casa.
O estúdio de yoga ficava perto, então sempre ia a pé, pelo caminho mais arborizado que tinha, assim, conseguia me desestressar um pouco, o contato com a natureza sempre me deixava calma.
***
Nabia, me esperava sempre na porta do estúdio com um sorriso largo, e esse simples gesto me fazia sentir querida e bem-vinda! Na verdade, o nome dela é Ana Beatriz, mas como adorava colocar apelidos nas pessoas eu criei um para ela. Nabia, nada criativo, em comparação aos que ela inventava, mas, mesmo assim, ela adorou e até se apresentava assim.
Eu já praticava yôga na Itália, então quando comecei a frequentar o atual estúdio já sabia as posições. No início não interagia com ninguém, não estava pronta, o yôga era meu momento. Ficava sempre ao fundo e saia assim que aula acabava, porém já reconhecia alguns rostos. Nabia sempre tinha um sorriso para mim e eu me sentia acolhida, mas nunca conversavamos. Em uma aula, na posição Mukha Svanasana, posição do cão com cabeça baixa, ouvi um som duvidoso, acabei me desconcentrando e levantei a cabeça em direção ao som, todos mantinham a concentração e a posição, menos Nabia, que também procurava ao redor a origem do som, nos entreolhamos e seguramos o riso.
Na mesma tarde fui comprar alguns livros no shopping, em vez de voltar para casa, preferi jantar na praça de alimentação. Enquanto escolhia o que comeria, avistei Ana Beatriz saboreando sua comida japonesa, ao me avistar acenou com mão. Não sei o motivo, mas me aproximei dela e com um sorriso largo ela me perguntou baixinho se eu também tinha pensado ser um pum na aula mais cedo. Soltei uma gargalhada e acabei sentando junto a ela, mostrei uma reportagem do site GLAMOUR escrito por Natália Leão, no qual descreve o dia que sem querer a autora tinha soltado um pum na aula de Yôga. Era um assunto inapropriado para o momento, mas fluiu e desde então nos tornamos amigas.
Não praticava yôga perto dela, mas sempre nos entreolhávamos quando a posição era engraçada. Após as aulas sempre tirávamos um momento nosso, seja para comer ou apenas jogar conversa fora no parque próximo ao estúdio.
Minha amiga já presenciou algumas crises de pânico, gatilhadas quando via um SUV prata, ainda me sentia perseguida pelo marmota do meu ex. Absurdo, já que ele deveria estar a quilômetros de distância trabalhando ou enroscado com alguma mulher, ou duas. Com a ajuda dela encontrei um bom terapeuta na cidade. Minhas crises quase não aconteciam, devo minha melhora a Nabia, ao seu acolhimento como uma filha, a sua paciência, a sua amizade, ao seu amor.
Era uma senhora espetacular e simpática, temos uma relação muito recíproca, sincera e amorosa. Mesmo com nossa diferença de idade, ela com 65 anos e eu com meus 27 anos de idade, conseguíamos ser muito próximas e nos dávamos muito bem. Isso também é uma coisa que mudou nesse ano revolucionário da minha vida.
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Onde foi que me perdi? [[Completo]]
ChickLitIMPORTANTE: História completa, deixaremos na íntegra por um longo período. ;) Sinopse: Às vezes, um relacionamento abusivo pode mudar a vida de uma pessoa para sempre. Foi o que aconteceu com Nina, uma jovem que deixou a cidade que amava para fug...