Capítulo 4 - Estanca o sangramento

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Nina

Tinha acabado de chegar em casa quando meu celular começou a tocar repetidas vezes, não precisei nem olhar para saber quem era, eu tinha faltado a aula de yoga depois daquele fatídico dia, não queria encarar minha amiga, ela ia querer saber mais e eu não estava pronta para contar.

Nossa amizade era coisa do presente, eu era Nina para ela e quero continuar sendo, sem vestígios da mulher machucada que um dia eu fui.

- Oi, Nabia. - digo ao atender a chamada, coloco meu celular entre meu ombro e orelha enquanto largo minha bolsa sobre a cadeira da sala de estar.

- Nina, está tudo bem? Caio me falou que você saiu correndo e nem se despediu... Fiquei preocupada, menina. - Minha amiga estava com um tom de preocupação na voz.

- É... Está sim. Só mais uma esquisitice minha. Precisei ir embora. Só isso.

- Você sabe que essas "esquisitices" têm tratamento, né querida? Você continua fazendo suas sessões com o psicólogo? Faz tempo que não conversamos sobre suas crises de pânico.

Ah droga, não queria deixá-la preocupada. Nabia já tinha presenciado algumas crises, mas assim que comecei meu tratamento psicológico e iniciei minhas aulas de yoga, tudo parecia se encaixar tão bem. Diferente de antigamente quando me sentia sozinha e desprotegida. Agora não era o caso, mas para explicar teria que contar tudo que senti na hora.

- Estou sim. Já estou melhor! Não precisa ficar preocupada. Peça desculpas para o Caio, por mim!

- Por que você mesma não se desculpa? - E riu, a risada mais travessa que já tinha ouvido.

- Há bonitinha. Você está cheia de joguinhos, né? Te ligo mais tarde está bom?

- Porque tanta pressa, Nina?

- Não fui ao yoga, mas fui resolver outra questão muito importante pra mim...

- Hum!!! - ela exclama. - E será que eu posso saber?

- Pode, claro. Mas agora estou um pouco atrasada para o meu estágio.

- Querida, vá se trocando enquanto vamos nos falando... Coloca no viva-voz e me conte tudo! - ela diz entusiasmada.

Ana era mesmo uma grande amiga, nem parecia ter a idade que tinha, às vezes, me sentia falando com uma adolescente e não uma senhora. Resolvo fazer o que ela me pedi e coloco o celular em cima da bancada no banheiro.

- Lembra que comentei com você o meu desejo de dirigir?

- Lembro, claro! Sabe que se precisar de aulas particulares, sou uma ótima motorista, não querendo me vangloriar...

- Sei... - sorrio. - Então, fui pesquisar algumas auto-escolas e adivinha... me matriculei! - digo animada e ouço um gritinho agudo.

- Ahh, querida, não sabe o quanto estou feliz por você! - Ela sabia o quanto essa conquista era algo importante pra mim, já havia me aberto um pouco com ela e contado um pouco da minha história, mesmo que depois eu me sentisse péssima.

- Em breve serei a mais nova recém habilitada.. - digo, soltando um gritinho.

Todos os dias eu pedia a Deus que me desse forças pra esquecer e que me permitisse escrever em uma nova página em branco. Não podia deixar que o medo me impedisse de ser quem eu sempre quis ser e agora, minhas vontades e ambições tinham mudado daquela época, afinal eu era apenas uma menina e agora como mulher eu podia ir mais além. Não precisaria me apoiar e nem subir em ninguém, conquistaria por meus esforços. Eu era capaz, mentalizava.

- Linda! Você ficará linda atrás de um volante.

- Ai meu Deus, nem eu estou acreditando... - dou alguns pulinhos de felicidade e aproveito pra puxar e ajeitar a calça jeans.

Onde foi que me perdi? [[Completo]]Onde histórias criam vida. Descubra agora