Capítulo 32 - Inadmissível

284 35 0
                                    

Caio

"Como você está?" A mensagem de Nina não saia da minha cabeça. Como ela esperava que eu estivesse? Morrendo de alegria? Feliz da vida? Tá brincando comigo, né? Acabei respondendo com sinceridade e logo me arrependi. Não devia ter escrito sobre ela, apenas sobre Heitor, só que ela já tinha lido a mensagem e eu não conseguia e nem poderia mais apagar.

O engraçado é que ela disse que desejava estar do meu lado, se soubesse sobre a morte de Heitor. Ela poderia estar, mas nem me deu a chance de conversar e nem ao menos quis checar a fundo o que estava acontecendo. Em poucas horas, pegou suas coisas, me devolveu o Olaf e foi embora.

Inferno!

Eu não conseguia esquecê-la, ou ter ódio. Estava sim chateado por ela não ter confiado em mim, estava com saudades, só que a amo e receber suas mensagens era bom demais, ainda que eu estivesse receoso. Descobri da pior forma que Nina não estava 100% comigo, então eu também não poderia estar, afinal, olha onde isso me levou.

Levanto-me da cama, preciso tomar um banho e ir para o hospital, mas, antes cuido do Olaf. Minhas noites tinham se resumindo em apenas três ou quatro horas de sono. Ainda mais depois de descobrir que Heitor tinha me deixado tudo. Por isso a urgência dos acionistas em ter uma reunião. Aquele velho me deixou 50% das ações dos hospitais, sua mansão no Rio de Janeiro, seu apartamento aqui na cidade, todo seu dinheiro e ainda uma indicação. Durante a reunião, um conselheiro leu sua carta que começava com "O seguro morreu de velho", ele dizia que a qualquer hora ele não poderia mais votar, não poderia mais palpitar e mesmo sendo o maior acionista da rede hospitalar, seu voto tinha o mesmo peso dos demais.

Escreveu que todos ali eram responsáveis pela maior e melhor rede hospitalar do Brasil, que em cada prêmio ou reconhecimento havia a dedicação e o suor de cada um. Menos em um hospital. O hospital-escola, o meu hospital. Ali, de acordo com ele, todos só colheram frutos do esforço de uma única pessoa, eu. Que nenhum dos presentes conseguiu colocar aquele estabelecimento de saúde e ensino no mapa, só que eu sim. Que graças a minha dedicação o hospital havia se tornado referência em trauma, em ensino e em humanização.

Elogiou os frutos que obtivemos, os prêmios, os incentivos e os patrocínios. E por fim, disse que se ele estivesse ali, me indicaria para diretor e votaria mil vezes sim em mim. Eu fiquei em choque e não sabia como lidar com aquelas palavras. Gratidão, isso resume tudo que senti na hora. Só que havia dor também, pois ele devia estar ali e não um "mané" qualquer estar lendo suas palavras.

Agora eu sou o diretor do hospital, acionista e milionário. E mesmo sendo grato ao Heitor, eu trocaria tudo isso para ter ele e Nina de volta. Argh, eu penso nela a cada segundo! Queria contar tudo isso a ela. Mas acho que alguém que foge de mim, não mereça saber da minha vida. Meu orgulho e sentimentos estão manchados.

O estranho é que Heitor também deixou uma coisa para ela.

Enquanto eu empacotava suas coisas, encontrei uma caixa de presente bem fechada destinada a Nina. Havia um cartão, não era certo ler, pois não era para mim, só que não resisti.

"Querida Nina,

Minha mais nova amiga...

Feliz Natal!

Sei que devia ter comprado algo novo a você, mas depois dos anos que vivi entendi que o Natal não é apenas trocas de presentes ou uma data para que a gente se lembre do nascimento de Jesus. Não é apenas isso. É celebrar o amor! Por isso meu presente não é novo, estou lhe entregando a única coisa que ainda guardo, pois eu também amo as pessoas que você ama, que te amam.

Seja feliz menina...

Beijo do seu amigo Heitor"

Minha garganta se trava com suas palavras, fico curioso para abrir o presente, porém o respeito, é uma coisa entre ele e ela, então, mesmo sem saber se ela vai um dia voltar mando por Sedex para seu apartamento. Não quero ouvir desaforos daquele porteiro e nem me lembrar de Nina, de nós dois naquele prédio.

Onde foi que me perdi? [[Completo]]Onde histórias criam vida. Descubra agora