Caio
Estava enfurecido, já havia ligado diversas vezes pra Nina e nada dela me atender. Aliás, o celular estava desligado. Enviei algumas mensagens também, mas desisti quando percebi que não chegava nem enviar, ela teria mesmo suposto que eu estaria com a Vanessa?! Teria acreditado seja lá qual for a mentira da Vanessa sem falar comigo e fugido?! Isso era típico da insegurança da Nina, fugir. Ela vivia fugindo...
Jogo a garrafa de whisky no chão. Porra! Não sabia qual dor me feria mais, se a dor de perder o Heitor ou a insegurança da Nina.
Como ela tinha deixado aquela cobra da Vanessa envenena-la?! Será que eu não já tinha dado razões suficientes pra ela ver que comigo era tudo diferente? Chuto a almofada jogada no chão para longe e Olaf dá um pulo assustado. Coitado, ele quem estava tendo que lidar com os meus dias de cão.
Já havia se passado uma semana e eu não tinha nenhuma notícia da minha pequena, se ela estava se alimentando bem, se ela estava bem... Meu Deus, por que ela tinha que agir assim, só pensando nela? E o idiota aqui ainda preocupado com ela.
- Meu Deus, Caio... o que aconteceu aqui? - Alemão diz entrando em minha casa.
Assim como todas as coisas que havíamos comprado pra Olaf, Nina tinha colocado o chaveiro junto com as chaves que dei a ela, dentro da bolsa. Pra deixar meu amigo mais tranquilo já que tinha surtado muitas vezes depois do trágico acontecimento com Heitor e o desaparecimento da Nina, dei as chaves a ele e agora ele entrava e saía do meu apartamento a hora que quisesse.
- Vai embora, cara. Quero ficar sozinho.
- Você ao menos hoje deu comida para o gato?
- Não.
- Imaginei, por isso vim aqui, assim como todos os dias. Cara, você precisa sair desse poço que você mesmo cavou...
- Não cavei porra nenhuma, apenas aquela criança da Nina que acreditou nas armações da Vanessa... e adivinha só, ela caiu... - sorrio sarcástico.
- Caio, - Alemão anda pelo apartamento e coloca a ração para o animal. - você precisa se reerguer, já passou alguns dias e se ela não quer conversar agora, dê algum tempo...
- Mais?
- Sim, mais. Aprendi com minha esposa que mulheres precisam de tempo. Todas as vezes em que brigavamos e eu tentava me aproximar só piorava, depois de muito tempo que percebi que ela precisava só dele e ele falava por mim, mostrava a verdade por mim...
- Eu morro de saudades dela... - desabo no sofá e coloco as mãos em meu rosto. - Eu amo aquela mulher e sou capaz de tudo por ela. Mas ela precisa aprender a confiar em mim, a conversar comigo...
- Caio, entenda a Nina...
- Eu estou tentando...
- Pelo o quê você me contou, ela sofreu muito, deve ter sido difícil pra ela ter falado com a Vanessa...
- Falando na bruxa... Como foi o congresso?
- Como sempre um sucesso, tudo que Vanessa faz pela profissão é com muito mérito.
Eu sabia disso, Vanessa não tinha limites quando o assunto era a profissão. Admirava isso nela, mas a preferia bem longe de mim.
- E o hospital? - pergunto me sentando.
- Precisando de você. Além do gato, vir por isso também, os acionistas e os advogados te esperam para uma reunião amanhã.
- Mais já? - grito. - Porra, o Heitor nem morreu e já querem reunião?!
- Caio, a administração do hospital não pode ficar em luto... e outra, o hospital sempre foi tudo para Heitor seria uma grande tristeza pra ele, te ver nessa situação e afastado do hospital.
Passo as mãos no cabelo e decido me levantar.
Se Nina já tinha tomado sua decisão, agora só bastava a mim seguir a minha vida. Mais de uma coisa eu tenho certeza, a amei como nunca amei ninguém e pra sempre ela moraria em meu coração.
*
Nabia
Tinha combinado com a Ivone de vir a casa do Caio ver o que de fato havia acontecido, já que meu ingrato filho só me resumiu por mensagens que Nina foi viajar e não queria que nós fizéssemos parte da sua vida, e que era pra eu aceitar isso e deixar ela viver a vida dela.
Ridículo ele pensar que eu me contentaria com isso. Apenas deixei alguns dias passar e agora estava eu e Ivone paralisadas no meio da sala do Caio, abismadas com aquela bagunça.
- Meu Deus, que furacão passou por aqui? - questiono Ivone.
- Dona Ana, ele não deixou que eu viesse os dias anteriores...
- Eu sei, eu sei... ele me pediu que você não viesse... mas, olha isso... Tudo jogado!
Miau... Ouço um miado vindo da cozinha e encontro um pequeno gatinho peludo branco no corredor com os olhinhos arregalados.
- Oh meu Deus! - me agacho e o tomo em meus braços. - Me diz que o Caio o alimentou...
- Senhora, posso começar a limpeza?
- Sim, Ivone por favor... Enquanto isso vou levar esse gatinho fofo pra tomar banho, mas antes do Caio chegar estarei aqui, prepare o jantar, quero conversar com meu filho e de hoje ele não me escapa.
Nina também não me respondia, meu único contato era com Carmen. Só que assim como Caio, Nina havia se fechado e nós duas estávamos no meio dessa guerra. Filhos... nunca crescem.*
Ajudo Ivone a preparar o jantar, com uma comida caseira que sei que Caio adora, arroz, feijão, batata frita e bife acebolado. Simples, porém o preferido do meu filho amado. Assim que Ivone me ajuda a preparar a mesa e deixa a cozinha limpa a dispenso e peço para voltar no outro dia, mesmo que o Caio não queira.
Fico sentada no sofá, lendo alguma notícia pelo celular, esperando meu filho chegar. Alemão me disse que ele não ficava tanto tempo no hospital. Se afundava aqui no seu apartamento entre goles de Whisky e noites mal dormidas. Ouço o barulho de chaves na porta e o gatinho corre até lá.
Caio entra no apartamento e acaricia o bichano.
- Sou só eu cara, desculpa aí... Mamãe? – Ele percebe que o lugar está arrumado, deixa suas coisas em cima da mesa e caminha até onde estou. – Que cheiro bom!
- Fiz seu prato favorito filho. - dou um abraço e um beijo nele.
Vou até a cozinha e juntos preparamos nossos pratos, nos sentamos nas banquetas e comemos em silêncio. Estranho meu filho que sempre foi tão comunicativo, dessa vez ele devora a comida em silêncio. Reparo que está mais magro, sua barba está maior e há olheiras ao redor de seus olhos. Meu menino está sofrendo.
- Precisamos conversar. – Digo assim que termino de jantar.
- Não quero falar dela, mãe. – ele bebe o resto do suco e continua olhando para frente, sem me encarar. – Não me olha assim, ela se foi e não eu. Sumiu. Evaporou. E sabe, mãe? – Ele me encara e seu olhar está cheio de raiva. – Quando eu mais precisei.
Caio bate na bancada e eu levo um susto. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Me viro para ele.
- Olha para mim. – Caio trava a mandíbula e continua olhando para frente. - Olha. Para. Mim. Caramba, Caio, eu ainda sou sua mãe. – Agora sou eu que grito com ele.
Caio se vira para mim e vejo lágrimas em seus olhos. Corta meu coração. Meu menino está sofrendo e eu posso ajudar, mas não sei se devo. Por mais que ame a Nina, ela não está me ajudando em nada e vive fugindo da felicidade. Respiro fundo.
- Querido.. O que você pensa que tá fazendo? Acha que ficar bebendo e jogado no sofá vai trazê-la de volta?
- E quem disse que eu quero ela de volta? – Ele diz, mas nem eu e nem ele acreditamos nisso.
- Nós dois sabemos, Caio... Nós dois! Ela tem medos, ela passou por muita coisa e você sabe disso. Ela viveu anos com um homem mentiroso...
- Eu não sou ele mãe, e ela devia saber!
- Ela sabe, mas tenta entender, tudo que ela pode ter ouvido daquelazinha. – Preciso de uma pausa.
- Ela foi embora, mãe. – ele esfrega as mãos nos cabelos – Nada que a gente viveu foi suficiente pra ela ficar. Ela foi embora. Eu a amo, mãe, eu demonstrei isso. Eu seguraria ela, eu aguentaria qualquer coisa e mesmo assim ela foi embora.
- E você deixou... Você jogou a toalha. Se jogou no fundo do poço. Você nem ao menos tentou todas as opções.
- Não? Eu enchi a caixa de mensagens dela. Eu ligo todos os dias. Até a coitada da Mari tá cansada de minhas mensagens. O que mais quer que eu faça?
- Tudo. Faça tudo. Mas primeiro perdoe. Ela não tinha como adivinhar que o Heitor morreu. Não tinha como saber se a Vanessa estava falando a verdade ou mentindo. Poxa, Caio! Se coloca no lugar dela.
- E quem se coloca no meu? – Ele diz cansado. – Eu perco meu amigo e minha mulher no mesmo dia. Eu não pude salva-lo e ela, ela eu nem sei onde está.
Lágrimas escorrem em seu rosto e eu tenho vontade de chorar junto. Porque eles estão perdendo tanto tempo? Porque estão sofrendo se poderiam estar juntos agora? Desço do banquinho e abraço meu filho, que agora soluça em meu ombro.
- Eu não sei mais o que fazer, mamãe...
- Liga pra Carmen filho, liga pra ela...
Acabo dizendo onde Nina está. Meu coração de mãe não aguentaria mais vê-lo assim. Essa dor tem cura, mas insistem em sofrer separados.
**************
Nabia não existe, né?!! Adoro essa mulher!!!
E vocês o que estão achando da história? Nos contem tuuuuuuuuuuudo!
Beijoooooooooooooooooooooooo.
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Onde foi que me perdi? [[Completo]]
ChickLitIMPORTANTE: História completa, deixaremos na íntegra por um longo período. ;) Sinopse: Às vezes, um relacionamento abusivo pode mudar a vida de uma pessoa para sempre. Foi o que aconteceu com Nina, uma jovem que deixou a cidade que amava para fug...