Capítulo 6

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QUANDO DESCI DO MEU QUARTO , SAÍ SORRATEIRAMENTE DE CASA , disposta a fugir das perguntas impertinentes do meu gêmeo do mal. Porque existe essa máxima, certo? O gêmeo do bem e o gêmeo do mal. Storm definitivamente era o meu opositor do lado obscuro da força. Embora para algumas pessoas, eu pudesse ser a figura representativa dos Sith e toda aquela parafernália Star Wars . Enfim, apenas dei um tchau para Rainbow, deixando-a saber onde eu estaria, caso papai e mamãe questionassem, o que era muito raro. Saí na ponta dos pés, ainda mais porque eu não precisava que Storm percebesse que eu estava com uma muda de roupas dentro da mochila, ou que as alças do meu biquíni fossem vistas na minha regata. Mike estava recostado na lateral de seu carro e, quando fechei a porta de casa atrás de mim, ele saltou como se tivesse sido impulsionado por uma mola.
— Oi. Não chegou a levar quinze minutos — ele disse olhando para o pulso, fingindo checar as horas. — Foi mais como uns nove.Eu ri e achei galanteador que ele abrisse a porta para mim. Por mais incrível que pudesse parecer, meu rosto estava esquentando de puro embaraço. Sunshine Walker estava embaraçada pelo gesto de um garoto!Quando ele ligou o carro e partiu para o destino que traçou naquela manhã, esperei que um clima desconfortável se instalasse no carro. Como eu havia dito antes, Mike era extremamente calado e isso podia ser perturbador, ainda mais para uma pessoa falante como eu. Ele ligou o rádio numa estação qualquer.
— Quer escolher alguma música? — perguntou solícito. Comecei a rir, achando graça de sua gentileza.
— Se eu disser quais são minhas músicas de escolha tenho certeza que você vai parar o carro e vomitar na estrada. Ele sorriu.
— Tão ruim assim, hein?
— Músicas de garotas, Mike. Cheias de sentimentos e poesias embutidas e tudo mais — falei sorrindo.
— Aposto dois dólares como você curte rock pesado.
— Engraçado você dizer isso. E espero que tenha os dois dólares, porque você muito provavelmente perdeu a aposta e terá que me pagar — ele disse e olhou rapidamente para mim, tirando os olhos da estrada.
— Eu gosto de country. Nada a ver, certo? Aquilo me surpreendeu muito. — Uau! Suas músicas são então muito mais cheias de sentimentalismo e poesias do que as minhas, Mike! — falei, extasiada.
— Pois é.
— Blake Shelton, Keith Urbain e outros mais?
— Tim McGraw, Florida Georgia Line… várias outras referências. Virei meu corpo de lado para encarar seu perfil.
— Okay, eu gosto da Taylor Swift. Mike bufou em desgosto.
— Taylor nem pode mais ser considerada da raiz country, Sunny. Dei de ombros, pouco me importando, e comecei a  cantarolar algumas músicas de Taylor. Quando percebi que estava cantarolando a letra de I know you were trouble , percebi que realmente a cantora tinha mudado suas raízes para os bad boys e não mais para garotos de fazenda. — Okay. Acho que ela mudou um pouco a essência de suas composições.
— Isso é o mínimo.
— Mas gosto dela.
— Okay.
Mike era assim: fácil de estar junto. No meio do trajeto, ele simplesmente pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos juntos. Olhei para nossas mãos unidas, a dele com calos da bola que tanto amava agarrar com afinco, a minha muito mais suave. Ele me deu uma olhada de lado e um sorriso. Eu apenas lhe devolvi, com a mesma tranquilidade que não reverberava em meu peito. Meu coração batia descompassado. Eu queria saber muito mais coisa sobre ele, então acionei o meu modo investigadora descarada.
— Se você gosta de música country, significa que você não é daqui, certo? Mike sorriu e apertou meus dedos entre os deles.
— Você pode tirar o garoto da fazenda, mas nunca a fazenda do garoto. Eu nasci em Portland, no Texas. Morei lá até os sete anos, mais ou menos, quando minha mãe morreu e meu pai resolveu vir de mudança comigo e Clarice para a casa da vó Bridget — ele disse. Eu não sabia que ele tinha perdido a mãe tão jovem.
— Então você não é um garoto de Jersey?
— Esse jargão só tem efeito para as garotas do Estado de Jersey — ele me corrigiu.
— Tanto faz. Dá na mesma. — Não. Sou um cara do Texas.
— E cadê o seu sotaque supersexy de um garoto do Sul?— perguntei e senti meu rosto corar. Mike riu com gosto. — Esse sotaque se perdeu há tempos. Thomas zombava tanto dele na nossa infância que tive que largar ou ser zoado para o resto da vida — admitiu.
— Eu acho sexy — falei baixinho.
— Vou tentar resgatar só pra você. — Piscou. Meu Deus. Meu estômago seria dilacerado pelas sensações extremas que estavam corroendo-o por dentro. Quando chegamos à área do lago, pude ver que estava praticamente deserta. Poucos carros mais adiante, um grupo de famílias brincando, um casal deitado à sombra de um salgueiro. Mike estacionou o carro e descemos rapidamente. Ele levava uma cesta com algumas guloseimas, pelo que pude ver, enquanto eu levava minha mochila e mordia os lábios nervosamente. Quando achamos um local adequado, próximo a uma árvore frondosa e à beira do lago, que nos permitiria entrar e sair sem ter que desfilar diante dos olhos dos outros frequentadores, Mike ajeitou a cesta, forrou a pequena mesa e retirou a camiseta. Aquele foi o momento em que achei que estava tendo um derrame cerebral. Possivelmente uma baba pulou num salto ornamental da minha boca, antes que eu conseguisse fechá-la completamente, obrigando-me a virar o corpo para olhar para o lado, como se estivesse em busca de um pássaro raro, ou um guaxinim, uma cobra, sei lá. Eu só queria dar tempo do meu rosto voltar ao normal, com a cor usual e a temperatura adequada.
— Você não vai entrar? — Ao som da pergunta distante de Mike, quando me virei, percebi que ele já estava quase à beira da água, apenas olhando indagativamente para mim. Meu Deus. Poderia alguém morrer de tesão encubado? Ou desejo ardente e palpitante? Puta que pariu. Abri meu short rapidamente, mas ainda envergonhada, agradecendo aos céus que ele tivesse virado para frente e agora não me olhava diretamente com aqueles dois sóis desconcertantes que tinha no rosto. Retirei a blusa e conferi para ver se todas as partes do biquíni estavam adequadamente no local e se não havia nada indecente ou que me valesse uma acusação de atentado ao pudor, meramente pela falta de tecido nas coberturas das partes pudendas do meu corpo. Quando escolhi o biquíni naquela manhã, peguei o mais bem-comportado, porque sou uma garota boa assim. Logo, a peça estampada com preto e cinza era até mesmo discreta para os padrões. Quando caminhei para entrar na água, Mike estava submerso, então acelerei meu passo, para evitar o constrangimento de uma análise minuciosa. Okay, eu queria que ele conferisse meu corpo e percebesse que tudo estava regularmente nos conformes.Mas não precisava ser daquela forma tão acintosa que alguns meninos fazem quando estamos habituadas a ser conferidas. Muitas vezes eu me sentia como um pedaço de carne de açougue. Graças a Deus, Mike nunca me fez sentir desconfortável naquele nível. Quando adentrei a metade inferior do corpo, soltando um guincho por conta da temperatura gélida, foi o exato momento em que Mike ergueu a cabeça da água. Se um olhar pudesse falar absolutamente tudo, aquele me dizia que não havia dúvidas do desejo que ele sentia por mim.
                           MIKE
Ainda bem que minha decisão de entrar na água antes dela foi a mais acertada. Ou eu não teria sido capaz de esconder a excitação monstruosa que agora eu ostentava dentro da minha bermuda. Ajeitei rapidamente, enquanto mantinha meu olhar fixo ao dela. Quando ergui a cabeça da água, Sunny estava entrando no lago. Eu sabia que ela tinha um corpo bem construído e ajeitado. Só não imaginava que fosse tão perfeito. Ou talvez a perfeição fosse exatamente porque era o corpo dela que estava à minha frente. Sunshine fazia com que qualquer garota ficasse apagada ao seu redor. Evitei descer os olhos para etiquetar todas as partes expostas pelo biquíni, a fim de não matar nem a mim e nem a ela de vergonha. A garota estava me derrubando à distância, porra. Ela nem bem havia chegado perto de mim ainda e eu já podia sentir minhas entranhas queimando. Eu sabia que estava muito fodido. Não conseguiria me conter se ela se aproximasse muito de mim, isso era certo como os olhos dela eram castanhos, como gotas de chocolate derretido. Seus cabelos estavam recolhidos em um coque no alto da cabeça e um sorriso tímido brilhava em seus lábios arroxeados pela temperatura fria da água. Era isso. A desculpa mais do que perfeita para evitar a distância que eu estava tentando impor. Ela precisava do meu calor, assim como eu precisava do dela para respirar. Caralho.

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