E U E R AINBOW ESTÁVAMOS EM UM CLIMA FESTIVO . Íamos para um acampamento no feriado, com nossos respectivos namorados, o que já era muito emocionante, e Storm não estaria no nosso pé, porque já tinha combinado uma viagem à Pensilvânia com dois amigos da escola. Nossos pais estavam em mais uma jornada de autoconhecimento, dessa vez em um Festival do Arco-íris em Washington. Já estávamos mais do que acostumados, porém eles alegaram que agora iriam ficar apenas duas semanas. Ótimo. Nosso acampamento seria por apenas uns quatro dias, sendo que levaríamos um dia para chegar ao lugar e um dia para voltar, então estávamos bem. Dois dias no mato, digo, no campo, não fariam mal a ninguém, certo? Storm é que não ficou nem um pouco satisfeito, para não dizer o mínimo, quando soube dos nossos planos. Na verdade, ele meio que não acreditou que estávamos falando sério sobre o assunto. Naquela manhã, arrastei Rain para uma maratona de compras necessárias, afinal, pelo amor de Deus, não podíamos ser pegas de surpresa com calcinhas com elástico esgarçado... não que eu tivesse planos evidentes em mostrar as calcinhas por aí... mas nunca se sabe, não é mesmo? Vai que uma serpente peçonhenta me picasse e, repentinamente, eu precisasse extrair minhas calças para que o ferimento fosse devidamente tratado? Imagine a cena gloriosa se eu estivesse de calcinhas de algodão com estampa de bichinhos e sem fazer par com o sutiã? Seria embaraçoso demais. Não que eu tivesse planos de mostrar o sutiã também, já que a picada da cobra estaria apenas na parte inferior, então... Nossa... eu estava divagando loucamente.
- Sunny! Acorda! Onde sua cabeça estava? - Rainbow perguntou e riu. - Você está com o rosto vermelho... estava pensando merda, Sunshine? Disfarcei o melhor que pude, escondendo-me atrás de uma arara de roupas.
- Suuuunshineeee... - Rainbow continuou atentando. - Responda à pergunta, sua safada!
- Hummm... na verdade, Rain... eu estava, realmente, pensando em picadas de cobras.
- Cobras?
- Sim.
- Cobras... cobras venenosas? - perguntou e vi seu rosto empalidecer.
- Para uma nerd inteligente pacas, você pode ser bem burrinha, às vezes - eu disse e levei um safanão.
- Até eu sei que algumas cobras não são venenosas.
- Certo... como se você fosse parar para analisar atentamente os detalhes de uma cobra, no caso de se deparar com uma, para saber se ela é venenosa ou não, não é? - Rainbow perguntou. Ela tinha um ponto válido.
- É mesmo. Se eu vir uma cobra na minha frente, posso ter duas reações imediatas - falei e peguei uma blusa, colocando-a diante do meu corpo, observando o reflexo no espelho do provador: - posso desmaiar e correr o risco da cobra me morder meeeeesmo. ou posso correr loucamente.
- Duas reações muito interessantes, Sunny. Alguma delas inclui gritos histéricos? - ela perguntou.
- Talvez.
- Como daquela vez que você viu um ratinho na sala e subiu em cima da estante e gritou tanto que o pobrezinho desmaiou? - Rainbow riu.
- Bem, aquele rato, que Deus o tenha, devia ter algum distúrbio, ou algo assim. E, realmente, realmente , Rain, ele me assustou pra caralho. Eu estava concentrada, pintando as unhas do pé e vapt ! O infeliz passou na velocidade da luz - falei e senti um arrepio na nuca ao me recordar daquele momento tenso.
- Uma barata não poderia ser tão grande ou seria uma barata alienígena, e nem mesmo tão veloz.
- Ceeeerto. - E a reação básica do ser humano é gritar quando apanhado de surpresa.
- Sunny, você estava gritando durante mais de dez minutos e - Rain disse e retirou a blusa da minha mão, dessa vez colocando diante do corpo dela - você estava em cima da estante! Em cima! Todos os livros e o DVD do pai estavam no chão!
- Não gosto de me lembrar desse dia. - Claro. O rato morreu. Mamãe nos fez participar de um velório do pobre animal.
- Para, Rainbow! Que saco! Essa lembrança tosca traz arrepios ao meu couro cabeludo! Começamos a rir e, por fim, decidimos que devíamos dar atenção às roupas que queríamos realmente comprar. Acabamos encerrando nossa jornada mais cedo do que o previsto. Quando chegamos em casa, carregamos nossas lindas sacolas de compras e eu estava quase subindo para o meu quarto, quando Rain fez sinal para que eu ficasse em silêncio. Ela estava rindo por baixo da própria mão. Cheguei até a porta da cozinha e fui observar. Storm estava de costas, em toda a sua glória descamisada, porque ele achava que o mundo precisava admirar seus músculos fartos, com uma bermuda mais esfarrapada impossível, e fazendo sua sagrada vitamina. Mas esse não era o grande problema ou atrativo da cena. Ele estava de fone de ouvidos, certo? Logo, não percebeu que tinha uma pequena plateia, plateia essa que contava com sua irmã gêmea sacana, no caso, eu. Peguei meu celular do bolso e acionei a câmera. Storm estava cantando Justin Bieber. Sim. Justin. Bieber.Enquanto colocava os ingredientes no copo do liquidificador, ele "conversava" com os produtos.Meu Deus.
- Say, go through the darkest of days... Heaven's a heartbreak "WHEY "... - Quando ele disse aquilo, Rainbow quase morreu de rir. Ele estava com o pacote de Whey Protein nas mãos. Trocou a letra da música de maneira proposital e criativa. - Never let you go, never let me down. Oh, it's been a hell of a ride, Driving the edge of a knife... - Levantou a faca em um ato dramático para cortar a banana que estava em suas mãos. Deu uma virada, quase ao estilo de Michael Jackson, e soltou o berro mais louco que já ouvi na minha vida. - PUTA QUE PARIU! Naquela altura do campeonato, eu e Rainbow já estávamos rolando de rir. Rain tinha se escorado na parede e escorregado até o chão, sem conseguir sustentar o peso do corpo, tamanha a intensidade de suas gargalhadas. Eu havia perdido o controle do meu celular e estava secando as lágrimas que, provavelmente, borravam o lápis de olho e rímel que eu havia passado naquela manhã.
- Suas... suas...
- Não xingue a mamãe - Rainbow conseguiu dizer entre os risos. - Ou vamos contar pra ela...
- Caralho!!! Vocês me assustaram, porra! E eu estou com a faca na mão!
Poderia ter escorregado e me esfaqueado!!! Ou pior, poderia pensar que vocês eram assassinas e partido pra cima! - falou e estava puto.
- Storm... - chamei, secando as lágrimas. Olhei o dedo. Estava preto. Merda. - Justin Bieber?
- Vá à merda.
- Espera... não consigo encontrar minhas próprias pernas - Rainbow disse, ainda rindo. - Meu Deus... essa cena vai queimar no meu cérebro e ficar marcada na memória eterna do dia em que Thunder Storm cantou Let me love you do Justin Bieber.
- Adulterando a letra - acrescentei. - Não se esqueça desse detalhe. Eu e ela batemos as mãos em um cumprimento que os meninos adoravam fazer.
- Suas sacanas.
- Storm?
- O que é? - perguntou amuado. A vitamina estava esquecida.
- Vá tomar sua vitamina. - Vocês mataram totalmente a fome que corroía meu estômago. Nossas risadas foram mais histéricas agora.
- Sério? Justin? Na sua playlist? - perguntei.
- Está na rádio, e não em uma playlist, sua idiota. - Mostrou a rádio pop que sempre tocava as músicas mais atuais.
- Certo.
Ajudei Rainbow a se levantar e fomos dar um abraço em nosso irmão. O coitado estava constrangido.
- Idiotas.
Puxei Rainbow pela mão e Storm voltou para sua vitamina. Provavelmente o momento havia sido esquecido e a fome havia retornado. Para não deixar barato e registrar o domínio daquele dia, fiz questão de parar à porta da cozinha e chamar seu nome:
- Storm? Esperei que ele desligasse o aparelho.
- Yeap?
- Eu filmei. Só para constar - falei e mostrei o celular, como um trunfo que sempre guardaria na manga.
- Filhas da puta.
Saímos rindo da cozinha e completamos aquele dia que havia sido épico de muitas formas.
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Sunshine
Teen FictionEntre as irmãs Walker, Sunshine sempre foi conhecida como a mais descolada e de personalidade expansiva. Sempre se sentindo à sombra da irmã mais velha, Rainbow, tão certinha e centrada, Sunny fazia questão de manter uma imagem de que na verdade não...