Capítulo 2

20 1 0
                                    

TYSON NÃO TEVE A OUSADIA DE ENFRENTAR MIKE PORQUE SABIA EXATAMENTE QUEM ELE ERA. Todo mundo sabia quem eram os heróis da escola, ainda mais os recém-saídos, contratados por uma das melhores universidades do país.
- Cara, nós estávamos apenas nos divertindo, não é, Sunny? - Tyson tentou escapulir. Ridículo. Saí de perto dele e Mike colocou o braço por cima do meu ombro. Agora sim, com a presença dele ali e aquela pequena intercação, estávamos atraindo um público sedento por um espetáculo.
- Não parecia para mim. Você estava se divertindo, Sunny? - Mike me olhou atentamente.
- Até um momento atrás, sim, mas daí, a mão atrevida de Tyson resolveu passear por onde não devia, e seus ouvidos resolveram não ouvir o "não" bem grande que eu estava falando... Parece que Mike não gostou da minha resposta sincera. Mas o que eu podia dizer? Também não poderia mentir, oras. Eu aceitei ir ao baile com o garoto. Estava até dançando de boa. Estava curtindo uma viagem pelo vale das memórias de Mike... mas aí ele tinha que estragar tudo colocando a mão na minha bunda. E como a mão não era a do Mike, senti a diferença, então aquilo matou o momento.
- Resposta errada, Sunny - Mike falou entre dentes. Ele estava puto.
- Mas qual eu daria? - perguntei inocentemente. Dando uma última olhada mortal para Tyson, que poderia estar congelado de pavor no chão, Mike saiu me arrastando do salão. Okay, então meu sapato estava realmente machucando um pouco meus dedos do pé, daí eu dei uma mancada e não consegui acompanhar os passos apressados dele.Como se sentisse minha hesitação, Mike simplesmente fez o impensável. Aquilo que só vi em filmes e mais recentemente em um episódio fantástico de Chicago Fire, o seriado com aqueles bombeiros gostosos. Ele abaixou o ombro e me colocou ali. Como se eu fosse o raio de um saco de batatas! E vou dizer uma coisa pra você. Você acha essa cena fantástica e sexy na teoria. Na prática é uma merda. Quase vomitei o ponche que tomei e seria um mico, porque eu vomitaria no traseiro de Mike. Provavelmente eu encheria os bolsos traseiros da sua calça jeans. O que me levou a divagar se ele colocava a carteira ali. O que poderia fazer com que seus documentos fossem destruídos em vômito... Putz... eu estava louca. Divagando e me sentindo zonza. Fora o fato de estar excitada, claro. Mas esse detalhe nós tiraremos da equação, porque era melhor eu não tecer expectativas sobre algo que poderia ser somente uma viagem da minha cabeça. Eu estava sentindo uma brisa muito contagiante no meu traseiro. Será que eu estava mostrando minha calcinha para toda a população que quisesse apreciar o espetáculo de machismo de Mike? Quando chegamos ao jipe dele,Mike me colocou no chão e seus olhos soltavam chamas rancorosas de irritação.
- O que diabos você estava pensando em continuar dançando com aquele merda, Sunny? - ele quase gritou. Abri minha boca em pura estupefação, já que eu nem ao menos sabia que essa seria sua pergunta.
- O... o... quê? - Isso o que perguntei. Melhor ainda. Por que caralhos você teve que vir ao baile com esse merda?
- Ele cruzou os braços e custei não babar nos bíceps avantajados que quase rasgaram a camiseta. Meu Deus. Eu ia morrer de calor ali...
- Ahn... por que ele me convidou? - eu respondi meio que perguntando. Isso era um sinal claro de insegurança e medo. E eu não era essa garota. - Ué, Mike. Ele e Max me convidaram para o baile. Entre os dois, optei pelo Tyson. Qual é o problema? - Qual é o problema?
- É! Qual é o problema, porra!
- O problema é que você não deveria nem sequer ter vindo com nenhum deles, Sunny! Okay. A conversa estava um pouco de doido. - Mike, você consumiu alguma bebida alcoólica? Entorpecente?
- O quê? Não!!! - Então por que raios você está me cobrando isso? Como assim eu não poderia vir com ninguém? Você queria que eu ficasse em casa, sentada na janela do meu quarto, olhando para a lua, desejando o inalcançável e suspirando romanticamente por alguém que não posso ter? - falei e quase me estapeei. Não havia sido aquilo que eu tinha escrito no meu diário aquela manhã para justificar minha ida ao baile com Tyson?
- Você teria que vir comigo! Minha boca abriu em choque. Meus olhos se arregalaram. Se eu não soubesse que eu estava bem maquiada e fazendo um visual bonito, eu diria que minha imagem naquele momento seria medonha.
- O quê? Por quê? Mike bufou umas três vezes... isso mesmo. Bufou. Passou as mãos pelos cabelos, nervosamente, andou para trás, voltou e colocou as duas mãos no meu rosto.
- Porque você é minha, Sunny. Por esse motivo. Você. É. Minha. Quando disse aquilo, como eu ainda estava com a boca aberta em choque, senti em primeira mão todas as sensações fantásticas de um beijaço cinematográfico daqueles de tirar os pés do chão. Se bem que, espera... meus pés realmente estavam saindo do chão, porque Mike tinha abraçado meu corpo e me erguido rente ao dele, e, como eu era baixinha, meus pés estavam fora do solo. Puta que pariu. Aquele beijo superou o da festa. Superou toda a história dos meus beijos na vida. Não foram tantos quanto dei a impressão, mas superou todos.Meus braços enlaçaram o pescoço de Mike e eu simplesmente correspondi, porque, bem... não havia mais nada que eu poderia fazer, salvo corresponder ardentemente àquele beijo épico. Já ouviu falar em duelo de línguas e tropeção de dentes? Era isso o que estava acontecendo. Minha habilidade em beijar foi jogada fora pela janela, dando uma nova versão repaginada de "Como beijar de maneira adequada", ensinada por Mike Crawford. E... cara. Eu acho que se pudesse seria capaz de passar umas duas horas somente beijando aqueles lábios dele.Claro que chegaria o momento em que estaríamos ambos tão anestesiados que nem sequer sentiríamos mais nada. Será que era aquilo o que aquela música Can't feel my face , do The Weeknd queria dizer? Que a pessoa se entregaria a um beijo tão intenso que perderia por completo a sensibilidade do rosto? Quando Mike afastou a boca da minha, abri meus olhos devagar, apenas permitindo que uma fresta me desse a visão gloriosa daqueles olhos azuis que agora estavam tão intensos como um mar tempestuoso. - Uau.
- Yeap. Uau - ele disse e abaixou meu corpo ao chão, mas sem soltar o agarre que me mantinha firme. Graças a Deus, ou juro que eu despencaria igual uma maria-mole, já que minhas pernas estavam como geleia. - Eu sempre soube que uma repetição daquele beijo seria cem vezes melhor. Uau. De novo.
- Eu voltei antes, quando Rainbow comentou com Thomas que você estava vindo a esta porra de baile de boas-vindas do semestre - ele admitiu.
- Nem sequer chequei se você viria só ou acompanhada, mas, conhecendo o esquema da escola, só pude imaginar que você havia sido convidada por algum idiota do caralho, então, só peguei meu jipe e vim. Acho que levei algumas multas no caminho. Mike não era muito de falar. Eu já disse isso? Então aquele discurso foi bem longo. E recheado de palavrões bem eloquentes.
- Oh... uau. Meu repertório de palavras estava um pouco limitado.
- Não pense que foi uma merda dessas de perseguidor, okay? É só que você não comentou comigo, na mensagem passada, que estava querendo vir, ou que havia sido convidada... se você tivesse falado... - Se eu tivesse falado o quê? Você faria o quê, Mike? Você está estudando em Princeton. Eu nem sequer cogitei a hipótese de... de...
- De me perguntar se eu te levaria? Abaixei a cabeça sem graça. Mike segurou meu queixo e ergueu meu rosto para encará-lo.
- Sim. Mike... mas como eu poderia imaginar? Nós nem somos... sei lá... namorados... ou nunca fomos... ou... você nunca deu a entender nada disso. Mike fechou os olhos, irritado. - Eu sei, Sunny. E o erro foi meu. Eu não assumi que queria você desde o início. Uou... falou em admitir sentimentos profundos. Desde o início?
- Olha, eu imaginei que, se eu te deixasse livre, você poderia usufruir todas as merdas do Ensino Médio e não perderia nada, entende? As festas, baladas, paqueras, o caralho a quatro. - Eu olhava para Mike e ficava admirada com suas palavras. Seus braços nunca deixaram o agarre em meu corpo. Agora nós estávamos meio que apoiados na lateral do seu jipe. - Eu queria que você vivesse intensamente, porque porra... você é vibrante e... eu nunca iria querer dar a impressão de que estava te prendendo.
- Mike... - Me deixa terminar, okay?
- Okay. - Eu quero você. Desde o início eu quis. Desde quando você entrou na escola, e eu me senti um cretino, por ser mais velho...
- Caracas, Mike... Você é quase um ancião. Estou chocada, seu velho caquético e tarado. - Tentei brincar. Ele deu um sorriso fácil e depositou um beijo na minha boca.
- Quando você chegou com sua irmã na escola, no ano anterior, porra, eu só tinha olhos pra você. Você faz jus ao seu nome, Sunny. Você tem um brilho ensolarado que queima por onde passa. Uau... minha nossa. Eu acho que ia desmaiar. Precisava decorar aquela frase romântica e anotar no meu diário antes de dormir.
- Daí, naquela festa, foi a primeira vez que ficamos juntos, mas, depois, percebi que você era muito nova e poderia não estar preparada para engatar um relacionamento sério. Fora que eu, naquele momento, não queria um relacionamento sério, então... porra... aquilo mexeu com a minha cabeça. - Mike falou e eu apenas acompanhei a narrativa. - Eu apenas tive que te acompanhar de longe, e isso é uma merda. E... merda... estar na universidade, longe de você, sabendo que aqui tem uma multidão de garotos totalmente a fim de você... Eu comecei a rir loucamente.
- Você é louco? Não existe uma multidão de garotos a fim de mim, Mike. E mais, eu que deveria me preocupar... Veja bem: você está na universidade, imagine o tanto de mulheres livres, leves e soltas perambulando por lá... totalmente independentes. Eu sou ninguém perto delas.Mike segurou meu rosto com força, fazendo com que nossos olhares se chocassem.
- Nunca diga isso, Sunny. Você nunca pode dizer que é ninguém. Você é o Sol pra mim. Puxa. Que lindo. Aquela era a declaração mais linda que eu poderia imaginar receber. Ainda mais associada ao meu nome esquisitinho. - Eu quero levar você para casa, posso? Okay. Mudança de planos. O baile acabou. Tudo bem, eu nem estava curtindo mesmo. E, claro, os amassos provavelmente também estavam com o prazo vencido.
- Você vai voltar pra Princeton? -perguntei, esperando que sua resposta fosse não.
- Não. Vou ficar o final de semana.
- E Thomas? Ficou por lá? - perguntei curiosa.
- O que você acha? Comecei a rir, porque, imaginando o tanto que aquele cabeção era apaixonado pela minha irmã, eu só poderia supor que ele viera junto. Mike abriu a porta do jipe para mim e me ergueu, ajudando-me a sentar no banco do passageiro. Deu a volta pela frente do carro e vi o sorriso que me lançou, através do para-brisa. Meu coração estava acelerado e quase saindo pela boca. Eu nem podia acreditar em como a minha noite havia começado e como estava terminando.

MIKE
Quando ouvi a conversa de Thomas com Rainbow, fiquei apenas atento, na esperança de ouvir a menção do nome de Sunshine. Eu estava um pouco obcecado, deveria admitir. A irmã mais nova de Rainbow mexeu mesmo com meus miolos, desde o momento em que coloquei os olhos naquele corpo tentador, olhos amendoados e sorridentes e boca espertinha. Eu amava os cabelos negros e longos, que ela fazia questão de manter em tranças estilosas, dando-lhe um ar meio hippie chic . Depois que fui saber a história de seus pais, e descobri que seu berço foi quase ornamentado com toda aquela loucura de flower power, de paz e amor, aí compreendi que ela exalava aquela vibração por natureza mesmo. Sunshine era engraçada sem precisar fazer esforço. Enquanto Thomas ralou para chegar ao coração de Rainbow e conquistar sua amizade, Sunny era tão expansiva que chegava a ser meio assustador. Daí, quando rolou a festa na casa de Thomas, e pela primeira vez eu pude ficar a sós com ela, caralho... ali eu vi que a garota tinha um lado inesquecível que faria um estrago profundo em mim.Quando a beijei, só confirmou. E porra. Eu queria mais. Mas, enquanto eu já estava com dezoito anos, Sunny tinha apenas dezesseis. Tudo bem, quase dezessete, mas ainda assim... Enquanto em breve eu partiria para a faculdade, ela ainda estaria concentrada no Ensino Médio. Ela ainda teria muita coisa pra viver. As merdas da adolescência que toda garota tinha que passar, embora eu não fosse uma garota e não soubesse especificamente que merdas fossem essas, salvo as que minha prima Laine contava pelo Skype. Ou as que eu tinha que presenciar com a pentelha da minha irmã mais nova, Clarice. E, embora eu quisesse Sunny para mim, eu sabia que tinha que ser altruísta. Droga. Daí... parti com Thomas para Princeton. Passei em sua casa, na intenção de me despedir da família dela, mas a intenção mesmo era agarrá-la por ali e nunca mais soltar. E deparei com a visão da bunda dela naquela escada e quase tive uma porra de uma ereção embaraçosa.Enfim, quando passou um pouco mais de uma semana que estávamos aqui, adaptando-nos nesta nova realidade, eis que recebo a primeira mensagem dela, apenas me dando um "oi". Resolvi que não forçaria muito a barra, mas faria questão de estabelecer um vínculo de amizade com ela através dos meios tecnológicos. Thomas atendeu o celular e meus ouvidos apenas ficaram atentos.
- Hey, baby. - Quase revirei os olhos diante do açúcar. Mas a quem eu queria enganar? Eu também queria essa mesma intimidade com minha garota. Que não era minha e nem sequer fazia ideia de que eu queria que fosse. Porra.
- Sunny já está te deixando louca? Por quê? Embora, sendo sua irmã, qualquer coisa te deixaria louca. Agucei meus ouvidos. - Ah, a merda do baile de boas-vindas. Odeio essa merda. Quando aconteceu na escola, você não estava lá. Tive que ir com a Lindsey Temple. O quê?! Eu não te conhecia, ué. E o baile exige pares. O que posso fazer... mas garanto que foi chato e não peguei a garota no final. Ouvi a risada de Thomas, mas meu estômago estava pesado, porque, se Sunny ia ao baile, significava que ela iria com alguém.
- Quer dizer que ela recusou a deixar o cara pegá-la em casa e exigiu que Storm a deixasse lá?
- Ouvi Thomas rindo e achando graça. Curti a parte em que minha garota bateu o pé em ser independente e não estar amarrada à carona do mané. Sim, eu era ridiculamente possessivo assim. E ela mal sabia desse fato. Mas eu ainda não havia escutado o nome do indivíduo que eu deveria matar na minha próxima ida a Westwood. Nossa! Eu estava um pouco psicótico. Antes de esperar a conversa de Thomas se encerrar eu já havia traçado meus planos. Se entendi certo, o baile seria no dia seguinte, e estávamos ainda na quinta-feira. Se eu saísse no meio da tarde, perderia algumas aulas, mas conseguiria chegar a tempo e impedir que outro macho encostasse a mão no que era meu.

Sunshine Onde histórias criam vida. Descubra agora