M EU NÍVEL DE EMPOLGAÇÃO ESTAVA PASSANDO DOS LIMITES . O dia anterior havia me dado uma dose extra de adrenalina com minha estreia como líder de torcida no jogo dos WestBears. O time vencera, Storm fora um arraso, Mike havia aparecido de surpresa e eu ainda tive um momento lindo de muitos amassos no carro, antes de nos despedirmos, com a promessa de nos encontrarmos logo cedo no sábado. Eu estava mais do que entusiasmada com aquele dia. Mike nem tanto. Acho que não fazia o estilo dele. Festivais de música, ainda mais as alternativas, não caíam bem no estilo country que ele proclamava. Andar em seu carro era sempre um martírio completo, porque nossos estilos musicais não combinavam, mas acho que relacionamentos eram feitos de aceitação das partes boas e ruins de cada um, certo? Então, lá estava eu, pronta e à espera de Mike, para irmos ao Festival Holi de Cores, em Jersey City. Com a entrada da primavera, o festival anual, onde as músicas eletrônicas imperariam por três dias, estava prestes a começar, mas meu intuito era ir ao primeiro dia, para aproveitar a festa das cores. Mike sabia, por alto, que iríamos a shows de música eletrônica, mas ele não tinha ideia da zona com os pozinhos coloridos e tintas que sobreviriam sobre o público em um determinado momento. Aquele poderia ser o lado hippie dos meus pais cantando alto no meu sangue, mas eu amava a vibração que a música e o sorriso dos participantes poderiam emanar. Quando as pessoas iam pela primeira vez, levavam um choque, mas era maravilhoso ver a alegria dominar seus rostos. Era algo único e surreal. Ouvi a buzina e disperei porta afora. Não queria que Storm perturbasse minha paz de espírito. Ele já estava me irritando mais do que o normal quando descobriu os ingressos dentro da minha bolsa na manhã anterior. Nem Rainbow tentando contemporizar fez com o que ele aliviasse. Nem meus pais perturbaram, mas Storm achava que tinha esse direito. Desde o período que nossos pais ficaram afastados, na comunidade hippie, ele se autointitulou o “guardião das nossas virtudes”. Entrei no Jeep de Mike e dei um beijo sapecado em sua boca, que estava escancarada.
— Vai, vai! Acelera! — Quase gritei.
— Por que a pressa? Olhei para a porta de casa.
— Quero sair antes do Storm descobrir. Merda… tarde demais. — Meu irmão vinha pela calçada, com uma toalha enrolada na cintura, sem a menor vergonha.
Bateu na janela lateral e não me restou alternativa a não ser abrir o vidro.
— O que foi, Torm? — perguntei, tentando camuflar a irritação.
— Por que está fugindo como se estivesse programando fazer merda? A vontade que eu tinha era descer e enfiar meu tênis pela sua goela.
— Eu não estou indo fazer merda.
— Mas está fugindo? Porque essa parte você não negou — provocou. Ouvi a risada de Mike e lhe dei um olhar mortal.
— Estava tentando evitar o seu sermão — admiti.
— Aaahnn… porque você sabe que pretende fazer merda…
— Storm! Deixa de ser chato, que saco! Eu estou apenas indo ao festival com o Mike!
— Mulher, esse festival só tem putaria. Tinta rolando solta e essas merdas.
— Tinta? — Mike perguntou sem entender. Revirei os olhos em puro desgosto. Queria fazer uma surpresa para Mike.
— Storm está viajando, Mike.
— Hummm… não alertou o namorado o que acontece no Holi, né? — Storm zoou.
— Cala a boca, Torm.
— Bom, pelo menos você está indo com uma roupa comportada — disse e enfiou a cabeça pela janela do carro.
— Opa! Que porra de short é esse? Sua mãe não te deu criação, pequena safada?! Vá se trocar.
— Storm. Eu juro que vou descer deste carro e dar na sua cara se você não sair daqui agora! — gritei a plenos pulmões. Senti a mão de Mike na minha coxa.
— Ei, mano… tire a mão da mercadoria. Não está vendo que está sem tecido aí? — Storm provocou.Eu sabia que ele estava falando em tom jocoso, mas estava muito puto. Storm era mais ciumento do que muitos namorados de amigas minhas. Era assustador às vezes. Ele sentia ciúme de Rainbow, que era mais velha, mas comigo, sua gêmea, era uma simbiose esquisita. Graças a Deus minha irmã resolveu sair de casa naquele momento.
— Storm? Ele não tirou os olhos da mão de Mike, que continuava no mesmo lugar.
— Yeap?
— Você percebe que está aqui fora de toalha, certo? — perguntou. Ainda bem que ela era sensata e estava alertando aquele imbecil.
— E daí?
— E daí que a vizinha da frente está espiando pela janela, tentando captar uma visão mais detalhada do seu corpo — Rainbow falou e apontou discretamente com o queixo na direção. Olhamos todos, na maior discrição, para não dizer o contrário, e vimos a adolescente tarada, que tinha uma queda brusca por Storm, com o nariz quase colado na janela da sala.
— Deixe que a criatura tenha um momento de êxtase nesse dia lindo. Não é sempre que ela pode se deparar com esses abdominais fantásticos assim, tão ao vivo e em cores — Storm disse rindo e piscou. O imbecil piscou para a vizinha!
— Meu Deus, Storm. Sério… você está passando dos limites nesse seu narcisismo. Vá colocar roupas, por favor. Não somos obrigadas a isso. — Rainbow tentou puxá-lo de perto do carro. Ele não se moveu um centímetro. Okay. Storm estava bem malhado. E forte. Uma montanha de músculos que fazia questão de ostentar.
— Storm? — Mike o chamou.
— Sim, cara?
— Eu vou cuidar da sua irmã — ele disse, seriamente. O olhar de Storm passou de mim para Mike e da mão que ainda estava firmemente plantada na minha coxa. Acho que os dois estavam batalhando numa espécie de duelo de vontades.
— Da mesma forma que sua mão está fincada aí, cara?
— Storm! — ralhei, morrendo de vergonha.
— Rain! Chame o pai, por favor.
— Eles saíram. Foram a uma feira agrícola de produtos naturais e veganos. Eca. Só faltava aquilo. Nossos pais iriam implementar uma dieta louca para nós três. Eu podia sentir aquela vibração zen nos meus ossos.
— Storm?
— Yeap?
— Sabe aquele jogo de videogame que você ama? — Rain atraiu sua atenção. Storm cerrou os olhos e olhou atentamente para Rainbow.
— O que tem ele?
— Vou entrar na fase que você está jogando e fazer você perder todos os créditos que conquistou. Storm arregalou os olhos de uma forma que cheguei a pensar que fossem saltar para fora das órbitas.
— Você não faria isso! — disse consternado. Num ato dramático, colocou ainda a mão no peito. — Cheguei a sentir uma palpitação estranha aqui no peito. Você foi cruel, Rainbow. Eu aqui, apenas cuidando da nossa irmã caçula…
— Irmã caçula que já tem dezessete anos e sabe o que faz. Fora que está indo com um namorado, que tem a cabeça no lugar e parece ter trinta anos, de tão maduro — Rainbow disse.
— E isso era para ser um alívio, porra? Você está me dizendo que esse cara tem a idade mental de “quase” trinta anos e quer que eu fique tranquilo? Ele é quase um pedófilo, Rain! Rainbow deu um tapa na cabeça de Storm.
— Vá para casa, agora! Ou juro que escondo todas as suas fitas de game. E pior… coloco no seu status do Facebook que você está em um relacionamento sério!
— Isso vai ser difícil de acreditar… Eu não sou homem de uma mulher só. Elas nunca acreditarão. Mike riu do meu lado e dei-lhe um beliscão.
— Aiii.
— Não dê corda ao comportamento doente do meu irmão. Ele precisa de ajuda psicológica — sussurrei e sorri ao ver o sorriso em seu rosto.
— Okay, vocês venceram. Vou embora. Mas quero que saiba que há um GPS na sua bunda, Sunny. Aquilo quase me matou de vergonha e por um instante cheguei a pensar em conferir, mas lembrei que Storm era maluco e não regulava da cabeça.
— Vá, Storm. Ele saiu marchando e fazendo um número para a vizinha que ainda se mantinha grudada à janela. Espreguiçou o corpo e ergueu os braços, quase fazendo com que a toalha caísse.
— Storm! — Rainbow gritou. Entrou em casa rindo a plenos pulmões. Rainbow se virou para mim e piscou.
— Divirtam-se e tenham juízo — falou. — E não bebam nada que seja dado por estranhos.
— Estarei lá para evitar que ela repita o episódio. Okay. Mike ainda estava com aquilo no coração. Eu teria que me empenhar mais para fazê-lo esquecer.
— Especialmente você, Mike. Nada de bebidas.
— Eu nem tenho idade para isso, Rain — ele disse em tom jocoso.
— Eu sei, mas esses festivais de merda podem acabar deixando passar certos detalhes técnicos.
— Okay.
— E você? — perguntei curiosa.
— Eu e Thomas vamos assistir a um filme no drive-in — ela disse com um sorriso e o rosto vermelho. Hummm… eu sabia que o filme poderia se tornar uma sessão de amassos rapidamente.
— Cuidado e não se engasgue com a pipoca — zombei.
— Ridícula. Mike deu partida no carro e nos despedimos ali. A distância de casa até Jersey City era de uns quarenta minutos ou mais, dependendo de como o trânsito estaria naquele sábado pela manhã. Nem bem havíamos saído, quando Mike segurou minha mão.
— Já que vou ter que aguentar as músicas que você tanto ama por não sei quantas horas, será que posso mandar na estação do rádio? — perguntou e beijou os nódulos dos meus dedos. Ele era fofo em simplesmente perguntar.
O carro era dele, afinal. Poderia fazer o que quisesse e nem ligar para os meus desejos. Mas Mike era tão atencioso aos meus sentimentos que muitas vezes eu pensava onde eu tinha arranjado tanta sorte para conquistar sua atenção para mim.
— Claro.
— Você está bonita — ele disse e me olhou de rabo de olho.
— Obrigada — respondi com um sorriso.
Eu tentei caprichar no visual. Coloquei um short jeans estilizado que eu mesma fiz questão de customizar, uma camiseta regata branca, com uma regata colorida por baixo. Eu sabia que as tintas poderiam deixar a blusa transparente, e não queria o embaraço posterior. Os cabelos fiz questão de manter em um estilo Boho Chic , com tranças minúsculas entrelaçadas entre si, mas deixando o restante do cabelo solto. O rosto é que eu fiz questão de deixar diferente. Elaborei uma maquiagem com uns pequenos apliques coloridos ao redor dos olhos e sobrancelhas. Quando as luzes coloridas e estroboscópicas piscassem, aliadas à tinta, faria um efeito muito legal. Eu era antenada nessas tendências e queria deixar uma imagem inesquecível para Mike levar durante sua semana na faculdade. Seria a última semana de aulas dele, depois viriam as férias de verão. E então poderíamos passar um tempo juntos. Ou assim eu esperava. Não tínhamos programado nada. Sequer averiguei se Mike viajaria para algum lugar ou não.
— Melhor… eu me expressei errado — falou e puxou minha mão novamente. Daquela vez o beijo seguiu com uma mordida. O arrepio que percorreu meu corpo foi interessante e nem um pouco sutil. Esperava que ele não tivesse percebido.
— Você está linda. Mas vou ter que concordar com seu irmão. Franzi o cenho, sem entender o que queria dizer.
— O quê?
— Seu short está curto. Revirei os olhos e tentei puxar a mão.
— Mike… — Sério… você não poderia ter colocado uma calça? Sei lá… uma burca? Comecei a rir.
— Não. Mas até que a burca ficaria interessante no final do evento.
— O que ele quis dizer com tintas? — perguntou curioso.
— Você vai ver — respondi enigmaticamente.
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Sunshine
Novela JuvenilEntre as irmãs Walker, Sunshine sempre foi conhecida como a mais descolada e de personalidade expansiva. Sempre se sentindo à sombra da irmã mais velha, Rainbow, tão certinha e centrada, Sunny fazia questão de manter uma imagem de que na verdade não...