Capítulo 25

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ACORDEI ME SENTINDO PÉSSIMA. UM HORROR MESMO. E não daquele jeito mulherzinha, onde a gente acorda e se acha a pior pessoa do mundo porque seu cabelo está medonho. Não. Eu estava me sentindo muuuuuito mal. Tão mal, que nem ao menos estava conseguindo me levantar direito da cama. Como sou praticamente uma valquíria insistente, e também como eu tinha prova de Química no primeiro horário, dei um tapa no mal-estar e ergui meu corpo débil do meio dos meus cobertores fofinhos. Juro que estava sentindo que o Mumm-Rá, o ser mumificado dos Thundercats , aquele desenho antigão da época dos meus pais, acho, estava tentando me mostrar o que realmente era o tal lance da “forma de um corpo decadente”. Caminhei pesadamente para o banheiro e nem ao menos olhei para o espelho, enquanto escovava os dentes, o que já dizia muito sobre o meu estado de espírito e o quanto a coisa era grave. Eu sou um ser um pouco volúvel. A primeira coisa que faço quando me levanto e vou ao banheiro é dar uma conferida na cútis e analisar se algumas rugas surgiram ali. Brincadeira.Não tive forças para tomar banho, porque calafrios percorriam meu corpo. Como ninguém ia me cheirar mesmo, especialmente meu namorado fabuloso, que estava bem distante, não tinha problemas, certo? Coloquei um moletom surrado, uma calça jeans, que levou uma década para que eu conseguisse deslizar pelas minhas pernas, já que a tarefa pareceu hercúlea, amarrei o cabelo de qualquer jeito e desci as escadas.
— Pelo amor de Deus! O que é isso? — Storm indagou, assim que entrei na cozinha.Nem me dei ao trabalho de responder, porque nem me atentei para o fato de que o panaca estava falando comigo. Peguei um prato no escorredor, catei um pouco dos ovos mexidos que a mãe tinha feito e sentei de qualquer jeito à mesa. Quando fui colocar a primeira garfada na boca, meu estômago embrulhou.
— Sunny? — Storm chamou meu nome, mas eu estava longe. Tentando, no mínimo, fazer a bílis voltar para o lugar de onde não devia sair. Em mais uma tentativa de colocar a comida na boca, não tive êxito e tive que correr para o banheiro do corredor, vomitando o que eu nem sequer havia comido.
— Eeeeeca! — Escutei o grito de Storm. Ainda tive forças de revirar os olhos diante da palhaçada dele. Mamãe chegou ao meu lado, agachada de maneira indigna no vaso, e segurou meus cabelos.
— O que você tem, amorzinho? — perguntou carinhosamente.
— Estou me sentindo mal, mãe. Não sei o que é. Storm apareceu na porta do banheiro com seu prato de comida. Aparentemente, meu gêmeo não tinha nojo e nem noção de higiene alimentar.
— Você não está grávida, não é? — perguntou na lata.Ergui a cabeça do vaso, no maior esforço do mundo, fuzilei o idiota com meus olhos, que no mínimo, no MÍNIMO, se existisse justiça nesse mundo, deveriam ter o poder de ganhar a habilidade de disparos de raio laser, porque aí eu poderia fulminar aquele palhaço na hora.
— Você é um imbecil, sabia?
— É uma pergunta válida…
— Storm, sua irmã está passando mal, essa não é a hora para gracinhas — a mãe ralhou.
— Mas, mãe… se ela estiver grávida… — Se ela estiver grávida, nós vamos resolver isso no médico e com vitaminas pré-natais — ela completou.Revirei os olhos.
— Eu não estou grávida, pelo amor de Deus.
— Como pode ter certeza? — Storm perguntou e seus olhos estavam entrecerrados. O idiota estava investigando. Bundão. Eu sabia, porque, para engravidar, era necessário que houvesse contato físico mais do que imediato e sexo intenso, suado e selvagem, sem contracepção. Logo, não havia riscos. — Cala a boca, Storm.
— Okay. Calei. Mas só porque vou enfiar outra garfada de comida na boca — disse.
— Sai daqui. O idiota deu de ombros e saiu, deixando-me a sós com a mãe. — Nenhuma possibilidade de estar grávida? — indagou.
— Não, mãe! Pelo amor de Deus! — respondi e abaixei a cabeça entre os braços. Eca… no meio do vão do vaso. Aquilo era nojento. Ainda bem que a mãe já tinha dado descarga. Ou eu teria vomitado mais. Já repararam que, quando você vomita e olha o resultado inglório, aí é que você continua vomitando, porque sente nojo? Já pensou que aquilo pode ser um círculo vicioso? E se nunca parar? Tipo, você vomita, olha o vômito e vomita de novo. Quando será que para? Quando seu estômago sai? Pensamentos nojentos me levaram para longe. Comecei a rir.
— Venha. Você não precisa ir à aula hoje.
— Por mais que eu queira matar aula, mama, e por mais que eu adore essa frase sua, hoje eu não posso deixar de ir. Tenho prova — falei. Lavei a boca e saí com ela me abraçando.
— Então vou fazer um chá pra você. E foi aquilo.O máximo que consegui tomar foi o chá de ervas da mamãe e dois biscoitinhos de gergelim. Rainbow já tinha saído para a faculdade e nem presenciara o meu momento Rainha do Trono de Cerâmica. Nem pra ser a heroína fantástica da Sarah J. Maas e o trono de vidro. Droga. Melhor assim… ela poderia ter entrado na patrulha com Storm e tentado averiguar meu estado virginal. Fui para a escola, mas Storm foi bonzinho e resolveu dirigir meu carro. Sério. Eu estava muito mal. Acho que até ele estava meio assustado.
— Sério, Sunny… você está meio verde — ele disse, olhando de lado, enquanto dirigia.
— Sério? — Abaixei a aleta do retrovisor e olhei para o espelho. Eu estava um horror, mas ainda não tinha alcançado a tonalidade do Shrek. — Exagerado.
— O que você está sentindo?
— Dor.
— Tão genérica.
— Sabe aquela mocreia do filme dos vampiros?
— Qual?
— Crepúsculo . Aquela franguinha loira, do terceiro filme. — Hummm… interpretada pela Dakota Fanning? — confirmou. Storm podia não saber o nome do personagem, mas era antenado no nome das atrizes que ele achava bonitas… imbecil.
— É.
— O que tem ela?
— A personagem dela tem o poder único e exclusivo de com uma palavra apenas fazer com que as pessoas se contorçam e sofram
horrores. Basta ela dizer: dor — expliquei.
— Hummm.
— Então… parece que essa filha da puta está instalada no meu cérebro o tempo todo. Só vejo a imagem dela, em 3D, dizendo com aquela voz medonha: Doooooooor. Daí, eu não sou a Bella Swan, saca? Não sou imune. Estou me contorcendo como uma minhoca. E não tenho um Edward Cullen para fazer um bloqueio mental e me proteger. Merda — falei e suspirei.Storm começou a rir.
— Cara. Você é doente.
— Não, Storm. Eu estou doente.
— Eu digo por causa do seu vício e essa sua analogia tosca com Crepúsculo.
— Foi uma analogia muito legal e você vá tomar banho na soda — falei e saí do carro, assim que estacionamos na escola. Acho que gemi. Caralho. A cabrita loira estava realmente perturbando meu cérebro, porque eu podia jurar que estava ouvindo seus risos debochados agora. Jane Volturi. Acho que era esse o nome da infame.

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