Capítulo 9

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EU PRECISAVA ESQUECER POR UM MOMENTO QUE ESTAVA SOZINHA . Mais uma vez. Mike estava tendo muitos jogos fora de casa, e quando digo “fora de casa” quero dizer em outro campus longe de Princeton, com o time de futebol,logo, ele e Thomas quase sempre se ausentavam nos finais de semana em que deveriam voltar a Westwood. No último mês em que estivemos juntos, conseguimos estabelecer um ritmo até mesmo interessante no nosso “namoro”. Ainda custava acreditar que ele estivesse levando totalmente a sério aquilo. Mas lá estava eu, completamente apaixonada pelo cara. Antes era festeira e fazia questão de caçar os agitos que aconteceriam logo após as aulas nas sextas-feiras, normalmente depois dos jogos de futebol. Até que Tayllie e eu descobrimos um local onde poderíamos nos divertir livremente e sem amarras. Nós éramos assíduas frequentadoras do clube de dança, onde toda sexta ou sábado aconteciam festas dançantes, obviamente. Porque se havia uma coisa que eu gostava loucamente era de dançar. Cara… eu simplesmente amava sacudir o corpo ao ritmo de alguma música agitada, deixar a mente me levar para qualquer lugar imaginário onde somente as sensações das batidas musicais prevalecessem. Gostava de fechar os olhos e só curtir. Nada mais. E talvez pelo fato de fazer questão de agitar aquele meu esqueleto, toda sexta ou sábado, as pessoas tivessem a ideia errônea de que na verdade eu saía para a pegação geral. Essa era uma das razões porque eu amava aquele lugar em vez das festas da escola e, depois que comecei aquele lance com Mike, acabei me afastando mesmo dos momentos de interação escolar.Muitas vezes os garotos não entendiam um “não” como resposta. Só que lá estava eu, em uma sexta-feira, na casa de Samantha Parker, a capitã das líderes de torcida do time de Westwood. Eu até gostava dela, honestamente. Mesmo sendo um pouco arrogante, às vezes, quando não estava sendo, conseguia ser simpática. Era controverso, mas era real. Ela e Mandy, a cocapitã, eram as típicas loiras do Ensino Médio. Andavam com as bundas tão empinadas que daria para usar como bandeja, mas compensavam sendo até bacanas. Naquela noite eu estava me sentindo péssima. Minha última conversa com Mike não havia terminado de uma maneira agradável. Deixei que meu ciúme falasse mais alto que minha segurança e autoestima. E isso quando ele tinha vindo para Westwood rapidamente, apenas para me ver. Eu sabia que ele era requisitado na universidade. As meninas caíam em cima sem dó nem piedade. E acho que numa das fotos que vi no seu celular, no último final de semana, acabei deparando com uma onde ele estava com uma garota, também líder de torcida. Não havia nada de incriminador, mas o monstro de olhos verdes mordeu minha bunda. E não foi uma mordida agradável.Enquanto Mike passava as mãos pelos meus cabelos, senti a vibração do celular ao meu lado. Nem sabia se era o meu ou o dele. Estávamos deitados no sofá de casa, assistindo Teen Wolf, okay… pode ser que Mike não estivesse realmente assistindo… ele estava mais concentrado em embrenhar os dedos nos meus cabelos. Peguei o celular escandaloso que apitava do lado. Opa. Era o de Mike. Sem querer uma mensagem pulou na tela, marcando que alguém havia feito um comentário em um post de Instagram. Como meus olhos eram muito sagazes e velozes, mais parecidos com olhos ninjas e tal, acabei lendo a mensagem… sem querer. Algo como: “Foi maravilhoso o jogo e poder conhecer vocês ao vivo foi a realização de um sonho!”. Hein? Okay… respirei fundo algumas vezes. Puxei o ar, soltei o ar. Puxei de novo e segurei, pra ver se a sensação de desmaio ia acontecer, porque eu estava fazendo aquilo, não fazia ideia, mas tinha aquele estranho hábito desde pequena. Quando eu queria esquecer algo meio perturbador, eu tentava apagar minha própria mente. Que melhor maneira do que tentar obstruir o aporte de oxigênio no cérebro?
— Seu celular está tendo uma convulsão — falei, brincando. Mike pegou da minha mão e abriu a tela. A parte boa era que ele não agiu como se estivesse fazendo algo megassecreto e tal. Ele olhou a postagem, comigo ali, à espreita… então calhou que vi a imagem.
— Ah, uau… foi no último jogo de vocês? — perguntei educadamente. Minha vontade era pegar o celular e arremessar longe.Uma morena voluptuosa estava posando ao lado dele, junto a outras duas garotas, mesmo que Mike parecesse desconfortável, com as mãos ocupadas com uma garrafa de Gatorade. Ou seja, ele não estava abraçando ninguém de maneira fofa e aconchegante. Menos mal.
— Sim. Depois teve um evento do time que nos recebeu para a disputa.
— Aahhh… legal. Como fiquei em silêncio por um tempo, Mike acabou olhando para mim mais atentamente. — O que foi, Sunny? — Nada. — Uma vez me disseram que quando uma garota diz “nada”, na verdade ela quer dizer “tudo” — ele falou e se ajeitou à minha frente.
— Então, o que você não está me dizendo? Sentei no sofá e puxei os joelhos à frente do corpo, apoiando o queixo nos braços. — Okay… vou ter que admitir… Eu não gostei de ver a foto — admiti.
— Que foto? Ai, que imbecil.
— Essa foto, Mike.
— Do Insta?
— Não, do mapa-múndi. É óbvio que do Insta, né?
— Mas, por quê? — perguntou e sua sobrancelha arqueou. Ele poderia ser mais tapado?
— Porque… porque… eu não gostei de ver as garotas presentes na foto, Mike. Pronto. Falei. Nossa… isso é uma hashtag muito batida, mas cabe no momento — tentei brincar.
— Sunshine, essas garotas eram da equipe de cheerleaders do time adversário e acabaram se enturmando com todo o time — falou e colocou a mão no meu rosto.
— Se eu não me engano, acho até que ficaram com os caras.
— Tá. Tudo bem.
— Você acha que eu faria algo pelas suas costas? — questionou, indignado. Tentei me levantar, mas ele não permitiu.
— Não é isso, Mike.
— Claro que é isso, porra. Se você está vendo uma foto e já pensando o pior, significa que não confia em mim. Olhe a merda da foto — Mike pegou o celular, abriu na tela e colocou à minha frente —, você vê algo aqui que poderia dizer que estou te sacaneando? Naquele instante senti vergonha do meu ciúme.
— Desculpa, Mike.
Ele me puxou para seu colo, abraçando-me e enfiei meu rosto no vão do seu pescoço, tentando disfarçar o desconforto súbito que sentia no momento.
— Eu preciso que você confie em mim, Sunny — ele disse.
— Desculpa — pedi de novo.
— Eu só quero que você não coloque coisas na sua cabeça, especialmente a cada vez em que não estivermos juntos — falou.
— Okay. Eu sei que ele foi embora naquela noite chateado comigo. No dia seguinte, era como se nada tivesse acontecido, mas podia perceber que Mike estava mais calado do que o habitual. Voltou para o campus, em Princeton, e nossas conversas foram esporádicas. E sutis. E sem nada de emoção. E aquilo não era bom. Naquela noite ele havia apenas dito pelo WhatsApp algo como:

Estou  processando o que as dúvidas em seu coração possam significar.

Fiquei calada por um tempo, sem saber o que responder.

Bem, eu já pedi desculpas quando percebi meu vacilo, mais que isso, não sei bem o que fazer...

Mike respondeu dez minutos depois:

Eu também sinto dificuldade em lidar com algumas coisas, Sunny. Mas nem por isso deixo que a desconfiança seja o primeiro que impede na minha mente.

Tudo bem. Sinto muito

Tudo bem . Sinto muito.

Tayllie chegou ao meu lado naquele momento,quebrando meu passeio pela vila das memórias, e estendeu dois copos vermelhos com algo suspeito dentro.Peguei um e cheirei. — O que é isto aqui? — questionei.
— Coca-cola…
— Tayllie… não minta, sua vaca. Você fica vermelha quando mente. O que significa que seu rosto está de um tom escarlate agora…
— Um pouquinho de vodka. E me falaram que fica muito gostoso…
— Tay… eu não bebo. Você sabe disso. E não bebo mesmo. Ou melhor, evito totalmente desde o dia que bebi e vomitei as tripas, a alma, a compostura e tudo mais. Porque foi bem no arbusto da casa de Simon, um dos meus paqueras na época. E pior, quase fiz xixi na roupa com a força bruta que o reflexo do vômito extraiu de mim. Foi horrível e embaraçoso. Aquilo havia sido no ano anterior. Ou será que antes? Está vendo… estava tão ruim que nem ao menos me lembro da data exata. Fora o fato de que fiquei sentindo os lábios engraçados. Como se não fossem meus. E suspeitava que posso ter falado coisas que não deveriam ter sido proferidas em alto e bom tom.
— Sunny, só experimente… Acabei cedendo e bebi um gole da bebida infame. E o pior é que a maldita nem era tão ruim, já que estava plenamente disfarçada pelo sabor da Coca-Cola. Acabei tomando mais dois goles. Continuamos nossa conversa por alguns minutos, apenas olhando ao redor. Eu olhava meu celular a todo o momento, esperando uma mensagem de Mike. Nada. Ele estava me dando o tratamento do silêncio. Idiota. Não, apague isso. Eu havia sido a idiota.Quando a música agitada começou, perdi um pouco a timidez que sabia que não existia mesmo em mim e me joguei na pista de dança. Oh, se aquela sensação não era maravilhosa… cara… eu não sabia o que poderia ser melhor. Podia jurar que senti o chão tremendo com a batida da música. Coloquei as duas mãos na cabeça e simplesmente deixei que o ritmo preenchesse o vazio que estava coabitando meu peito. Um dos péssimos hábitos que eu e Tayllie tínhamos era a mania de cantar a música em conjunto com o cantor. Daí, que nos empolgávamos em alguns momentos. E bem… podia ser um pouco constrangedor. Do ponto de vista dos outros companheiros de dança, porque para nós duas? Bleee… não estávamos nem aí. Tay dançava à minha frente e cantávamos uma para a outra, rindo como duas loucas completamente sem noção. O clube de dança ao qual comparecíamos nos tornou exímias dançarinas e conhecedoras profundas de todo tipo de coreografias que podiam ser praticadas em salões de bailes. Nós nos divertíamos tanto que acabava sempre virando uma festa. E talvez, com o auxílio daquela porcaria de bebida, pode ser que minha alegria tenha sido um pouco exacerbada. Logo, eu e Tayllie estávamos dando um supershow na pista de dança, fazendo toda espécie de coreografia altamente performática, daquelas que só se veem em vídeos de Youtube, as quais fizeram com que os companheiros de pista parassem seus passos trôpegos para acompanhar o que fazíamos. Pior é que ainda estávamos rindo. Porque era divertido. Quando digo que, quando eu dançava, me esquecia de tudo ao redor, era a mais pura verdade. Tão verdade que sequer me dava conta de que alguns colegas filmavam com seus celulares. Deixei que a música expurgasse os sentimentos de incerteza que estavam correndo em minhas veias. Deixei que a letra agitasse o sangue e elevasse minha moral. Deixei que a merda do zumbido daquela bebida batizada fizesse um estrago, porque, depois que a música acabou, não consigo me lembrar de absolutamente mais nada.

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