Capítulo 22

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MIKE PUXOU MINHA MÃO E ENTRAMOS NA LANCHONETE LOTADA da beira de estrada, seguidos por Thomas e Rainbow, que estavam entretidos em alguma discussão calorosa sobre quem iria fotografar quem. — Vamos nos sentar ali naquele cantinho — Mike disse. Olhei para trás, acenando para os dois desavisados, mostrando que estaríamos no canto oposto. Embora o lugar estivesse cheio, nem bem nos sentamos e uma garçonete bem disposta já chegou toda animada para nos servir. Bom, na verdade, ela parecia estar mais animada com a presença de Mike e Thomas no lugar. Dando uma passada rápida de olhos ao redor, reparei no porquê de todo aquele interesse e concentração da moça. A maioria dos frequentadores era de famílias formadas por milhares de crianças, um grupo Amish enorme estava do outro lado, todos em suas vestimentas características, havia um grupo de caminhoneiros e só. Acabamos nos destacando ali. E Mike e Thomas se destacavam mais ainda, porque os dois se pareciam com modelos Abercrombie & Fitch. Cara, eu e Rainbow acertamos na loteria… minha vontade era tirar foto dos dois e postar o dia inteiro no Instagram, mas quão volúvel eu seria, não é? Enfim, seria legal poder fazer aquilo se Mike gostasse de sair em fotos. O que não acontecia. Era difícil convencer a criatura do mato a aceitar tirar uma selfie comigo. Das duas vezes em que tentei, ele enfiou a cabeça no vão do meu pescoço e só eu dei as caras. A dele ficou camuflada. Ainda bem que pelo menos os abdominais deram um hello para a massa. Choveram comentários no post . Eu morri de rir. Claro que somente até a hora que uma garota, que não faço a mínima ideia de quem seja, mas me segue, não sei por qual razão também, simplesmente escreveu: “Eu lamberia todinho”.Atrevida. Aquele tipo de comentário era muito o meu eu antigo. A Sunshine antes de Mike. Existia uma classificação A.M. e D.M., e não, não estou falando de frequência de rádio, ou essas coisas, mas de Antes de Mike e Depois de Mike.
— O que vocês vão querer? — a garota perguntou e piscou os cílios postiços. Eu sabia que eram postiços porque um lado estava meio que descolando. Até pensei em avisar, mas achei que ia ficar mais embaraçoso. Só esperava que um deles não caísse exatamente em cima de um dos nossos sanduíches. Seria nojento.
— O maior sanduíche que você tiver e batatas fritas. E uma Coca-Cola gelada para completar a bomba calórica e nada saudável do dia — Thomas disse, sem erguer o olhar do cardápio. — Eu vou querer panquecas e ovos mexidos. Duas fatias de bacon bem tostado — Rainbow falou.
— Sua mãe estaria orgulhosa de você. Até o momento do bacon tostado — Thomas retrucou rindo.
— Pois é. Ainda bem que ela não está aqui, ou estaria vasculhando o cardápio em busca de algo natureba — eu falei.
— Eu vou querer um X-salada e batatas. E uma limonada — Mike disse e se virou para mim.
— E você, Sunny?
— Cheeseburguer e limonada — falei. — Nada de batatas? — Mike brincou. — Nope.
— Não vai querer roubar as minhas depois? Tem certeza? Eu estava querendo evitar as frituras. As batatas eram sensacionais, mas minha calça jeans estava apertando no quadril, então, ou eu segurava a onda na gordura extra, ou entrava na academia. Preferi segurar a onda. Academia era o equivalente a câmara de tortura para mim. — Eu juro. Mas, se eu tentar, pode bater na minha mão. Quando a garçonete saiu, jogamos um papo fora, sobre como faríamos para montar o acampamento, o que faríamos, que tipo de atividade nós, meninas, estávamos dispostas a fazer etc. Eu e Rainbow apenas revirávamos os olhos, porque aqueles dois mal sabiam que nossos pais nos criaram em contato com a natureza, logo éramos acostumadas a longas caminhadas pelo mato, escaladas e afins. O fato de não gostar de fazer não significa não saber fazer, certo? Mas estávamos ali para nos divertir, então nos jogaríamos na aventura de cabeça. Eu confesso que estava meio tensa. Meio não. Inteiramente tensa.Não sabia como seria o esquema da dinâmica das barracas. Será que Mike montaria barracas individuais? Será que ele esperava que dividíssemos? Será que eu e Rainbow é que seríamos parceiras de roncos aleatórios? Okay, risque isso dos roncos. Eu não roncava. Nunca. Ou ao menos nunca soube, já que eu estou dormindo, logo não tenho como atestar o fato. E, como nunca tive relatos contrários, quero crer que sou uma pessoa muito pacífica e hollywoodiana no sono. Hollywoodiana no sentido amplo da palavra… dormir e acordar com aquela pele e cabelo perfeitos. Nada de baba escorrendo pelo canto, cabelo
desgrenhado, bafo matinal. Não custa nada sonhar acordada, certo? Desejar o impossível. A mocinha dos olhos piscantes chegou com a bandeja com nossos pedidos e, bem… nem preciso dizer que os caras devoraram a comida como se suas vidas dependessem daquilo. Cara, estávamos na estrada havia três horas só… e a fome já tinha quase destroçado o estômago daqueles dois. Depois que acabei meu sanduíche, fiquei degustando minha limonada em pequenos goles extraídos do canudinho, tentando conter a vontade ferrenha de roubar uma batatinha de Mike.
— Devemos chegar em menos de quarenta minutos — Thomas falou. — Eu dirijo agora e Rain controla a música. Se eu ouvir música country por mais um minuto, vou entrar em coma.
— Ah, cala a boca, Thomas. Você nunca reclama quando estamos indo de Princeton para Westwood — Mike zombou. — Até canta Rascal Flatts… — Nego até o fim.
— Cantou, que eu ouvi. — A brincadeira entre os dois continuou. Saímos da lanchonete e Thomas cuidou do tanque, checando se precisava abastecer ou não, enquanto eu e Rainbow seguíamos para o carro. Acho que cochilei os quarenta minutos restantes e quando acordei estava deitada no colo de Mike, e lembra da baba? Bem, pode-se dizer que disfarcei um pouco a presença indesejada que quis dar o ar da graça na calça jeans dele.Levantei e estalei o pescoço que havia ficado duro. O colo de Mike era macio, mas a posição era ingrata.
— Dorminhoca — ele disse e passou a mão no meu cabelo. Okay. Rabo de cavalo torto. Nada de glamour. Droga. — É só eu andar aqui atrás e o sono me pega — confessei.
— Chegamos — Thomas disse.
— Nossa! Isso é um camping com vida selvagem mesmo! — Rainbow gritou. Olhei pela janela e me espantei com o visual. Era lindo. Fabuloso até. Havia apenas alguns chalés ao longe, mas a maior concentração era de pequenas barracas que ficavam afastadas umas das outras. Algumas estavam adornadas com lanterninhas, outras tinham uma fogueira ainda apagada no meio. Quando Thomas entregou o papel ao cara da portaria, ele deu a direção para onde nosso carro deveria seguir para instalar as barracas e disse em qual local deveríamos estacionar o veículo depois. Thomas parou o carro num descampado bacana, longe da área florestal, mas perto da área dos banheiros, o que seria ótimo para o caso da necessidade de um xixi no meio da noite.
— E é aqui que ficamos. Um hotel  cinco estrelas — Thomas brincou.
— Bom, pelo céu estrelado que vai ficar sobre a nossa cabeça, podemos até dizer que o hotel é de infinitas estrelas — Rainbow completou. Thomas pegou minha irmã no colo e lhe deu um longo beijo diante da plateia, no caso eu e Mike, que reviramos os olhos.
— Você é mais fofa e romântica do que gosta de admitir, Rain — falou. Rainbow ficou mais vermelha que um pimentão e resolveu que a cota de fofurice estava boa pelo dia.
— Vamos, Sunny. Vamos fazer o serviço das mulheres — falou e me chamou no canto. Retiramos todas as coisas do carro, enquanto Thomas e Mike montavam as barracas. Eram duas barracas até grandes para nossos padrões. Eu pensava que seriam microbarracas, daquelas para duas pessoas, onde um teria que dormir amontoado no outro, como uma espécie de beliche… Okay, minha mente estava viajando um pouco… mas daí me surpreendi quando vi que os dois tinham montado barracas tipo família, que acomodariam de três a quatro pessoas tranquilamente.
— Uau… mas… uma barraca dessas aí caberia nós quatro pelo tamanho — falei embasbacada. Thomas olhou para Mike e vi que seguravam o riso. — É… humm… mas aí não daria para ter privacidade, não é mesmo? — Thomas disse e piscou. Eu era esperta. Aquela piscadela de Thomas e o comentário foram mais do que suficientes para sanar as dúvidas que eu estava matutando na mente antes. Aqueles dois já tinham tramado todo o esquema muito antes do mundo ser mundo.

                          MIKE
A escolha das barracas, tanto por mim quanto por Thomas, foi algo friamente calculado. Não com intenções escusas, nem nada, mas com o objetivo de passar um tempo de qualidade com nossas garotas. Cada um com a sua. Da minha parte havia o desejo de compartilhar aqueles momentos de sono com Sunshine, poder vivenciar os momentos que ouvia Thomas relatar como únicos e inigualáveis. Ele havia me confessado que, da primeira vez que dormiu e acordou com Rainbow em seus braços, nunca mais conseguiu pensar em outra coisa. Que era a melhor sensação de todas. A sensação de intimidade e conforto de ter um corpo quente ao seu lado durante todo o período em que ficamos mais vulneráveis. Eu queria aquilo. Queria dormir com Sunshine em meus braços. Abrir os olhos pela manhã e seu rosto ser a primeira coisa que eu focasse. Queria ser o último que ela visse ao fechar os olhos e ser aquele que povoaria seus sonhos. Ser aquele a quem ela recorreria durante a noite, em busca de calor e conforto, em busca de segurança, para o caso de sentir medo pela presença de algum bicho ou um urso, sei lá. Okay, eu estava viajando um pouco, mas a ideia original era válida. Eu simplesmente queria tê-la ao meu lado, passar o maior tempo possível com minha garota em meus braços. Queria aproveitar aquele feriado ao máximo e ter memórias incríveis.

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