Capítulo 18

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O DIA DO JOGO CHEGOU E EU ESTAVA NERVOSA . Ainda estava no lucro, porque nem havia vomitado durante a semana, nos treinos. Estava me arrumando em casa, quando Rainbow entrou no quarto.
— Okay, eu vou assistir essa sua performance toda cheia de floreados e pernas esvoaçantes — falou sem empolgação alguma. — Becca vai comigo. Parei o que estava fazendo e dei um abraço nela.
— Obrigada, Rain! — Aquele gesto era importante para mim. Eu tinha que admitir que queria muito que Mike estivesse ali também. Era minha primeira apresentação como líder de torcida e eu estava excitada e nervosa ao mesmo tempo. Mas nem havia cogitado fazer o convite. Só tinha mandado uma mensagem singela:

Hey, você! Deseje-me sorte! Hoje vou agitar os pompons pela primeira vez num jogo oficial dos WestBears! :)

Até aquele momento ele não havia me respondido. Eu sabia que muitas sextas-feiras ele treinava intensamente antes de poder sair com Thomas, então nada de cobrança, certo?
— Você vai arrasar. E vai desbancar aquelas loiras todas lá — Rainbow disse e sentou-se na minha cama. — Por que a maioria das líderes tem necessariamente que ser loira?
— Não faço ideia. Talvez para cumprir o ideal americano? — brinquei enquanto prendia o cabelo em um alto rabo de cavalo tão apertado quanto o que Ariana Grande usava. Puta merda. Como aquela cantora conseguia usar o cabelo daquele jeito e cantar ao mesmo tempo? E não ter seus neurônios expurgados, tentando descer de rapel pelos fios, numa fuga desesperada?Sério… um rabo de cavalo daquele era capaz de resultar num aneurisma cerebral.
— Provavelmente. Bem, daí você vai lá e quebra o ideal.
— Mas a equipe tem umas garotas negras lindíssimas. Esse ideal já está desmistificado — falei. Algumas meninas eram afrodescendentes fantásticas, com suas peles impecáveis.
— Que legal. Uau, esse cabelo vai te deixar com dor de cabeça.
— Acho que já vou tomar um analgésico — falei.
— Deixa só a mamãe te ouvir dizer isso… — Rainbow disse baixinho e começou a rir. Nossos pais odiavam qualquer espécie de remédio que fosse produzido pela indústria capitalista. Se fosse de plantas, estava valendo. Minha mãe era muito fã de chás. Uns muito doidos, por sinal.
— Amanhã que você vai ao festival com Mike?
— Yeap.
— Estou doida para ouvir você contar depois.
— Eu também.
Estávamos no alambrado, na concentração do estádio, prontas a entrar na ala dos vestiários, já que saíamos dali, antes de rolar o anúncio do locutor, do nome dos times. Rainbow estava dando o último retoque na minha roupa quando Tyson chegou junto com Carl e, puta merda, Jason Idiota Carson. O imbecil que infernizou a vida de Rainbow ano passado. Aparentemente eles eram todos amigos naquela comunidade elitista.
— Olha, se não são as irmãs fofinhas Walker — o idiota Carson disse. — As de nomes peculiares… Os imbecis que estavam juntos riram, mas alguns ao redor apenas observavam.
— Ei, Sunshine — Tyson cumprimentou. — Ei, Rainbow. Você continua tão bonita quanto eu me lembrava — Ty disse.
— Cuidado, Ty. Jason vai acabar ficando com ciúme de você — Carl panaca replicou.
— Rainbow é passado pra mim — Jason falou com escárnio. Ui… olhei para minha irmã. Mal sabia ele que a língua dela era afiada.
— Engraçado, você nunca esteve no meu presente — disse com ironia. O silêncio durou apenas o suficiente para que todos entendessem a implicação do fora que Jason havia acabado de levar. O riso foi geral. Bati a mão com minha irmã. Ela era meu ícone master em respostas prontas para destruir reles mortais bundões que achavam que podiam tirar sarro dela.
— Idiota — falei para Jason.
— Você mereceu, Jason — Tyson completou. Os panacas saíram dali, não antes de lançar adagas mortais em nossa direção.
— Você arrasa sempre, Rain.
— Aprenda com a mestre.
— Sempre. Comecei a rir. Fui chamada por Samantha naquele momento.
— Deseje-me sorte.
— Quebre a droga da perna — falou e bateu na minha bunda. Bunda quase aparente, já que a saia de pregas não deixava muito para a imaginação. Ainda bem que a calçola de baixo era bem composta. — Não literalmente, okay?
— Okay.
Fizemos a formação exigida para a coreografia intrincada que Samantha e Mandy haviam criado para o jogo. Os WestBears estavam começando a campanha e já teriam o incentivo que precisavam das líderes de torcida. Meu número aéreo era um que eu vinha treinando desde quando Sam havia alertado sobre a necessidade dele. Anastácia, Jollie e Karol faziam uma formação como um colchão propulsor e me arremessavam para cima. Eu tinha que fazer um giro mortal e aterrissar depois de abrir um espacate aéreo. Fácil, fácil, desde que o impulso fosse suficiente e eu confiasse o bastante que as criaturas de Deus continuariam no mesmo lugar para que eu caísse em seus braços e não me estatelasse no chão duro. Ao menos nos treinos estavam saindo okay. Bastava ver se na realidade, com toda aquela tensão nervosa, não iria rolar uma merda geral e o desejo da máxima do teatro, “quebre a perna”, não acabaria se realizando. Quando a música começou, o público foi à loucura. Nossa coreografia estava arrasando. Ou ao menos eu achei aquilo. Qual não foi minha surpresa quando o locutor anunciou que havia dois visitantes ilustres na arquibancada. Meu coração galopou ao ritmo dos passos que eu desempenhava e quase perdi a sequência da coreografia quando ouvi o nome Mike Crawford ser ovacionado. Puta merda. Se eu estivesse na maldita manobra aérea naquele instante, posso garantir que teria acabado de cara no chão e ainda teria levado a formação toda comigo. Mas será possível que o locutor não sabia que não devia tirar a atenção de uma líder de torcida daquela maneira brusca? Ainda mais sob o risco de lesão corporal grave? Um sorriso de orelha a orelha despontou no meu rosto.

                           MIKE
Thomas e eu encontramos Rainbow quase grudada na primeira fileira da arquibancada, com um enorme saco de pipocas e refrigerantes. Becca Linberg estava ao lado, tão gótica quanto eu me lembrava. Eu sabia que ela estava estudando na NYU, então era uma surpresa que estivesse ali. As duas estavam distraídas e nem deram conta da nossa aproximação. Meus olhos estavam procurando pela formação das líderes de torcida. Lá estava ela. Minha garota. Na porra do maldito uniforme sexy que daria a todo adolescente e cara desse estádio uma maldita ereção de merda. A saia de pregas mal cobria sua bunda e a blusa grudada mostrava a curva dos seios, o que não deixava margem para nada, já que a atenção de qualquer cara também ficava mais do que ligada nos metros de pernas torneadas e bronzeadas que ela tinha. Sunny estava com um sorriso enorme no rosto e acenava os pompons, mas não era algo aleatório. Ela fazia aquilo como se realmente estivesse fazendo por um objetivo fabuloso. Thomas agarrou Rainbow por trás, que deu um guincho, assustada, e quase se virou num golpe defensivo de Aikido, se não estivesse com o pacote de pipocas na mão. Quando reconheceu o namorado, encheu o cara de beijos e eu apenas revirei os olhos. Eu queria aquela recepção, mas teria que esperar minha vez. Cumprimentei Rain e Becca e me posicionei ao lado. Qual não foi nossa surpresa ao ter nosso nome anunciado pelo locutor do estádio. Ainda bem que o lugar era pequeno e não um estádio no padrão de Princeton, ou nossa imagem estaria no circuito interno e teríamos aparecido no telão. Merda. Tudo para fazer uma surpresa para minha garota. Eu esperava que ela estivesse absorta em sua coreografia e não tivesse prestado atenção ao que o locutor falou. Eu sabia que, como Thomas e eu havíamos saído da escola escalados para Princeton por olheiros e já dispostos a, quem sabe, uma vaga num futuro na NFL, acabamos ganhando um posto de celebridades na cidade de Westwood e, mais ainda, na escola de onde saímos e pela qual jogamos tanto tempo e chegamos a conquistar tantos títulos. Jogar futebol estava para mim como os pompons estavam para Sunshine. Eu sabia que ela via o lance de cheerleader como algo esportivo e até mesmo como uma porta de entrada e possibilidade de bolsa em universidade. E, porra, minha garota dançava com afinco. Quando ela voou acima do solo, impulsionada pelas líderes abaixo, meu coração quase saltou fora do peito e eu quase saltei o alambrado junto, disposto a ficar embaixo, no caso das loucas não pegarem seu corpo na aterrissagem. Mas elas executaram o passo com maestria. Assim que terminaram, acenaram em direção à plateia e correram para a entrada da arena. O jogo começaria. Storm teria sua entrada agora. Não se passaram nem bem dez minutos e senti um par de braços enlaçando meu pescoço por trás.
— Ei! — ela disse e beijou minha bochecha.
— Ei, boneca. Eu a puxei para a minha frente. Na posição em que ela estava, eu não tinha certeza se estaria mostrando o traseiro para a plateia toda atrás de nós, então preferi salvaguardar e proteger tudo aquilo dos olhos curiosos.
— Venha aqui — falei e a abracei.
— Por que não falou que chegaria a tempo? — perguntou e um sorriso alegre tomou seu rosto.
— Porque queria fazer uma surpresa, mas o locutor estragou meus planos. — Vamos espancar o cara com meus pompons? — brincou.
— Naaan… valeu só por você ter vindo aqui me dar um beijo antes de voltar para a formação.
— Eu vou, mas eu volto — disse e me beijou ardentemente. Okay. Eu não era muito de demonstrações públicas de afeto na frente das pessoas. E sabia que Thomas, Rainbow e Becca estavam ali ao redor. Mas não pude evitar corresponder o entusiasmo da minha garota.
— Ei… abaixe um pouco mais a saia — cochichei em seu ouvido. Ela fingiu um olhar irritado e mostrou a língua. Saiu dali correndo e eu apenas a observei. Dessa vez, o sorriso enorme estava estampado no meu rosto.

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