Capítulo 24

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FORAM DIAS MARAVILHOSOS AQUELES QUE PASSAMOS ACAMPADOS . Pena que acabaram. E muito rápido. Feriados tendiam a fluir como a velocidade da luz. Quando você menos esperava, pluft!, já haviam ido embora. Nosso quarteto fantástico escalou, adentrou a floresta, e nessa parte Rainbow e eu tivemos que rir muito, já que Mike e Thomas quase se perderam e nós duas é que soubemos como voltar ao camping ; nadamos no rio que serpenteava no lugar paradisíaco e contamos histórias, sob as estrelas, ao som dos grilos e assando marshmallows. Nada mais clichê, mas tão empolgante que estaria para sempre em nossas memórias. Claro que registrei alguns momentos, consegui tirar uma ou duas fotos de Mike, dormindo, e ainda pudemos mostrar a supremacia e a superioridade feminina, já que a dupla Walker era imbatível nos jogos de tabuleiro. Os caras não tiveram a menor chance. Dos melhores momentos que ficarão guardados e eternizados na memória, o melhor será o exato instante em que Mike, finalmente, resolveu falar com todas as letras o que sentia por mim, deixando que minha própria boca proferisse a sentença recíproca.
— Sunshine! Venha aqui! — Mike me chamou e entrei na barraca, já preparada para dormir, logo depois de ter me despedido de Rainbow e - Thomas. Nossa partida daquela noite havia sido épica.
— Uau! Que desespero é esse? — brinquei. Mike estava sentado no meio do colchão. Ele retirou um pequeno embrulho do meio de suas tralhas e meus olhos ganharam proporções hilárias. Talvez eu estivesse parecendo um daqueles esquilos do Alvim, com olhos gigantescos.
— O que é isso? — perguntei curiosa. — Sente-se aqui e abra. Fiz o que me mandou. Sentei de pernas cruzadas à frente de Mike, que não hesitou em puxar o zíper da barraca, isolando-nos em nosso próprio mundinho de lona. Quando abri a caixinha, deparei com um colar lindo de platina, e um pingente lindo de coração, com uma pedrinha amarela no meio.
— O amarelo é porque remete ao Sol, que tem tudo a ver com seu nome. O coração é meio óbvio — ele disse e seus olhos azuis estavam brilhantes e cheios de promessas.
— Você me ajuda a colocar? Mike ajeitou o fecho do colar e, quando tudo esteve a contento, passou a mão delicadamente pela trama da corrente e pelo pingente. — Eu te amo, Sunny. Se você ainda não tinha percebido isso, ou eu sou um idiota em demonstrar abertamente, ou você é meio devagar em perceber — brincou. Comecei a rir.
— Bom, você nunca falou abertamente, né? E eu não poderia deduzir algo tão grandioso assim — falei e enlacei seu pescoço. O movimento fez com que caíssemos no colchão, quase nos jogando pra fora, já que o ar adquiria a função de uma mola propulsora. — Eu te amo, Mike. Se você ainda não tinha percebido, ou você é um tapado, ou eu sou meio lesada em deixar bem claro pra você. — Nossa, como você é romântica na sua declaração. Eu fui mais gentil.
— Mas eu fui muito mais engraçada. — Mas eu fui mais original.
— Mas eu te copiei na cara dura e não estou nem aí. Começamos a rir e dali o momento evoluiu para os beijos ardentes, amassos bem dados e sussurros gentis e carinhosos, cheios de promessas de um futuro ardente à frente.
— Te amo.
— Eu também.
— Você também se ama, ou me ama? — perguntou e levou um tapa.
— Te amo, seu bobo.
— Então agora é regra sempre falar um para o outro, quando bem entender, okay?
— Okay. Quanto aos momentos noturnos, tanto minha irmã quanto eu estávamos felizes da vida, mas ainda assim, muito bem, obrigada, permanecíamos no time das garotas puras e virginais, embora Rainbow estivesse quase resvalando para o lado selvagem.
— Sério? Vocês… quase? — perguntei, enquanto enfiava a colher de cereal na boca.
— Sshhhh! Quer que Storm ouça? Tá louca?
— Então fala!
— Não! Foi apenas um lapso momentâneo e um instante de… hummm… calor febril — ela disse e seu rosto adquiriu uma tonalidade preocupante.
— Rainbow?
— Humm?
— Você está prestes a morrer?
— O quê?
— Você está segurando o ar, ou algo assim?
— Não! Por quê? — perguntou assustada.
— Seu rosto está roxo. Ela jogou o pano de prato na minha direção. Comecei a rir.
— Esse tipo de assunto me deixa envergonhada.
— Claro. Eu também ficaria. Mas, enfim… nunca conte isso a ninguém. Eu tenho fama de ser “inconstrangível”… Existe essa palavra? — perguntei sem saber.
— Acho que sim… Storm entrou naquele instante. Com a camiseta erguida, olhando para seu próprio umbigo, sem observar nada à frente. — Achou o que estava procurando? — perguntei a ele. O tapado ergueu a cabeça e me olhou sem entender.
— O quê?
— No umbigo. Você não estava procurando alguma coisa aí dentro? Storm mostrou a língua e Rainbow começou a rir.
— Idiota. Estava admirando as formas dos meus abdominais.
— Ai, meu Deus, Storm. Quando será que você vai crescer? — Rain perguntou e se levantou da mesa.
— Bom, em tamanho, acredito que ainda ganho mais alguns centímetros. Em massa muscular, também estou contando com isso. Era nesse sentido que você queria saber? — zombou.
— Palhaço — retruquei.
— E então? Como passaram sem a minha presença nesse feriado? — perguntou e sentou-se à mesa, com seu prato gigantesco de cereal. Eu e Rainbow nos entreolhamos. Será que deveríamos contar o que tínhamos feito? Pelo meu espírito pirracento, eu queria ver a reação de Storm. O bocó definitivamente não tinha nos levado a sério sobre a ideia do acampamento, ou então tinha esquecido por completo.
— Hummm… passamos bem, obrigada — respondi.
— O que fizeram? — insistiu.
Rainbow se recostou no balcão e ergueu uma sobrancelha em direção a ele.
— Você está preparado para ouvir? — perguntou. Comecei a rir. Ela ia começar a zoação. Storm sentou-se ereto na cadeira.
— O que vocês fizeram?
— Uma festa selvagem, regada a muitas coisas ilegais — respondi e recebi um olhar feroz do meu gêmeo. — Estou falando de verdade. — Fomos acampar com Thomas e Mike — Rainbow respondeu.
— Estou falando de verdade — ele repetiu. Eu e Rainbow nos entreolhamos e começamos a rir. Storm ia pirar mesmo. — Essa é a verdade.
— Digam para mim que, quando vocês dizem “acampar”, vocês estão querendo dizer na verdade que ficaram “acampadas” em casa, assistindo inúmeras temporadas no Netflix — ele argumentou.
— Nope — respondi simplesmente.
— Então me digam que o “acampar” — frisou com as aspas — quer dizer que vocês estavam, de alguma forma, no quintal aqui de casa…
— Hummm… também não — Rainbow retrucou de onde estava. Ela segurava o riso. Storm se levantou em toda a sua altura.
— Vocês estão falando de acampar, acampar?
— Acho que sim, né, Rain? O verbo indica o quê?
— Humm… acampar: estabelecer-se ou instalar-se em um campo ou acampamento, em tenda ou algo semelhante, de forma a usufruir um momento ao léu — ela respondeu, como se estivesse consultando um dicionário mental muito doido. Storm colocou os dedos na ponte do nariz e fechou os olhos.
— Agora me digam que vocês duas ficaram “hospedadas” em uma mesma barraca, enquanto seus respectivos namorados tarados ficaram nas deles…
— Storm estava irritado mesmo.
— Hummm… havia realmente duas barracas — Rainbow disse e chegou perto de Storm. Ele estava meio que adquirindo uma coloração engraçada.
Isso acontecia quando seu temperamento começava a evoluir para o que seu nome anunciava: uma tempestade viria em breve. — Mas veja, eram barracas bem espaçosas, não é, Sunny?
— Siiiim! Muito espaçosas! Acredita que achei que ia me perder dentro da de Mike? — Ops. A cabeça de Storm virou como a da garota maldita do Exorcista . Foi meio assustador. Acho que minha zoada poderia ganhar outro ar de interpretação.
— Você ficou na barraca do Mike?
— Hummm… digamos assim que… cada uma ficou na barraca de seu namorado designado? — insisti num tom mais brando.
— Vocês duas estão me zoando??? — Não, Storm. Minha nossa. O pai vai ter que levar você pra terapia, é sério. — Rainbow agora estava com o braço em volta de Storm, tentando mantê-lo quieto.
— Mano, você entende que já somos adultas, certo?
— Adultas uma ova!
— Storm! Deixa de ser mané! Pelo amor de Deus! Você já está beirando o ridículo, sério!
— Esse assunto me deixa doente. Acho que vou vomitar — falou e seu rosto adquiriu uma tonalidade esverdeada. Foi meio preocupante. Storm saiu da cozinha e deixou o prato de cereal inacabado. Aquilo era raro. Ele nunca fazia aquilo. Seu estômago era um local sagrado.Um templo de adoração, tal quais seus músculos abdominais. Olhei para Rainbow e ela deu de ombros.
— Será que ele vai ficar bem? — perguntei preocupada.
— Acho que sim. Ele vai ter que superar em algum momento da sua existência.
— Você consegue imaginar o dia em que ele descobrir que nós duas estaremos “ativadas”? — questionei. Rainbow ergueu uma sobrancelha de maneira indagativa.
— Ativadas?
— Sim! Porque estamos funcionando em stand by , né? O sistema sexual está operacional, mas não em pleno funcionamento. Você imagina quando a gente apertar a tecla enter ou play ? Storm vai pirar.
— Yeap. Acho que ele vai pirar. E vai querer apertar um delete, backspace ou ctrl+alt+del em tudo quanto é lugar… Explodimos em risadas, aliviando o momento do pequeno interlúdio fraternal na cozinha.

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