Capítulo 40

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EU JÁ ESTAVA FICANDO TONTA COM TODOS OS RODOPIOS QUE MIKE FAZIA COM MEU CORPO. Sério. Estava em vias de vomitar. E não seria nem um pouco bonito ou glamoroso. Afinal, estávamos em pleno baile de formatura, eu ostentava um vestido maravilhoso modelo vintage branco, com uma saia esvoaçante. Os cabelos, eu usei em um coque preso, com um arranjo floral bem descolado, que dava um toque superfofo. Bom, e nos pés? Nos pés eu só não estava com minhas Doctor Martens, porque a Rainbow escondeu. Essa teria sido minha escolha. Eu sei que o mais correto seriam saltos, certo? Para compor um visual chique e tal. Mas vejam bem, no baile de primavera, aquele épico, onde tudo começou, onde minha jornada cheia de coraçõezinhos teve início, eu tive o desprazer de ganhar uma unha encravada, Daí, pensei: por que não usar sapatos confortáveis que me permitiriam dançar à vontade , nos braços do namorado mais fofo e lindo do mundo? E foi o que eu fiz. Como não usei minhas botas de combate descoladérrimas, acabei optando por sapatilhas graciosas que me deixaram com alguns centímentros a menos que meu Mike, mas ainda assim valeu muito a pena, já que ele pôde me carregar para todo o lado.
— Mike! Para! — gritei, entre os risos. — Eu vou passar mal, seu ogro.
— Você não disse que gosta dessa música? E que ela te faz sentir vontade de girar por horas e horas? — Mike perguntou, parando o “carrossel” doido em que nos colocou, e aproveitando para beijar a ponta do meu nariz.
— Sim… pelo amor de Deus, Mike… é forma de dizer. E quando a gente dança sozinha, faxinando a casa, com uma vassoura na mão, um espanador como microfone e sem plateia — falei, rindo.
— Eu penso até mesmo que sou alguma espécie de bailarina doméstica e saio rodopiando pelos cômodos.
— Meu Deus, Sunny. Você não poderia ser mais louca e fofa.
— Eu sei. E, por isso, você me ama, certo? — Enlacei seu pescoço com mais força e meus pés saíram literalmente do chão.
— Amo mesmo.
— Que bom. Mesmo com a música agitada que rolava no ginásio, com as pessoas ao redor, se sacudindo como se fossem pipocas dentro do saco que vai ao micro-ondas, ainda assim, nossos corpos balançavam em um ritmo suave, como se estivéssemos dançando uma melodia lenta e amorosa.
— Você já programou todas as suas coisas? — Mike perguntou ansioso. Sorri e dei-lhe um beijo estalado.
— Sim, Mike. Está tudo pronto para a nossa jornada. Dali a uma semana, já formada no Ensino Médio, com um pequeno intervalo de Mike em vista, eu iria para Princeton com ele, para assistir a alguns de seus últimos jogos de temporada. Claro que Rainbow também estava se incluindo no  comboio, bem como Storm, que havia acabado surpreendendo a todos ao revelar que fizera a inscrição do formulário para Princeton, e,não sendo surpresa nenhuma, também fora chamado para integrar a equipe de futebol americano, com bolsa de estudos integral. Aquilo ali havia deixado meu irmão simplesmente extasiado. Era tudo o que ele queria. Por mais que Storm alegasse querer se ver livre e viver solto pela vida selvagem – sua forma de falar –, nós sabíamos que ele tinha um senso de família muito arraigado para simplesmente decidir aplicar um formulário em uma universidade distante e partir, para só aparecer duas vezes ao ano, e olhe lá. Então, estaríamos muito próximos. Próximos até demais. Eu estava sentindo arrepios de tensão, para falar a verdade. Se Storm já era psicótico comigo e Rainbow em um nível colegial, não queria nem imaginar em um nível mais universitário.
— Não vejo a hora, Sunny — Mike disse e apertou o abraço.
— Eu também não.
Recostei a cabeça em seu ombro e deixei que ele me embalasse naquela balada nada romântica de Dua Lipa . A letra não tinha absolutamente nada a ver, mas nem estávamos ligando para o que nos rodeava. Não faço ideia de quanto tempo ficamos curtindo aquele pequeno momento, como se estivéssemos em uma bolha. Somente em um determinado momento, quando começou uma canção de Taylor Swift foi que acabei me desvencilhando dos braços de Mike, sendo arrastada por Tayllie e Jamylle para o meio do salão abarrotado. Eu olhava o tempo todo pra trás, tentando ver onde ele havia ficado, e acabei detectando que Storm lhe fazia companhia, então desencanei e fui dançar com minhas amigas. Seria o momento de despedida daquela etapa da minha vida. O acordar e ir para a escola, cumprir os horários despreocupadamente, de maneira leve e sem grandes pretensões, a não ser manter a média e passar de ano. Bom, eu era assim. Rainbow fora o tipo de aluna que fizera questão de superar os reles mortais estudantis, então suas notas não podiam se comparar. Tudo bem, eu não era uma péssima aluna assim… tinha que manter meu gradiente estudantil elevado, já que tentei a bolsa de estudos e yaaaay! Consegui entrar através dela e do desempenho exemplar como cheerleader , tanto que minha bolsa parcial era exatamente pela aceitação na equipe da universidade. E qual universidade eu tinha entrado? Princeton! Bom, algumas pessoas dirão que entrei por conta de Mike. Essas pessoas estão muito erroneamente… corretas! Quer dizer, eu entrei na universidade, porque queria fazer um curso maravilhoso de Psicologia, então qual ideia melhor do que entrar em um lugar que te permitiria isso? Não é mesmo? E que maneiro que essa mesma instituição mantém um time de futebol americano, com uma puta equipe de líderes de torcida, que fornece bolsa de estudos, desde parcial até integral! Como entrei para formalizar por meio de testes através do início do semestre, minha bolsa era parcial, mas poderia migrar para integral, desde que eu conquistasse o posto. Lá estava um objetivo claro à frente: passar nas seletivas das líderes de torcida de Princeton. E eu passaria, ou não me chamava Sunshine Walker. Okay… Mike fora um grande incentivo para que eu escolhesse essa universidade específica, e talvez, quando as pessoas estivessem envolvidas romanticamente com outras, somente assim poderiam falar alguma coisa. Então, até que se prove o contrário, ninguém poderia me julgar, certo? Deixei que o suor escorresse pelo meu rosto, varrendo todas as minhas preocupações. Eu não iria me ligar no que as pessoas poderiam pensar ou deixar de pensar sobre mim. Minha decisão era viver minha vida plenamente, cada dia de cada vez, porém intensamente. E era exatamente aquilo que eu faria.
— Vamos sentir tanto a sua falta como companheira de dança, Sunny! — Tay disse ao me abraçar. Eca! Estávamos grudentas, mas o que valia era o momento de empolgação, certo? — Eu também vou sentir falta de vocês, garotas — falei e dancei com os braços entrelaçados. — Mas não vamos perder contato, certo? Cada uma vai seguir seus rumos estudantis, mas vamos continuar nossa amizade, não é? Eu esperava que sim. As coisas tendiam a mudar depois que mudávamos uma etapa da vida,mas eu esperava que conservasse aquela parte importante da minha existência juvenil.
— Okay, seu namorado está nos olhando com cara de poucos amigos. Acho que roubamos você por muito tempo — Tayllie brincou. — E vou voltar para os braços engordurados de Bryce, que teve a ousadia de quase dar um arroto no meu cabelo!
— Ecaaaa! Que nojo! Esses caras perderam a noção? — Gargalhei alto. — Não são todas que têm a sorte que você tem, sua vadia — Jamylle respondeu e bateu na minha bunda, empurrando-me em direção ao amor da minha vida. — Vá. Eu vou voltar para o Andrew, pelo menos ele pegou
um copo de ponche pra mim, não arrotou no meu cabelo, e ainda tem um monte de pastilhas de hortelã dentro do bolso, o que significa que vai beijar bem e com gosto bom. — Bateu a mão num high five com Tayllie e eu acenei, andando de costas.
Provavelmente não veria minhas amigas tão cedo. Mas as veria novamente, com certeza. Antes de me virar de frente, senti os braços de Mike ao meu redor.
— Quer ir embora? Ou quer dançar mais um pouco? — perguntou baixinho.
— Vamos embora — respondi e deitei a cabeça em seu ombro. Contemplei por um momento final todo o ginásio, os balões dourados e prateados, as faixas de congratulações pela formatura.
— Não vai esperar pela escolha da Rainha do Baile? — questionou e afundou o rosto no vão do meu pescoço.
— Não. E pouco me importaria, já que o único rei que eu gostaria de ter ao meu lado é você. Meus olhos percorreram todo o lugar. Despedi-me ao meu modo. Daqueles que foram meus professores, meus amigos, meus colegas, foram motivos de risos, intrigas, fofocas. Tantos momentos que ficariam marcados naquele tempo em que estive ali, em Westwood. A escola onde permaneci por maior tempo, por conta das escolhas dos meus pais. Mesmo que em cada lugar em que estudei eu tivesse feito amizades, por ter facilidade em me conectar com as pessoas, ali seria o lugar onde meu coração sempre permaneceria com as lembranças mais doces e também as mais ásperas.Mas o crescimento necessário que toda garota precisa, aquele que a torna o projeto de mulher que será no futuro… bom, posso dizer que os corredores daquele colégio foram excelentes auxiliadores nesse processo. Eu iria para uma nova fase da minha vida, a fase adulta, com o coração ainda completamente de Sunshine, da mesma forma com a qual fui criada e pela qual fui conhecida, mas sabia que um futuro brilhante me esperava e um amadurecimento podia ser vislumbrado à minha frente. E quão lindo era isso? Saber que nossa vida é cheia de momentos fantásticos que vão pavimentando a estrada para o futuro. Alguns trechos podem até estar acidentados, mal alinhados, ter falhas, mas eles sempre te conduzirão adiante.Saí dali de mãos dadas com meu Mike Crawford. O cara que não desistiu da Sunshine até mesmo infantil e brincalhona, e ajudou a pavimentar o caminho para a Sunshine semiadulta e… brincalhona. Porque aquela faceta sempre me pertenceria. Sempre. Quando alcançamos o estacionamento, Mike me pegou no colo e girou meu corpo, arrancando risos espontâneos. Estava na hora de trilhar novos pavimentos…

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