AQUELE DIA ESTAVA SENDO UMA MERDA TRIPLA .NÃO . QUÍNTUPLA . Meu tornozelo estava doendo, o treino do dia anterior tinha sido uma porcaria, as provas finais do trimestre estavam se aproximando, e mais tarde teria jogo, logo, eu teria que estar apta a desempenhar minhas funções de animadora de torcida, mesmo que não estivesse nem um pouco a fim de torcer por ninguém. Ou animar ninguém.
— Sunny, festa na casa da Mandy, hoje à noite — Tay falou, com a boca cheia. — O treinador ia fazer na casa dele, mas parece que um cano estourou. Daí, o pai da Mandy liberou toda aquela imensa área da piscina. Uau. Mandy morava numa puta mansão no subúrbio. Então só poderíamos imaginar que a festa seria épica.
— Nossa, eu estava muito a fim de ir pra casa, sério. Depois do jogo.
— Ah, não, Sunny! Você não pode deixar de ir! Por favorzinho! — insistiu.
— Eu estou supercansada, Tay. E essa semana foi punk, com as provas e tudo mais.
— Naaan… você está é chateada porque está meio estremecida com Mike,daí perdeu o pique.
Bom, ela estava meio que com a razão. Nem eu sabia dizer por que estávamos assim. Quer dizer, eu sabia. Ciúmes. Besta. Tanto meu, quanto dele. Eu estava enciumada de uma turma com a qual ele andava, e ele andava enciumado com meus treinos e práticas de cheerleader. Coincidência que a turma da qual eu falava era da mesma estirpe que a minha. As líderes de torcida de Princeton eram implacáveis.Para piorar, a temporada de jogos de Mike e Thomas tinha ampliado e quase não estávamos nos vendo. Daí, estava um saco. Já fazia mais de duas semanas desde a última vez que tínhamos nos visto. Nem bem havíamos começado a viver aquela coisa intensa que os casais que acabam de descobrir as fagulhas do amor vivem e baaam! Temporada de jogos. Éramos um casal cibernético.
— Pode ser.
— Ah, Sunny… por favor.
— Okay, Tay. Só um pouco, mas vou embora logo.As aulas se encerraram, fui pra casa e me arrumei para o jogo, às cinco horas. Coloquei a muda de roupas para depois e deixei um recado com a mãe. Nem Rainbow ou Storm estavam em casa. O jogo foi o de sempre. WestBears venceu apertado, mas ganhou do time adversário, tivemos que lidar com as gracinhas idiotas dos jogadores pentelhos do outro time, Storm quase se envolveu em uma briga por conta disso, e Tay e eu fomos tomar o banho merecido logo depois, nos vestiários. Estávamos equipadas para a festa na casa de Mandy Custers. Embora eu não estivesse a fim de ir. Olhei meu celular e vi que Mike não havia me deixado nem uma mensagem sequer. Droga. Estava me sentindo o pior tipo de namorada. A do tipo carente. Eca. — Vamos! — Jamylle gritou do carro, do lado de fora do estádio. Quando chegamos à mansão pulsante, e putz… eu digo pulsante porque a música estava bombando lá, cara... A casa parecia que ia explodir do tanto de gente e pelo volume da música que espocava do som. Entramos e já fomos nos enturmando com a galera.Eu preferi buscar meu próprio copo de refrigerante na cozinha, para evitar correr riscos desnecessários. Não passaram nem bem quarenta minutos quando vi Maxwell subindo as escadas com uma garota, amparada em seus braços. Um sinal de alerta soou imediatamente no meu cérebro e larguei o copo que estava bebericando, resolvendo seguir o casal. Qual não foi minha surpresa quando reconheci os cabelos loiros de Clarice Crawford, a irmã de Mike! Minha nossa! Eu tinha que correr e agir o mais rápido possível, antes que algo de pior acontecesse. Desviei das pessoas que estavam se amontoando à minha frente, sempre erguendo a cabeça, para não perdê-los de vista. Quando atingiram o topo da escada, viraram num corredor. Subi os degraus quase aos tropeções. Uma mão agarrou meu pulso.
— Ei, ei! Onde você vai, gatinha? — o mané perguntou.
— Me larga! — gritei e tentei chutar sua canela.
— Calma, tigresa, vem aqui brincar comigo…
— Já disse pra você me soltar! Com muito custo, consegui soltar o agarre do desconhecido e subi o restante, mas perdi a pista e eram muitos quartos naquela mansão monstruosa. Merda! Merda! Só pensei em Storm no momento. Eu precisava do meu irmão. Cacei meu celular e tentei ver se conseguia fazer uma chamada rápida. Enquanto isso, eu ia abrindo todas as portas que encontrava pela frente. Até que achei uma que estava nitidamente trancada. Droga, a possibilidade de ser aquela onde Clarice estava era muito grande. Eu não sabia o que fazer. Bati à porta, tentando chamar a atenção de quem estivesse dentro. O som estava muito alto, seria impossível alguém no piso inferior ouvir um grito de socorro.
— Storm! Onde você está? — perguntei frenética.
— Lanchando, por quê?
— Onde?
— Em casa. Que zoada é essa? — Estou na festa pós-jogo na casa da Mandy, você não vem? Continuei batendo a mão com força na porta.
— Não sei, Sunny. Por quê?
— Storm…
Qual não foi minha surpresa quando a porta se abriu e Max apareceu, descabelado, com a roupa meio desgrenhada. Mantive o agarre firme no celular, escondendo-o atrás do corpo.
— Ora, ora… o que temos aqui? Se não é a gracinha atrevida que tem me ferrado desde sempre… — ele falou com a voz engrolada. Puta merda. O idiota estava chapado. — Exatamente a garota que eu queria, desde sempre. Dei um jeito de tentar espiar o interior do quarto, para ter uma visão e descobrir onde Clarice estava. — O que você está fazendo aqui em cima? — perguntei.
— E isso é da sua conta desde quando? — retrucou com grosseria. — Onde está a Clarice? — Clarice? Quem é Clarice? — perguntou, se fazendo de desentendido.
— Eu sei muito bem que você subiu com ela, Max. Onde ela está? Você drogou a bebida dela também? — perguntei nervosa. Meu Deus, eu esperava que Storm não tivesse desligado a ligação. Que continuasse sendo o mesmo curioso de sempre e tivesse continuado na linha. Que seu instinto de CSI NY tivesse aflorado e que ele fosse em meu socorro. Porque eu me engalfinharia com Max, mas não sairia dali sem a irmã de Mike. Maxwell pegou meu pulso e me puxou com toda a violência pra dentro do quarto, fechando a porta com uma pezada.
— Que porra, garota! Qual é a sua? Está me zoando, agora? — perguntou
furioso. Sua mão deixaria marcas no meu braço. Olhei ao redor e vi Clarice desmaiada no sofá. Suas roupas estavam remexidas.
— Me diga que você não a estuprou, seu merda! — gritei e não esperava a bofetada que levaria. Ui. Aquela merda doía, gente. Max me imprensou na porta, com o corpo muito mais avantajado que o meu. Senti um medo atroz percorrer minhas entranhas.
— Garota enxerida… acho bom você manter essa sua boca bem fechada, entendeu? E, se não quiser se juntar ao momento, é melhor dar o fora daqui — falou, quase cuspindo na minha cara. Eu estava com uma vontade enorme de coçar o local no meu rosto, onde o tapa que ele me deu ainda ardia, mas não daria o braço a torcer.
— Eu não vou sair daqui sem a Clarice — falei, tentando mostrar uma coragem que não sentia. Na verdade, eu estava disfarçando um medo mostruoso.
— Ela não é da sua conta — sibilou o idiota.
— Ela é da minha conta, sim!
— Quer trocar de lugar com ela, Sunny? Então tudo bem! Porque ela nem estava cooperativa mesmo! — ele disse e me arrastou para o meio da sala enorme. Agora que eu notava que era uma espécie de sala de TV, com vários sofás. Lutei com todas as minhas forças, arrastei meus pés para trás, tentei arranhar seu outro braço e levei mais um tapa.
— Para. De. Me. Arranhar. Sua vadia! — gritou.
— Me solta, Max!
— Foi a minha vez de gritar a plenos pulmões. Ele me jogou sem nenhum cuidado em um dos sofás e seu corpo caiu em cima do meu. Perdi o fôlego por alguns segundos e mordi a língua no processo. Maxwell agarrou um punhado dos meus cabelos.
— Sempre tão arredia. Tão atrevida e cheia de gracinhas, se fazendo de gostosa e depois se fazendo de difícil. Só para tentar os caras, não é?Conheço seu tipo. Uma vagabunda bem-criada — disse e arrastou a língua pelo meu pescoço. Eeeeeca! Que nojo. O cara fez um movimento pior que uma naja. Até a naja seria mais elegante. Tentei erguer um dos meus joelhos, mas aquilo fez com que ele se instalasse no meio das minhas pernas. Ainda bem que eu estava vestida de calça jeans. Tinha desistido do vestido. Eu me contorci como se estivesse com convulsão por baixo do seu corpo, e percebi, tardiamente, que aquilo fazia era com que ele se excitasse mais.
— Você é gostosa pra caralho, Sunshine. E eu vou foder você agora. E quero ver se aquele idiota do Mike Crawford vai gostar de saber que fodi a namoradinha e a irmãzinha na mesma noite… Gelei. Oh, céus. Será que cheguei tarde? Será que ele tinha estuprado a Clarice? Eu já estava quase chorando, ainda mais porque Max havia colocado uma mão na minha boca, impedindo-me de gritar, enquanto a outra rasgava um pedaço da minha blusa, quando a porta do quarto foi aberta de uma só vez.
— Sai de cima da minha irmã, seu filho da puta!!! — Storm chegou como uma tempestade. Arrancou o idiota de cima de mim e jogou para outra pessoa. Que… puta merda… fui perceber,naquele momento louco, não era ninguém mais, ninguém menos que Mike Crawford, que estava descendo uma boa surra em Max agora. Storm tentou me levantar e Tayllie entrou no quarto, correndo para o meu lado. Ela puxou os retalhos da minha blusa, para cobrir a minha nudez parcial. Droga… eu amava aquela blusa. Ui… eu achava que estava entrando em choque, porque estava pensando num detalhe besta como aquele.
— Vá… vá olhar a Clarice, Storm… por favor… — falei baixinho. Rainbow e Thomas entraram correndo e Rain veio em minha direção.
— Minha nossa, Sunny! O que aconteceu? — perguntou apavorada. — Cara, eu juro que vou proibir você de comparecer a estas festas pós-jogo. — Nos formaremos em breve. As festas vão acabar de todo jeito.Meus olhos varreram a sala, e depararam com Thomas tentando arrancar Mike de cima de Max, que estava desfalecido no chão. Outros alunos entraram, bem como a dona da casa, Mandy.
— Caralho! O que aconteceu aqui? — perguntou para ninguém em especial. — Maxwell batizou a bebida de Clarice Crawford e estava quase a estuprando — respondi. Eu torcia para que realmente fosse “quase” e que ele não tivesse conseguido seu intento. Mike ergueu a cabeça e seus olhos se conectaram com os meus. Por mais incrível que pudesse parecer, a mensagem que li ali foi uma que não esperava. Ele simplesmente pegou sua irmã no colo e saiu, deixando-me com a boca aberta, em choque.

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Sunshine
Teen FictionEntre as irmãs Walker, Sunshine sempre foi conhecida como a mais descolada e de personalidade expansiva. Sempre se sentindo à sombra da irmã mais velha, Rainbow, tão certinha e centrada, Sunny fazia questão de manter uma imagem de que na verdade não...