Capítulo 27

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E STAVA TOMANDO O ADORÁVEL LANCHE HOSPITALAR , HORROROSO , para falar a verdade, quando Storm entrou como um tufão no quarto.
— Quer dizer que a belezura aí nos passou um susto de morte? E nós aqui pensando que estava com sinusite, faringite, laringite, amidalite — parou naquele momento e coçou a cabeça —, amidalite não, porque você tirou as amídalas, né?Onde eu estava? Tá… frescurite… quando, na verdade, era uma… pielonefrite? Que diabos é uma pielonefrite?
— Uma infecção dos rins, seu burro — respondi, sugando o canudinho e fazendo o barulho, só pra irritá-lo.
— E você também sabia o que era uma pielonefrite antes do médico te falar? — Rainbow perguntou, com a sobrancelha arqueada. Olhei para a nossa irmã mais velha e de volta para o Storm.
— Claro que não. Mas não poderia perder a oportunidade de chamar o Storm de burro assim, na lata. Começamos a rir e Storm fez cara feia.
— Então, mana… seus feijões invertidos estão podres? Que diabos era aquilo?
— Feijões invertidos? Tá doidão, Storm?
— Afff… foi assim que decorei a forma anatômica dos rins, toupeira. Feijões invertidos. Eu sempre categorizei os órgãos de uma maneira
singular — disse rindo.
— Storm, você é tão fofo! — Rainbow exclamou e abraçou nosso irmão.
— Credo, que tanto de amor é esse? — reclamou, mas, mesmo assim, aninhou-se no abraço que recebia.
— Estou apenas te dando carinho. Agora, seja um garoto bonzinho e fique com sua gêmea, até o Mike voltar de casa. Ele me fez jurar que não sairia do lado dela em hipótese alguma. Revirei os olhos, porque eu sabia que a infeliz ia explicar a razão para o Storm.
— Nossa… e por que toda essa tensão? Ele está com medo da garota ser sequestrada? Rolar uma troca no leito? Ele sabe que isso acontece só com bebês, certo?
— Ele está de olho no médico bonitão que está todo cheio de cuidados intensivos pra cima da Sunny — Rainbow respondeu, rindo. Idiota.
— Minha nossa… até aqui essa assanhada lançou as teias sedutoras dela? Sunshine! Andou piscando essas pestanas para o médico, mulher? Tenha respeito! — Storm zombou. Tive que rir. Storm era um bestão.
— Cala a boca, idiota.
— É sério, criatura, para com isso. Tá feio, já. Mas me diga… ao menos as enfermeiras são gostosas? Eu e Rainbow começamos a rir.
— Sério! Se vou ficar aqui, pelo menos essa fantasia eu tinha que realizar, né? Que saco!
— Veja por si mesmo — respondi. Naquele momento, uma enfermeira loira, de uns 25 anos, entrou no quarto, guiando o carrinho de medicamentos.
— Por favor, me internem. Estou passando muito mal — Storm disse, antes de se sentar na poltrona. Pelo olhar vidrado que ele dava para a moça, eu achava que ele poderia ter uma convulsão a qualquer instante. Rainbow deu-lhe um tapa na cabeça antes de mandar um beijinho pra mim e sair do quarto. Eu apenas suspirei. Teria que aguentar o palhaço do meu irmão depois,falando que estava apaixonado pela enfermeira, Christina, pelo resto do dia, ou até que Mike me salvasse.

                             MIKE

Depois que resolvi as pendências que meu pai pediu para resolver em casa, despedi-me de vovó e voei de volta ao hospital. Ainda tive o pensamento de passar na escola de Sunshine e conferir se eles estavam devidamente informados sobre suas condições de saúde, mas, pensando na irmã de quem era, acho que aquilo já devia estar encaminhado. Entrei no hospital e percorri os corredores às pressas, tentando manter os bombons que comprei escondidos das enfermeiras. Eu sabia que muitas vezes certos alimentos eram vetados, mas pesquisei na Internet e não vi nenhuma referência óbvia quanto à proibição de chocolate, que Sunshine tanto amava. Cumprimentei a enfermeira-chefe do setor, que era amiga dos jogos de gamão com minha avó, e entrei no quarto de Sunny. Storm estava olhando, vidrado, para a enfermeira que cuidava de sua irmã gêmea. Passei o olho rapidamente e voltei meu olhar para ele.
— E aí, Storm? Tudo tranquilo? — perguntei. Se dependesse da atenção que ele estava dando à área da cama hospitalar, eu poderia ficar sossegado. Segurei o riso. Sunshine revirou os olhos e sinalizou com o dedo, fazendo o gesto universal que mostrava que o irmão era louco.
— Estou ótimo. Não, espera. Estou mal. Muito mal. Acho que preciso de um médico — ele disse, colocando a mão no peito. Aquilo atraiu a voz da enfermeira.
— O senhor quer que chame o médico plantonista? — perguntou solícita.
— Não, não… acho que uma enfermeira pode ser o suficiente — Storm disse e fingiu desabar na cadeira. Somente depois de um tempo foi que a referida enfermeira percebeu que aquela havia sido uma cantada, ou uma tentativa chula de cantada de Storm. A moça riu e saiu do quarto, com o rosto vermelho.
— Meu Deus… estou tendo um ataque cardíaco — Storm disse.
— Deixa de ser ridículo, Torm. Parece que nunca viu uma mulher bonita na vida, e outra, não fique assediando a moça, ela pode se distrair e colocar uma medicação errada nas minhas veias — Sunshine falou, rindo. — Daí, você quer levar a culpa pela morte da sua gêmea?
— Vocês dois só falam besteira? — Entrei na brincadeira, mas tentando mudar o assunto, porque aquele papo de morte, mesmo que acidental ou de zoação, não era uma coisa que eu queria ouvir.
— Você não viu aquilo, Mike? Pelo amor de Deus! — Storm perguntou.
— Não reparou?
— Não reparei em quê? — Cheguei até a lateral da cama de Sunny e lhe entreguei o chocolate infiltrado. Ela deitou a cabeça no meu ombro em agradecimento.
— Na enfermeira gostosa, oras! Putz… pior que eu nem sequer havia reparado mesmo. — Não, Storm, não reparei.
— Cara, você perdeu o juízo? — Storm questionou com a sobrancelha quase colada ao couro cabeludo. — Por quê?
— Quem ignora uma sósia jovem da Charlize Theron, mano?
— Bom, eu nem reparei que a mulher poderia ser parecida com ela, porque
nem sequer olhei para a moça, Storm. E, a bem da verdade, eu nem acho a Charlize Theron tão gata assim. Eu gosto de morenas — falei e dei um beijo na testa de Sunshine.
— Eca. Desse jeito vocês vão me fazer vomitar. Se eu vomitar, será muito vexaminoso ter aquela enfermeira gostosa entrando aqui e dando de cara com o que comi no café da manhã, então parem… por favor. — Storm se levantou. — Você está doente. Thomas está doente. Eu vou sair de perto de vocês, porque não quero essa doença contagiosa do amor superfofo que vocês estão propagando aí. Eca! E pra piorar! Com as minhas irmãs! É uma imagem mental muito fodida! Sunshine começou a rir e escondeu a cabeça no vão do meu pescoço.
— Storm, você tem problemas — falei.
— Já dissemos isso a ele. Eu e Rainbow estamos preocupadas e vamos buscar ajuda — Sunny disse, ainda rindo.
— Sério, cara. Você vai ver na hora que um intruso filho da puta for se achegando à sua irmã — Storm disse, em tom de profecia. Bom, aquilo me trouxe um arrepio de desgosto. Eu podia entender o sentimento que ele tinha, já que projetei para quando acontecesse com Clarice. Mas, enfim… ele teria que se acostumar à minha presença na vida de sua irmã gêmea. Eu estava ali pra ficar.

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