Capítulo 11

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O DIA SEGUINTE À MERDA ÉPICA QUE COMETI FOI MARCANTE . Não porque tive uma ressaca monstruosa, mas porque tive que aguentar a bronca da equipe Walker. E quando digo equipe Walker, tirem da equação meus pais, que não estavam muito preocupados com minha primeira experiência com alguma substância entorpecente. Pra dizer a verdade, eles estavam curiosos para saber como me senti.
- Você chegou a ter algum momento extracorpóreo? - mamãe perguntou, enquanto batia a vitamina de couve para o pai.
- Mama... por favor - falei e abaixei a cabeça.
- Você sentiu se poderia fazer contato com alienígenas? - papai zombou. - Uma vez usei um ácido que me fez ter quase certeza que estava numa nave espacial. Foi muito doido e surreal. Argh. Ninguém merecia aquilo. Juro. Num sábado de manhã, depois de uma atitude impensada e com pouca memória no meu HD, ter que aguentar o papo viajante dos dois era meio que over demais pra mim. Storm entrou em toda a sua glória desnuda na cozinha. - Yaaay... vejam se aqui não está nossa estreante do show "Boa noite, Sunshine".
- O nome do bagulho é "Boa noite, Cinderela", Storm - Rainbow disse, assim que entrou na cozinha, com os braços cheios de roupas sujas. - Nunca ouviu falar? E o cumprimento usual para nossa irmãzinha é: bom dia, Sunshine...
- Ah, você sempre tem que interferir nas minhas tiradas épicas, Rainbow. Que saco. Tira todo o clima e a emoção do momento - ele resmungou. Fechei os olhos, porque sabia que viria zoada dali para o resto do dia. Storm estava no fogão, com sua tão amada frigideira e o cheiro aguçou meus sentidos. Percebi que estava sem comer há um tempo. - Sunny, Sunny... usando drogas? Ilícitas? Em festas de estranhos? - Storm atiçou. Respirei fundo.
- Não usei drogas ilícitas. E a festa não era de alguém estranho - resmunguei.
- Vamos clarear as ideias drogadas desse cérebro congestionado, Storm - Rain falou. Meus pais somente acompanhavam a interação como se fosse um jogo de tênis em Roland Garros.
- Claro. Comece daí. Eu completo daqui.
- Você foi a uma festa na casa de Samantha Parker, certo? - Rain perguntou.
- Sim.
- Vocês são amigas íntimas?
- Bem, não... não íntimas.
- Você já tinha ido a alguma festa na casa dela? - Storm perguntou.
- Storm... eu sou a tira boa, você é o tira mau. Quando for sua vez, você fala - Rainbow corrigiu.
- Você já havia ido lá, em algum momento dessa sua amizade "não íntima"?
- Não.
- Ótimo. Festa de estranhos.
- Não eram estranhos. Era o pessoal da escola.
- Semântica, Sunshine. Cala a boca e presta atenção - Rainbow disse. Soprei a franja que caía nos meus olhos e bufei. Bufei mesmo.
- Você aceitou uma bebida desconhecida - ela afirmou.
- Sim, mas de uma amiga.
- Vamos fazer uma investigação depois com Tayllie, acarear os fatos - Storm disse.
- Vou dar uma prensa bem dada nela. Eca. Quando Storm disse aquilo, saiu com uma conotação muito pejorativa e de cunho sexual.
- Bebida desconhecida. Você sentia que havia algo ilícito no ar - Rainbow disse. - Você podia sentir nas suas entranhas. Tenho certeza. Se bem a conheço, e você faz isso desde criança, você deve ter cheirado o copo... Opa. Ela me conhecia mesmo. Eu tinha o estranho hábito de cheirar a comida ou bebida que ia levar à boca.
- Eu senti que não era apenas Coca-Cola. - E Tayllie admitiu que era algo fora da sua alçada... - Rain instigou. - Sim.
- E mesmo assim você bebeu...
- Sim. Que merda. Eu estava me sentindo na Santa Inquisição. Eu tinha medo de ser associada a uma bruxa e meus irmãos levarem a coisa da dramatização a sério e quererem me queimar em alguma fogueira de merda.
- Conscientemente você usou drogas. Que feio - Storm disse e sentou à mesa com a frigideira inteira. Porque ele era econômico desse jeito e muito educado. Em vez de pegar um prato, como um ser humano normal, ele tinha que comer direto da frigideira. - Caracas, Storm, quantos ovos você fez? - Rainbow perguntou, olhando com curiosidade a panela. - Vinte? - Nannn... só seis. Acabei com o estoque - disse com a boca cheia. - Desculpa, mãe. Falei com a boca cheia. E ainda acabei com os ovos.
- Okay. Eu e seu pai vamos à feira agrícola para adquirir mais. Acho que devíamos criar umas galinhas por aqui, que tal, Herb? - a mãe perguntou.
- Boa ideia, meu bem. Do jeito que Storm consome, será uma economia muito interessante - papai disse. Os dois se levantaram e minha mãe me deu um beijo na cabeça.
- Espera, pra que comprar galinhas se temos duas aqui? - Storm perguntou e riu sozinho da piada ridícula. Eu e Rainbow cuspimos o suco que estávamos tomando na hora.
- STORM! - Rainbow gritou e seu rosto estava vermelho. Ela estava puta. Eu conhecia meu gêmeo. Ele gostava de levar a zoeira ao máximo. Até o ponto de merecer um tapa bem dado na cabeça, como o que levou do pai.
- Storm, isso não é jeito de falar com as suas irmãs - o pai ralhou. - Ai, pai. Foi só uma brincadeira de cunho totalmente inocente, relacionado ao comportamento atual dessas duas aí - ele disse. Dessa vez eu gritei:
- THUNDER STORM! Minha mãe começou a rir. Ela adorava essas interações. Eu juro que às vezes eu achava que ela e o pai eram os adolescentes da casa.
- Você vai ficar bem? - ela me perguntou.
- Sim, mama. Não estou com dor de cabeça. - Não estou falando dos efeitos alucinógenos, meu amor. Estou perguntando se você vai ficar bem com seus irmãos te enchendo o saco... - ela disse e riu. Não obstante rir, saiu... foi embora com o pai. E me deixou ali. À mercê de Rainbow e Storm. Olhei para os dois e me surpreendi com a visão. Rainbow estava com um garfo, beliscando a comida de Storm. Aparentemente a irritação dela com a piada infame de Storm já tinha evaporado como o vapor que fica no boxe de vidro do chuveiro. Resolvi que, já que precisaria enfrentar toda a sabatina, também poderia participar daquele momento gourmet em conjunto. Peguei um garfo e me sentei no outro lado de Storm. Recebi uma olhada maligna,mas ignorei. Enfiei meu garfo na gororoba que meu irmão fez e comecei a comer.
- Que palhaçada é essa? - perguntou com a boca cheia.
- Desde quando dei essa ousadia toda pra vocês duas? Ignoramos como se ele não tivesse falado nada. - Ei! Eu preciso de proteína. Vocês estão consumindo boa parte do que programei para a dieta do dia.
- Cala a boca, Storm - Rainbow disse. - Vamos comer desse ovo mexido muito gostoso que você fez e, digo mais, a partir de hoje, você está escalado, oficialmente, como o cara dos ovos mexidos. Storm parou o garfo que seguia rumo à sua boca.
- Mana, essa expressão de "o cara dos ovos mexidos" pega muito mal, porra. Quase cuspimos, simultaneamente, a garfada que havíamos acabado de enfiar na boca. Somente depois que limpamos a frigideira foi que ajeitamos a cozinha e tive que encarar os dois idiotas de novo.
- Certo. Agora que você já aprendeu que não deve beber nada daqueles copos vermelhos infames, vamos ao que interessa - Storm falou.
- O que você fez no verão passado? - Esse não é um título de um filme? - perguntei.
- É. E sempre quis dizer numa frase.
- Storm, deixa de ser burro. O efeito só fica legal quando você afirma, não quando você questiona - Rainbow disse, revirando os olhos.
- Algo como, okay, Sunshine... eu sei o que você fez no verão passado. - Aaah... entendi - Storm disse rindo. - E pior é que sei mesmo!
- Cala a boca, Storm! Comecei a rir. Mesmo sendo um idiota, meu gêmeo ainda conseguia aliviar o clima que sombreava meu dia.
- Mike te pegou na festa? - Rainbow perguntou.
- No bom sentido ou no mau sentido? - brinquei.
- O quê? Como assim mau sentido? - Storm perguntou atento. Eu e Rainbow começamos a rir.
- Nada, Storm. - Nada? Essa frase teve um triplo sentido muito escroto - ele disse. - E eu não curti. E não compartilhei também.
- Você está fazendo piadinha com citação de Facebook? - Rainbow perguntou rindo.
- Tipo isso.
- Você é muito mané.
- Eu sei. Mas isso não vem ao caso agora. O que vem ao caso agora é o fato de que nossa irmã mais nova, esta flor de candura e pureza, que espero que ainda esteja intacta, saiu drogada de uma festa e sabe-se Deus lá o que aconteceu. Há imagens de circuito interno que nos mostrem o momento de sua saída da festa? Há imagens que nos indiquem que ela não foi violada? - Storm perguntou.
Levamos a sério essa sua interpretação de CSI NY , okay? Não estamos na Unidade de Crimes Sexuais aqui, estamos apenas batendo um papo com nossa irmã.
- Caçula.
- Sua gêmea - Rainbow corrigiu.
- Caçula - Storm repetiu com teimosia. Revirei os olhos e quase arremessei algo na cabeça dele.
- Por alguns minutos.
- Não tô nem aí. Taquei um foda-se para os poucos minutos que você alega. Você é a caçula.
- Ah, Storm. Vá à merda. - Irei quando sentir vontade.
- Minha nossa... Como nossos papos desandam assim, nessa velocidade? - Rainbow perguntou e a batida à porta, seguida do ruído dela sendo aberta, nos chamou a atenção. Thomas entrou, seguido de Mike.
- Arrá! Veja aí! Um dos que precisam entrar na sala de interrogatório. - Storm apontou o dedo para Mike. Ele me olhou sem entender.
- Storm e Rain estão brincando de tira bom e tira mau - esclareci.
- Uau, Rain. Quero ver essa sua performance - Thomas disse.
- Por favor, me diga que você pegou o papel de tira má!
- Claro que não! - ela exclamou rindo. Thomas a agarrou naquele momento e Storm revirou os olhos. Ainda fez um som de vômito evidente.
- É muito amor para um ambiente confinado. Vou agendar o interrogatório do Mike para depois - ele disse e saiu. - Embora tenha que admitir que estava gostando muito da minha atuação como policial... Será que o pai iria se irritar muito se eu entrasse para a Academia de Polícia em vez de ir para a faculdade? - divagou sozinho, enquanto saía da cozinha. Ficamos somente nós quatro ali.
- Sunny, soube que teve uma aventura na noite passada - Thomas disse, abraçado à minha irmã e com um sorriso idiota no rosto.
- Pode-se dizer que sim.
- Vamos, Thomas. Nós temos que... - Rainbow tentou achar alguma desculpa.
- Estudar geometria? - zombei. - Tipo isso - ela disse rindo e saiu puxando seu namorado fofo pela mão.
- Nós já não nos formamos no Ensino Médio? - Thomas zombou. Levou um beliscão e apenas escutei o riso enquanto subiam as escadas. Ficamos somente Mike e eu. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e o olhei de rabo de olho.Mesmo não tendo um grama de timidez no meu corpo, depois da noite anterior eu estava um pouco constrangida. Por quê? Eu não fazia a mínima ideia. Era estranho admitir que Mike despertava desejos muito primitivos em mim. Eu o queria com uma intensidade muito doida. Ele enjaulou meu corpo contra o balcão da cozinha e abaixou o rosto, mergulhando no vão do meu pescoço, que estava recoberto pelos meus cabelos desgrenhados.
- Oi - disse baixinho, mas audível o suficiente para que eu o escutasse.
- Oi... - retruquei e deixei que meus dedos acariciassem suas costas fortes, por cima da camisa xadrez que ele vestia.
- Sabe o que eu queria ter feito ontem? - ele disse, agora com a boca colada ao meu ouvido. Senti arrepios por todo o meu corpo.
- Na-não...
- Queria ter sequestrado você a noite toda. Ter ficado contigo no meu quarto. Ter acordado com você ao meu lado - falou e beijou meu pescoço. Ai, carambolas. Eu morreria ali, derretida como uma geleca dessas com que as crianças adoram brincar. Porque, se Mike continuasse a tortura e colocasse as mãos em mim, eu juro que ele seria capaz de me colocar no formato que quisesse.
- Jura?
- Sim.
- E se eu disser que eu teria sido uma refém obediente? Você acreditaria? - brinquei. Mike levantou o rosto e seus olhos azuis pareciam dois faróis cheios de puro desejo. O que eu faria com aquilo? O que eu faria? Espera? Quem era aquele ser patético que assumiu meu corpo e não sabia tomar as rédeas do momento? Eu não poderia ser essa garota descabida que não sabia o que fazer... eu poderia muito bem pesquisar. Dar uma olhada no Google, ler alguns romances hot , talvez sentir um pouco da vibe Abbi Glines ou Colleen Hoover, sei lá... Jennifer L. Armentrout. Isso. Ela tinha uns casais bem fofos e instigantes, com cenas envolventes e tudo mais. Eu poderia dar uma lida e me inspirar para o próximo passo. Céus... eu estava divagando loucamente.
- Sunny?
- Hummm?
- Você viajou para algum planeta agora? - Mike perguntou e o cantinho de seus olhos estava enrugado. O riso estava impresso ali.
- Hum... acho que sim. Fui longe - admiti.
- Posso saber aonde seus pensamentos foram? - perguntou e passou as mãos pelo meu rosto.
- Acho melhor não - respondi rindo.
- Sério?
- Muito sério.
- Okay. - Mike me abraçou fortemente e aspirou o cheiro dos meus cabelos. Credo. Eu esperava que não estivessem podres. Ah, ainda bem que os tinha lavado assim que acordei.
- Quer dar uma volta?
- Com você? - perguntei e beijei seu queixo.
- Com quem mais seria?
- Com você, sempre.
- Então vamos lá.

MIKE
Ver Sunshine no dia seguinte foi como um bálsamo. Não tenho como negar que a noite havia sido uma merda grandiosa. Bom, o restante dela, claro. Depois que a deixei em casa, voltei para o meu quarto e simplesmente me revirei entre os lençóis, os mesmos que ainda guardavam o cheiro único que somente Sunshine desprendia.Eu estava obcecado por aquela garota. Nem ela sabia a dimensão da minha paixão por ela. E eu precisava admitir que nem mesmo eu sabia a forma que aquele sentimento poderia assumir a partir dali. Eu só sabia que sentia a necessidade de tê-la por perto, sempre que pudesse. Eu achava que passar os momentos afastados, sendo que precisava aproveitar os minutos que teríamos juntos, era um martírio, então até mesmo os programas que poderia fazer com Thomas ficavam relegados apenas ao que fazíamos durante a semana, no campus da faculdade.Nos finais de semana, quando voltávamos para Westwood, eu era somente e totalmente de Sunshine Walker.

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